Os papéis de crédito da Ambipar e da Braskem passaram por uma forte desvalorização no mercado nas últimas semanas, em meio à preocupação de investidores com o risco de as companhias não conseguirem honrar suas dívidas.

As debêntures da Ambipar vêm sendo negociadas com desconto de cerca de 82%, enquanto os títulos da Braskem de aproximadamente 55%, refletindo a desconfiança do mercado em torno da saúde financeira das duas empresas.

“Esses eventos foram muito negativos nos preços destes papéis e podem, eventualmente, contaminar outros ativos de crédito brasileiros”, alertou a gestora Ibiuna Investimentos em carta mensal a investidores, afirmando estar com posição em caixa acima do histórico.

O último movimento relevante de contaminação ocorreu em 2023, quando Americanas e Light entraram em recuperação judicial. Naquele período, muitas gestoras tinham exposição aos papéis dessas empresas, o que prejudicou as cotas, provocou resgates e, consequentemente, gerou um efeito dominó, já que os gestores aceitaram vender seus títulos com desconto para devolver o dinheiro aos cotistas.

Embora venha monitorando o risco dentro de casa, Leonardo Ono, economista-chefe da Legacy, afirma que o caso da Ambipar e da Braskem é diferente, já que, desta vez, os riscos estavam mais mapeados.

“A Ambipar estava com uma dívida crescente, vinha de 700% de alta na bolsa sem ninguém entender o motivo. Já a Americanas era controlada pelo 3G, que era um dos grupos mais admirados”, diz Ono.

Essa desconfiança, segundo ele, contribuiu para que a exposição dos gestores locais a esses papéis fosse mais baixa, com parte relevante dessa dívida sendo destinada ao mercado internacional. “A Ambipar tinha trocado muitas debêntures por bonds e quem acessava a Braskem, primordialmente, era o credor externo.”

Um levantamento do NeoFeed apontou que 36 fundos possuem exposição direta aos títulos da Ambipar, enquanto outros 365 têm exposição indireta ao risco de crédito da companhia.

Embora veja a crise como controlada no mercado de crédito, Ono aponta que, caso novos nomes relevantes enfrentem problemas de liquidez, há o risco de uma maior aversão ao risco provocar novos pedidos de resgate, levando à abertura dos spreads e, consequentemente, à queda das cotas dos fundos.

“É o poder acumulativo. Se aparecerem mais dois, três casos, depois de Braskem e Ambipar, pode haver contaminação [para outros papéis].”

A possibilidade de um risco sistêmico vindo de Ambipar e Braskem também foi amenizada por Jean-Pierre Cote Gil, head de crédito da Vinland Capital, e Luís Leal, economista-chefe da G5 Partners, que apontaram como principal razão a menor exposição dos fundos brasileiros a esses papéis.

“Ao contrário do caso das Americanas, o mercado já via problema nessas empresas. A Ambipar já estava muito alavancada e a Braskem com brigas internas. Então, o impacto não deve ser de forma nenhuma igual ao que vimos em 2023”, afirma Leal. Já Pierre afirmou que os casos estressados “não estão às escuras” e estão sendo bem precificados pelo mercado.

Apesar do menor risco associado à Ambipar e Braskem, Gil afirma que o momento é de extrema cautela no mercado de crédito. Para o gestor, os atuais riscos macroeconômicos ainda não estão refletidos nos preços, que, segundo ele, seguem inflados pelo forte fluxo de recursos para essa classe de ativos.

“Embora a gente ache que grande parte do problema esteja mapeado, não quer dizer que o cenário não é difícil. Mesmo para quem vai bem, deveria-se cobrar mais prêmio — não é o que o mercado está fazendo. É uma questão de fluxo”, afirma Jean-Pierre Cote Gil, da Vinland Capital, que tem mantido entre 30% e 25% de caixa em seus fundos para se proteger de uma eventual abertura de spread. Sua avaliação é de que o mercado está em um dos momentos de maior cautela na esteira de crédito.

A visão é semelhante à de Ono, da Legacy, que acredita que o momento é de evitar exposição a risco, especialmente a emissores menores e mais sensíveis ao ciclo econômico.

“Não é hora de tomar mais risco no mercado de crédito. É hora de tomar menos risco. A gente aqui na Legacy não tem nenhuma vontade de emprestar dinheiro para pequena e média empresa neste momento”, diz Ono. “Também não temos vontade de fazer nada no agro e estamos evitando os mais cíclicos, que sofrem mais com juros altos e desaceleração.”

Leal conta que a G5 também tem pisado no freio do crédito mais arriscado. “Já estávamos com ressalva. Hoje, sem garantia, fica muito difícil dar crédito”, afirma o economista. Com a economia dando sinais de arrefecimento, ele acredita que pode haver mais problemas de liquidez no mercado.

“As empresas conseguiram se equilibrar até aqui, apesar do custo financeiro mais alto. A grande questão é agora, com a economia desacelerando, se isso não pode gerar novos casos de dificuldade.”