Com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) fazendo tudo o que é possível para combater a inflação, a China impondo duros lockdowns para combater a Covid-19 e a Europa enfrentando uma grave crise energética, os economistas tentam projetar o que será da economia global em 2023. 

As incertezas estão por toda a parte, inclusive na equipe econômica do J.P. Morgan. Ainda que o cenário base do banco americano projete que o mundo não corre o risco iminente de uma recessão e que a inflação começará a desacelerar, a probabilidade dessas previsões se concretizarem não é alta - está na casa dos 32%. 

Para os analistas Bruce Kasman, Joseph Lupton, Michael Hanson, Nora Szentivanyi e Bennett Parrish, a situação global ainda está repleta de muitas incertezas, incluindo a extensão do aperto monetário, a evolução da inflação, as condições do lado da oferta e a deterioração das condições financeiras. 

Por conta disso, junto com o cenário base, eles traçaram outros três cenários para a economia global em 2023. 

“O evento dominante incorporado nestes quatro cenários é que os Estados Unidos entram em uma recessão em algum momento antes do final de 2024”, diz um trecho do relatório. “Mas o momento desta quebra é altamente incerto, assim como o rumo da política do Fed e as reverberações para o resto do mundo.”

A partir destas premissas, o J.P. Morgan traçou as seguintes possibilidades:

Primeiro cenário – 32% de chance

No cenário base do J.P. Morgan, os Estados Unidos enfrentarão uma recessão moderada no final de 2023, diante da deterioração do mercado de crédito e da valorização do dólar. Os efeitos das medidas de estímulo aos americanos desaparecem na metade do ano que vem, com o aperto monetário do Fed surtindo efeito. 

Por ser uma recessão moderada, o mundo continuará crescendo, mas a um ritmo mais lento, de cerca de 1,5%. “Uma recessão global será em parte evitada pelo alívio no aperto monetário do Fed em 2024, com o aumento da taxa de desemprego para 5% pressionando o núcleo da inflação para bem abaixo de 3%”, diz trecho do relatório. 

Segundo cenário – 28% de chance

Nesta projeção, o J.P. Morgan prevê uma pausa no aperto monetário pelo Fed e outros bancos centrais após o primeiro trimestre de 2023, diante de sinais de redução da intensidade da inflação. 

Mas a esperança por trás desta interrupção, de que o patamar em que os juros se encontram será suficiente para trazer a inflação a níveis confortáveis, não se concretiza, obrigando uma nova rodada de aperto monetário ao final de 2023. 

“Com a inflação alta incrustada, as taxas de juros precisarão subir substancialmente e as consequências de uma segunda rodada de altas agressivas resultarão numa profunda recessão em 2024”, diz trecho do relatório. 

Terceiro cenário – 20% de chance

Apesar de muitas vezes ridicularizado como “desinflação imaculada”, os analistas do J.P. Morgan dizem que não é possível descartar a possibilidade de a desaceleração do crescimento neste ano e no próximo, combinado com o fim de fatores transitórios que afetam a inflação, serem suficientes para empurrar a inflação para o patamar de 2%, sem afetar os mercados de trabalho. 

Nesse cenário, com as preocupações quanto à inflação arrefecendo e o crescimento econômico em patamares baixos, os bancos centrais começariam a normalizar suas políticas ao final de 2023. “Tal resultado criaria as bases para uma expansão global generalizada”.

Quarto cenário – 20% de chance

Embora considerem que existem elementos suficientes para descartar uma recessão global no começo de 2023, os economistas do J.P. Morgan alertam que também seria um erro ignorar os riscos associados ao aperto das condições financeiras e um enfraquecimento na Europa e na China. 

Eles veem um risco muito baixo de os Estados Unidos entrarem em recessão junto com a Europa, de cerca de 20%, nos próximos seis meses. Mas se esse cenário se concretizar, o Fed interrompe a alta dos juros antes de alcançar 5% e começará a aliviar as condições, ao ver que a deterioração do mercado de trabalho e o fim dos impactos pelo lado da oferta empurrarão a inflação para baixo.