O ritmo e a duração do aperto monetário sendo conduzido pelo Fed, o banco central dos Estados Unidos, e outros grandes bancos centrais do mundo têm sido o principal assunto dos economistas e investidores, que tentam entender até quando as autoridades monetárias vão elevar os juros e quais indicadores considerarão em suas decisões.
Mas Ray Dalio, cofundador e CIO do Bridgewater Associates, um dos maiores fundos globais de hedge, com US$ 150 bilhões sob gestão, está olhando mais adiante. Mais precisamente, para o ano de 2024, quando ele entende que o Fed e seus pares terão de cortar as taxas de juros para combater uma estagflação que se avizinha.
Para ele, a combinação de baixo crescimento e inflação acelerada vai machucar tanto a economia americana e dos outros países que os bancos centrais terão de cortar os juros daqui a dois anos, coincidindo com as eleições presidenciais dos Estados Unidos.
“Acreditamos que estamos em um modo de aperto [monetário] que pode causar correções ou quedas em vários ativos financeiros”, disse ele em entrevista ao jornal australiano The Australian Financial Review. “A dor disso se tornará muito grande e vai forçar os bancos centrais a aliviar novamente [a política monetária], provavelmente perto da próxima eleição presidencial, em 2024.”
As declarações de Dalio ocorrem em meio a uma tempestade inflacionária perfeita que atinge o mundo, puxada pela quebra das cadeias de fornecimento, em função da pandemia, a guerra da Rússia contra a Ucrânia, que afetou o preço do petróleo e dos grãos, e a demanda reprimida por parte dos consumidores.
Depois de manter os juros em patamares historicamente baixos para lidar com os efeitos da Covid-19, o Fed começou a elevar os juros neste ano. Já realizou dois ajustes e deve elevar outras duas vezes nas reuniões de junho e julho para combater a inflação do país, que atingiu o maior patamar em 40 anos. Em abril, a alta registrada foi de 8,3%.
Para o gestor, dificilmente as autoridades monetárias vão conseguir controlar a inflação. “É uma situação de inflação estrutural, que vai produzir estagflação”, afirmou.
Essa não é a primeira vez que Dalio faz um alerta a respeito da inflação e do trabalho dos bancos centrais. No começo do ano, em um post no LinkedIn, ele afirmou que a impressão de dinheiro e a compra de ativos de dívida pelas autoridades monetárias baixou tanto as taxas de juros que “é estúpido possuir moedas e títulos”.
“Acho que se deve considerar desfazer de moedas e títulos em dólares, euros e ienes”, disse ele, em outro trecho do post.
As preocupações de Dalio com estagflação encontram eco no Banco Mundial, que recentemente alertou que será “difícil evitar uma recessão”. Na terça-feira, 7 de junho, a instituição anunciou que reduziu sua projeção para o crescimento da economia global neste ano, de 4,1% para 2,9%.
Ao The Australian Financial Review, Dalio afirmou que está evitando ativos de renda fixa e investindo em ativos mais protegidos dos efeitos da inflação, como ações de empresas elétricas e commodities.