Um dia depois de o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, aumentar em 0,5 ponto percentual a taxa de juros, os BCs do Reino Unido, da União Europeia e da Suíça decidiram nesta quinta-feira, 15 de dezembro, seguir o Fed e elevar os juros no mesmo índice, de 0,5 ponto percentual.

Os anúncios na Europa, quase simultâneos, revelam uma mesma estratégia nas maiores economias ocidentais para combater a inflação e permitem prever um cenário de baixo crescimento para 2023, com inflação ainda persistente acompanhada de novos aumentos de juros.

A diferença entre os índices inflacionários e das taxas de juros entre esses países, porém, expõe as dificuldades que os BCs terão pela frente. O cenário mais desafiador é o do Reino Unido. O Banco da Inglaterra, o BC britânico, elevou os juros para 3,5%, o nono aumento consecutivo.

A taxa britânica é a mais alta no país em 14 anos – mas, curiosamente, o índice atual é baixo, se comparado à taxa média entre 4,25% e 4,25% nos EUA. A economia britânica, no entanto, está em situação mais delicada. A inflação anual, que em outubro atingiu 11% (o maior índice em quatro décadas), recuou para 10,7% em novembro.

Mesmo assim, a decisão de aumentar os juros em 0,5% não foi unânime. Um dos conselheiros sugeriu aumentar os juros em 0,75%, índice aprovado na reunião anterior, há seis semanas.

O BC britânico deve manter os juros elevados até a taxa de inflação atingir 2%. Para Francisco Nobre, economista da XP, a diminuição na velocidade do aperto refletiu a melhora na estabilidade e previsibilidade política no Reino Unido.

Ele observa que na última reunião do Banco da Inglaterra as autoridades estavam sob pressão para restaurar a confiança na gestão econômica britânica devido à instabilidade causada pela “mini” proposta de orçamento e sua reversão após a mudança na chefia de governo – o país teve três primeiros-ministros este ano.

O primeiro-ministro Rishi Sunak assumiu em outubro e anunciou um pacote de 55 bilhões de libras para reduzir o déficit púbico, aumentar os impostos e reorganizar a economia do país.

“Depois que Sunak anunciou o novo plano econômico, com um caminho mais ortodoxo para a política fiscal, houve uma melhora considerável na clareza e estabilidade na frente política”, afirma Nobre. Ele acrescenta que a redução do ritmo de aperto do Fed, anunciado no dia anterior, também aliviou as pressões por uma ação mais agressiva.

A situação, porém, está longe de melhorar no Reino Unido. Nesta quinta-feira, enfermeiros de Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales iniciaram greve de 12 horas para cobrar do governo britânico um reajuste salarial com ganho real. Desde o começo do mês, trabalhadores das áreas de saúde, transportes e controle de fronteiras também fizeram paralisações ou aprovaram indicativos de greve.

O Banco da Inglaterra espera uma contração de 0,1% no PIB britânico no último trimestre de 2022, o que colocaria a economia do Reino Unido oficialmente em recessão após uma contração de 0,2% no terceiro trimestre. A recessão deve durar até 2023.

Mais juros

Já o Banco Central Europeu, que aumentou a taxa básica juros de 1,5% para 2% – o nível mais alto desde 2009 – advertiu em comunicado que espera “aumentar as taxas significativamente mais, porque a inflação continua muito alta e deve ficar muito tempo acima da meta”.

Os investidores esperam que BC europeu aumente as taxas mais do que o Fed nos próximos 12 meses, já que a inflação se mostra mais rígida na Europa. Na zona do euro, a inflação caiu para 10% em novembro, depois de um recorde de 10,6% em outubro. Nos Estado Unidos, caiu de 7,7% em outubro para 7,1% em novembro.

Com o frio do inverno atingindo grande parte da Europa, a trajetória dos preços da gasolina e dos alimentos pode subir, mantendo a inflação alta por mais tempo.

O crescimento real do PIB do bloco europeu é projetado para fechar 2022 em 3,3%. Para o ano que vem, deve avançar apenas 0,5%, devido à guerra da Ucrânia, ao aperto da política monetária e à desaceleração global.

O aumento da taxa de juros na Suíça, de 0,5 ponto percentual, anunciado pelo BC do país, chamou a atenção pela situação menos dramática da economia suíça em relação aos vizinhos da União Europeia e Reino Unido.]

A taxa de inflação do país foi de apenas 3% em novembro, abaixo dos 3,5% em agosto. Mas as autoridades monetárias sinalizaram que poderão aumentar os juros novamente.
O argumento é que a inflação provavelmente permanecerá elevada, acima da meta estabelecida, entre 0 e 2%.