Na contagem regressiva para o 2º turno da eleição no Brasil, as incertezas que cercam a política fiscal do próximo governo preocupam, mas não travam a releitura do cenário macroeconômico para 2022 e 2023. E o saldo é positivo.

De uma cesta de indicadores domésticos, a maioria está no freezer. Projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), Selic e câmbio seguem inalteradas nos dois maiores bancos privados do País. Quem sofre ajuste é a inflação. E para melhor.

Itaú e Bradesco acabam de divulgar relatórios mensais de avaliação e previsões para a economia e tiram a inflação projetada para este ano do patamar de 6% para 5% e até para menos em 2023. O Itaú aponta IPCA em alta de 5,5% e o Bradesco de 5,7% para 2022. As estimativas para 2023 são de, respectivamente, 5% e 4,9%.

Na área fiscal, apesar da inquietação do mercado quanto ao futuro arcabouço a ser adotado no próximo governo, as duas instituições projetam superávit primário em 2022 e déficits modestos em 2023. O indicador Dívida Bruta em proporção do PIB, que neste ano deve rondar 78%, deverá alcançar cerca de 82,5% no próximo.

Itaú e Bradesco – detentores de robustos pesquisas de dados – apontam atividade forte em 2022 e desaceleração em 2023; Selic em baixa no ano que vem, mas distante de um dígito; e câmbio praticamente cristalizado, mas com viés de desvalorização do real ante o dólar.

Para o PIB deste ano, Itaú e Bradesco esperam 2,5% e 2,7% respectivamente. Para 2023, ambos cravam expansão de 0,5% e com a economia sob pressão de um ambiente internacional recessivo e de inflação resistente nas principais economias.

O Itaú pondera que os primeiros dados oficiais do terceiro trimestre corroboram a perspectiva de desaceleração da atividade, em linha com o indicador proprietário e diário da instituição – IDAT-Atividade. Em setembro, o IDAT-Atividade recuou 2,7%, com uma queda nos segmentos de Bens e Serviços. O IDAT-Bens declinou 2,4% e o IDAT-Serviços, 3,1%.

“A desaceleração deve se manter em 2023, diante do menor crescimento global, redução dos preços das commodities, efeitos da política monetária, fim do processo de reabertura da economia, dissipação das medidas de estímulo e aumento da taxa de desemprego”, afirma Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú em trecho do relatório.p

No Bradesco, indicadores proprietários vão na mesma direção de arrefecimento da atividade, em especial no setor varejista, neste terceiro trimestre, informa o Fernando Honorato, economista-chefe da instituição, também em um trecho do relatório.

Honorato destaca, porém, a ocorrência de efeitos positivos do aumento de renda disponível por expansão do mercado de trabalho evidenciada neste ano, transferências governamentais, deflações do IPCA e concessões de crédito que seguem fortes, mesmo em leve declínio.

Para o economista, o mercado de trabalho ainda reforçará o consumo das famílias em 2023. Entretanto, pontua, os juros altos e a desaceleração global mais intensa apontam para outra direção – a do desaquecimento da atividade local. Mas a inflação doméstica em queda é ponto a favor da atividade, uma vez que poderá dar maior conforto para que o Banco Central (BC) reduza a taxa de juro no ano que vem.

Na avaliação das duas instituições, a taxa Selic permanece inalterada em 13,75% até o primeiro semestre de 2023 e chegará a 11% em dezembro, na avaliação do Itaú, e a 11,75%, segundo o Bradesco.

As taxas de câmbio projetadas também seguem inalteradas. O Itaú estima R$ 5,25 para 2022 e R$ 5,50 para 2023, enquanto o Bradesco trabalha com R$ 5,25 ao final deste ano e do próximo.

Mesquita observa, no relatório macro divulgado na quinta-feira, 6 de outubro, que o real historicamente acompanha movimentos globais de valorização do dólar. Descolamentos são temporários e raros, pontua.

Nesse momento, há um descolamento, afirma o economista-chefe do Itaú, pela Selic mais alta e revisões positivas de crescimento ao longo do ano. Entretanto, ele reconhece que o aperto das condições financeiras e o dólar mais apreciado no câmbio internacional são “riscos altistas para as projeções”.

Quanto ao cenário externo, Itaú e Bradesco alertam para a intensificação dos riscos a um cenário mais benigno. O Bradesco trabalha com perspectiva de expansão do PIB mundial de 2,6% em 2022 e de 2,3% em 2023. O Itaú prevê crescimento global de 2,8% este ano e de 1,8% no próximo.

As duas instituições veem o Federal Reserve (Fed) prosseguindo com o aperto monetário até o início de 2023. E tanto Itaú quanto o Bradesco projetam taxa básica terminal nos EUA no intervalo de 4,75% a 5% com a economia norte-americana sujeita a recessão nos próximos trimestres.

Apesar das incertezas domésticas quanto à política econômica e, sobretudo a política fiscal, que estarão valendo a partir de 1º de janeiro de 2023, os maiores bancos privados brasileiros têm clareza quanto às condições negativas que o ambiente externo vai oferecer.

E Fernando Honorato descreve o combo: “Aperto monetário de maior magnitude e duração nas economias desenvolvidas, escalada do conflito no Leste Europeu, expectativa de recessão à frente e maior volatilidade dos ativos.”