O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quinta-feira, 23 de fevereiro, que pretende nomear o americano de origem indiana Ajay Banga como presidente do Banco Mundial.

A missão de Banga, que foi CEO da Mastercard entre 2010 e 2020 – marcando sua gestão como um defensor da inclusão financeira mundial -, será conduzir a maior mudança da instituição multilateral em uma geração, com foco em projetos sociais e investimentos voltados para combater o aquecimento global.

Como o maior acionista do Banco Mundial, os Estados Unidos normalmente escolhem o líder da instituição, embora necessitem do apoio das outras nações acionistas do banco - China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido.

Na véspera, o conselho do Banco Mundial disse que começaria a aceitar indicados antes de entrevistar uma lista restrita de candidatos, com o objetivo de selecionar um novo líder até o início de maio.

“Ajay está preparado para liderar o Banco Mundial neste momento crítico da história”, disse Biden em um comunicado. “Ele passou mais de três décadas construindo e gerenciando empresas globais bem-sucedidas, que criam empregos e trazem investimentos para economias em desenvolvimento.”

Se confirmado, Banga sucederá ao americano David Malpass, que anunciou na semana passada que deixaria o cargo em 30 de junho, após enfrentar meses de fritura.

Nomeado pelo ex-presidente Donald Trump, Malpass passou a entrar na mira dos críticos em setembro de 2022, durante uma conferência, na qual se recusou a dizer se acreditava na mudança climática causada pelo homem.

“Eu não sou um cientista”, disse ele. Mais tarde, Malpass alegou que foi “mal interpretado”.
Em meados de outubro, 10 países – o G7 mais Austrália, Holanda e Suíça – enviaram um documento ao Banco Mundial instando-o a “atualizar sua visão” e alinhar-se com as metas do Acordo de Paris para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa.

Pressionado, Malpass decidiu pela renúncia, embora seu mandato fosse até 2024.

“Quociente de decência”

A escolha de Biden surpreendeu porque as pressões eram para a nomeação de uma mulher para a presidência do Banco Mundial, o que seria inédito na instituição multilateral.

Banga, de 63 anos, tem porém o currículo adequado para reformular o órgão. Nascido e criado na Índia, mas naturalizado americano, ele teve uma passagem revolucionária pela Mastercard, após 14 anos no Citigroup.

Como principal executivo da empresa de pagamentos, aumentou em mais de 13 vezes a capitalização de mercado da Mastercard. Sob o seu comando, a empresa evoluiu de um negócio predominantemente baseado em cartões para uma oferta que inclui uma variedade de tecnologias de pagamento.

Outra faceta mostrada foi a defesa da inclusão financeira global no modelo de negócios, o que o levou a ser considerado um dos ícones do movimento conhecido como capitalismo consciente. Durante sua gestão, a Mastercard incluiu mais de 400 milhões de pessoas no sistema financeiro.

“Nenhum de nós deve crescer e prosperar se a comunidade ao redor não prosperar também. Isso sim é capitalismo consciente”, disse Banga em 2019, quando veio ao Brasil participar de uma palestra pela Mastercard.

No evento, o executivo lembrou que, quando criança, o mais importante para ter sucesso na vida e na carreira era ter um QI (quociente de inteligência). Com o passar dos anos, acrescentou um novo atributo, o quociente emocional.

“Há um terceiro, o quociente de decência”, emendou, mostrando como conseguiu engajar a Mastercard em projetos sociais em várias partes do mundo, visando sempre a inclusão financeira e o desenvolvimento de populações carentes, além de parcerias com fintechs.

Banga também esteve entre dezenas de executivos que pediram aos governos em uma carta aberta que façam mais para reduzir as emissões antes da cúpula do clima COP26, em 2021, quando já estava na General Atlantic, gestora de private equity dos Estados Unidos, onde atua até hoje como vice-presidente.