Os ativos argentinos dispararam após a vitória da coalizão de Javier Milei (La Libertad Avanza) nas eleições legislativas de meio de mandato, com investidores precificando a continuidade da agenda pró-mercado no país dos hermanos.

Antes da abertura do mercado em Nova York, papéis argentinos negociados nos EUA avançam em bloco, e o ETF Global X MSCI Argentina (ARGT) sobe mais de 10% no pré-market, em um claro movimento de entusiasmo para as companhias argentinas, em especial bancos e o setor de energia.

A plataforma de Milei na campanha foi para um “mandato para uma revolução em prol do livre mercado” e a vitória de seu partido no Congresso dá a ele gordura parlamentar e, por consequência, poder de barganha para realizar privatizações, desregulação e ajustes fiscais. Na avaliação do mercado, o ganho de tração legislativa reduz o risco de paralisia e melhora a simetria para ativos de risco.

Logo após a confirmação da vitória, as ações argentinas listadas nos Estados Unidos chegaram a subir até 17% no pregão noturno pré-mercado. A estatal YPF, maior produtora de petróleo do país, por exemplo, chegou a saltar 12%, enquanto o Banco Supervielle subiu 15,1%.

Nas bolsas do Banco Nación, a cotação do dólar oficial na manhã desta segunda-feira era de 1.515 pesos por dólar, dentro da faixa determinada pelo governo que é de 1.400 e 1.500 pesos.

Os títulos do tesouro cotados em dólar também estão em rali, com as notas de 2035 subindo mais de 13 centavos, sendo negociadas a um recorde de 70,34 centavos por dólar, de acordo com dados indicativos compilados pela Bloomberg. Os títulos do país lideraram os ganhos entre os pares de mercados emergentes.

Parte da empolgação foi pela vitória ampla. Com mais de 90% dos votos apurados, o partido de Milei obteve 41% dos votos, conquistando 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara dos Deputados e 13 das 24 vagas abertas no Senado, de acordo com dados publicados pelas autoridades eleitorais locais na noite de domingo. Os mercados previam que a coalizão governista conquistaria cerca de 30% das cadeiras.

O “Milei trade” já havia destravado valor desde 2023 quando ele assumiu a presidência. Mas o mercado entende que desta vez será diferente, já que aritmética política ficou mais favorável para a segunda perna das reformas (fiscal, regulatória e de abertura econômica), o que tende a encurtar o prêmio de risco e alongar a duração do rali — ainda que com volatilidade elevada.

O otimismo do mercado se ancora na expectativa de avanço legislativo das reformas; alívio de percepção sobre estatização/intervenção, com a pauta de privatizações de volta ao radar; e a reprecificação dos ativos locais via canal de ADRs/ETFs.

No entanto, como será a sequência dos ajustes e ainda a fragilidade do mercado de câmbio são fatores que levarão a volatilidade dos ativos. O apetite de risco de curto prazo convive com a necessidade de entrega no Congresso e calibragem de timing das reformas para sustentar múltiplos mais altos adiante.

Os resultados também devem reduzir as dúvidas sobre a continuidade do apoio dos Estados Unidos à Argentina. Antes da votação, o governo Trump firmou uma linha de swap de US$ 20 bilhões com o Banco Central argentino para conter a volatilidade do peso e negociava, com um consórcio de bancos, um pacote adicional de financiamento de outros US$ 20 bilhões.

Trump já havia sinalizado que poderia retirar esse suporte caso a agenda de Milei fosse derrotada. “Se ele vencer, ficamos com ele. Se não vencer, estamos fora.”