A Tesla, fabricante de veículos elétricos do bilionário americano Elon Musk, anunciou no domingo, 9 de abril, que vai abrir uma fábrica de baterias em Xangai, na China.
O movimento, que irá dobrar os investimentos da montadora no país asiático, vai na contramão da política dos Estados Unidos de tentar impedir a fabricação de componentes eletrônicos de alta tecnologia por empresas americanas, em especial semicondutores, na China.
A fábrica da Tesla vai produzir 10 mil megapacks por ano – como é chamado esse tipo de bateria muito grande, usada para armazenar grandes quantidades de eletricidade para ajudar a estabilizar as redes de energia. O total a ser produzido equivale a 40 GWh. A montadora iniciará a construção no terceiro trimestre deste ano e iniciará a produção no segundo trimestre de 2024.
As megapacks são projetadas para utilitários e projetos comerciais de grande escala, e não como bateria de veículos. A Tesla diz que cada unidade pode armazenar energia suficiente para abastecer uma média de 3.600 residências por uma hora. Os produtos serão vendidos em todo o mundo.
A China continua sendo um mercado importante para a Tesla. A montadora americana possui uma fábrica de automóveis nos arredores de Xangai, que produziu 711 mil carros no ano passado, ou 52% de sua produção mundial.
O anúncio da Tesla foi feito dias após a Airbus divulgar planos para dobrar sua capacidade de produção na China. A fabricante de aviões europeia adicionará uma segunda linha de montagem final para fuselagens estreitas do A320 em sua fábrica e em Tianjin. Em janeiro, a Panasonic já havia anunciado uma grande expansão de suas operações na China.
Os investimentos no sentido contrário – de indústrias multinacionais deixando o território chinês –, porém, são muito mais expressivos. E há razões econômicas e políticas para esse fluxo.
Entre 2013 e 2022, os salários da indústria na China dobraram, para uma média de US$ 8,27 por hora. Após o fim da pandemia, o número de empresas japonesas operando na China caiu de cerca de 13.600 para 12.700. Este ano, a Sony anunciou que planeja transferir a produção de câmeras da China para a Tailândia. Já a sul-coreana Samsung deverá cortar mais de dois terços de sua força de trabalho chinesa até 2024.
A maioria dessas empresas está migrando suas plantas chinesas para outros países da Ásia, como Taiwan, Filipinas, Indonésia, Singapura, Malásia, Tailândia, Vietnã, Camboja e Bangladesh, cujos trabalhadores recebem, em média, um terço do que os chineses.
Trunfos da Altasia
Essa cadeia de suprimentos asiática alternativa – batizada de Altasia – tem outros trunfos: população coletiva em idade produtiva de 1,4 bilhão de pessoas, bem superior aos 950 milhões da China. E a região já é uma potência exportadora: seus membros venderam US$ 634 bilhões em mercadorias para os EUA entre 2021 e 2022, superando os US$ 614 bilhões da China.
As taiwanesas Foxconn, Pegatron e Wistron, que montam gadgets para a Apple, antes com forte presença na China, estão investindo pesadamente em fábricas indianas. Espera-se que a parcela de iPhones fabricados na Índia aumente de cerca de um em 20 no ano passado para um em quatro até 2025.
A guerra comercial e tecnológica deflagrada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, contra a China, visando proibir a venda de componentes eletrônicos mais sofisticados alegando que eram usados para construir mísseis, foi apenas o último e decisivo golpe.
Os países da Ásia já respondem por mais de um quarto das exportações globais de circuitos integrados, superando facilmente os 18% da China. E essa liderança está crescendo.
A Qualcomm, uma fabricante americana de chips “fabless”, que vende designs de microprocessadores para outros fabricarem, abriu seu primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento no Vietnã em 2020. A Dell, uma fabricante americana de computadores, anunciou que pretende parar de usar chips fabricados na China até 2024.