Os programas de transferência de renda dos últimos meses do governo federal, como Auxílio Brasil, e incentivos fiscais, como o vale gás, não foram suficientes para melhorar a perspectiva de aumento de consumo das famílias de renda mais baixa para os próximos seis meses.

É o que indica o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de novembro, divulgado nesta quinta-feira, 24 de novembro, pelo Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE). O ICC de todas as faixas de renda caiu em média 3,3 pontos, para 85,3 pontos, em relação ao mês anterior.

Trata-se do menor nível de confiança desde agosto (83,6 pontos), sendo que a confiança dos consumidores caiu pelo segundo mês consecutivo. O pessimismo é muito maior entre as famílias mais pobres, com queda de 10,1 pontos no ICC em relação a outubro.

“Passado o efeito das transferências de renda, os consumidores de baixa renda voltam a se sentir menos satisfeitos sobre a situação financeira familiar e revisar suas expectativas para baixo nos próximos meses”, afirma Viviane Seda, Coordenadora das Sondagens do FGV Ibre.

O Índice de Confiança do Consumidor divide as faixas de renda familiar em quatro categorias: até R$ 2.100 (queda de 10,1 pontos em relação a outubro); entre R$ 2.100,01 e R$ 4.800 (queda de 4,8 pontos); entre R$ 4.800,01 e R$ 9.600 (-2,2 pontos); e acima de R$ 9.600 (+0,7).

Pelos padrões do ICC, o índice de neutralidade é de 100 pontos – abaixo disso, expõe o pessimismo do consumidor; acima, otimismo. Segundo Seda, o índice elevado de desconfiança entre os mais pobres era esperado.

“Apesar do alívio que veio com a transferência de renda dos programas de auxílio, havia expectativa de uma queda de confiança nessa faixa salarial por causa da situação macroeconômica, com taxas de juros altas, que dificultam a renegociação de dívidas”, afirma.

O governo federal aumentou o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 em agosto. Naquele mês, as 20,65 milhões famílias beneficiárias chegaram a receber R$ 710, somando os R$ 600 do auxílio mais R$ 110 de vale gás, pago a cada dois meses. O pagamento do benefício vai até dezembro.

De acordo com Seda, nem a perspectiva de o novo governo prometer manter e até ampliar o auxílio conseguiu reverter o pessimismo. “Os consumidores dessa faixa perceberam que a crise, com inflação e juros altos, vai continuar no ano que vem”, diz.

Para a coordenadora do FGV Ibre, mesmo com uma queda das perspectivas sobre a inflação e um efeito ainda positivo no mercado de trabalho, houve um aumento médio do pessimismo em novembro (- 5,6 pontos) sobre as finanças familiares nos próximos seis meses na maioria das faixas salariais pesquisadas pelo ICC.

Após três meses de alta, o Índice de Situação Atual (ISA) caiu 3,7 pontos, para 70,8 pontos, o menor nível desde julho de 2022 (70,3 pontos).

“É possível que ainda exista algum espaço para o consumo pelas famílias de maior poder aquisitivo, mas dada as atuais condições da nossa economia, sua sustentação nos próximos meses acaba sendo uma tarefa difícil”, afirma.

Seda não vê contradição entre esse pessimismo generalizado dos consumidores em comparação com a euforia do comércio com a Black Friday.

“O otimismo do comércio tem como base de comparação os dois anos anteriores, que foram muito ruins por causa da pandemia”, diz. “A percepção é que este ano será melhor, mas apenas a faixa de renda mais alta, que conseguiu guardar dinheiro, deve consumir mais na Black Friday.”