Na quinta-feira, 10 de novembro, declarações dadas um dia antes pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva reforçaram o sinal de alerta sobre um possível desequilíbrio fiscal no novo governo e desencadearam uma forte reação no mercado. O dólar disparou e o Ibovespa recuou, entre outros indicadores.
Já no dia seguinte, quem engrossou esse coro foi Henrique Meirelles, um dos nomes cotados para o posto de ministro da Fazenda. Em evento do BTG Pactual, ele disse que o novo governo dava sinais de que seria muito mais próximo da gestão da ex-presidente Dilma Roussef do que os dois primeiros mandatos de Lula.
Nesta quarta-feira, 16 de novembro, Meirelles voltou a se manifestar no CEO Forum, evento do Bradesco BBI, em Nova York. O tom adotado, porém, foi diferente e veio embalado justamente em sua experiência como presidente do Banco Central durante os oito anos em que Lula governo, pela primeira vez, o País.
“Nesse período, Lula teve um governo bastante austero e com muita responsabilidade fiscal”, afirmou Meirelles. Ele também falou sobre sua expectativa de que essa postura guie a nova gestão. “Em resumo, espero que ele faça o que é correto e necessário, e que já funcionou no passado.”
Nessa direção, ele ressaltou, entre outros pontos, a necessidade de se investir em uma política social, mas que não se restrinja a um repasse de renda e se estenda, principalmente, a medidas de geração real de empregos.
“O que fez a diferença naquela época é que 40 milhões de brasileiros saíram da pobreza e 11 milhões de empregos foram criados”, observou. “E acredito que a situação era um pouco mais difícil, por conta da dívida externa e pelo fato do baixo nível de reservas internacionais.”
Ao “vender”, de certa forma, uma imagem mais condizente e positiva de Lula em relação às expectativas do mercado, Meirelles encontrou uma justificativa para as declarações recentes que mexeram com o humor dos investidores.
“Minha leitura é que ele ainda está sob a energia da campanha”, disse o economista, que também ocupou o cargo de ministro da Fazenda no governo de Michel Temer, entre 2016 e 2018. “Com o tempo, ele vai se acalmar e adotar um discurso mais adequado ao cargo.”
A indefinição sobre o nome que estará à frente do ministério da Fazenda a partir de 2023 - outro fator que vem ampliando a desconfiança sobre o novo governo - também não é visto como um grande problema em sua visão.
“Não é algo incomum o tempo que ele está levando para anunciar uma equipe tão crítica como essa. Esse anúncio não está atrasado”, disse. “O país está muito polarizado e acredito que ele quer priorizar as decisões pequenas primeiro e não criar, agora, uma guerra sobre esse ministério.”
Independentemente de quem for escolhido para a pasta, Meirelles entende que há espaço para que o novo governo ultrapasse o teto de gastos, em 2023, para acomodar o volume adicional de recursos para iniciativas como o Bolsa Família. Desde que volte ao equilíbrio em 2024 e corte despesas desnecessárias.
“É preciso cortar um pouco da gordura do estado e, talvez, alguns subsídios tributários que já não se justificam. Nós fizemos isso em São Paulo e, com o tempo, o orçamento entrou no eixo”, afirmou, fazendo uma referência ao seu período como secretário estadual da Fazenda durante a gestão do ex-governador João Doria, a partir de dezembro de 2018.
Quando questionado sobre o que é possível fazer para ampliar a arrecadação do governo, Meirelles também falou fez menção sobre propostas feitas por ele em seu período como secretário em São Paulo, na direção da simplificação e unificação de impostos.
“É preciso endereçar essa questão, a complexidade dos impostos, a burocracia”, destacou. “Se houver mais transparência nesse sentido, é mais fácil ampliar a arrecadação.”