A guerra tecnológica entre Estados Unidos e China já está impactando a geração de conhecimento e inovação em ambas as superpotências, representando uma ameaça de longo prazo ao crescimento em toda a Ásia.
O alerta foi feito na sexta-feira, 31 de março, pelo Banco Mundial, que divulgou um relatório de atualização econômica semestral para a região Ásia-Pacífico.
Com base em uma análise das tendências de patentes nos EUA e na China, o relatório afirma que as medidas pós-2018 tomadas pelos dois governos prejudicaram a inovação corporativa em ambos os países. Isso, por sua vez, ameaça minar décadas de crescimento econômico estável na região da Ásia-Pacífico.
“A migração de mercados abertos e integrados, regidos por regras comerciais previsíveis, em direção ao protecionismo, divisão comercial e escolhas politicamente influenciadas provoca incerteza e impede investimentos”, afirma o relatório.
De acordo com o Banco Mundial, a atual disputa entre EUA e China ameaça o esforço para diversificar as cadeias de suprimentos de manufatura e tecnologia fora da China, o que deu um impulso à Índia e aos países do sudeste da Ásia.
O relatório adverte que esse avanço recente em países da Ásia pode ser corroído por uma maior dissociação EUA-China, que está interrompendo os fluxos comerciais e aumentando os custos para as empresas, forçando-as a separar suas cadeias de suprimentos para evitar violar as restrições à exportação.
O alerta ocorre em meio à queda das relações EUA-China ao nível mais baixo desde que as nações normalizaram os laços diplomáticos, em 1979.
Semicondutores na mira
Depois da guerra comercial contra a China deflagrada em 2018 pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, seu sucessor Joe Biden adotou políticas ainda mais duras contra o país asiático, incluindo amplos controles de exportação destinados a cortar o acesso das empresas chinesas a tecnologias críticas, como semicondutores.
No mesmo dia que o Banco Mundial emitiu o alerta, o governo japonês anunciou que planeja impor restrições à exportação de 23 tipos de equipamentos usados para fabricar semicondutores.
De acordo com o ministro do Comércio do Japão, Yasutoshi Nishimura, os controles abrangeriam seis categorias de equipamentos usados na fabricação de chips, mas negou que o alvo das restrições seja a China.
No entanto, a imprensa americana havia divulgado em fevereiro que o governo Biden fechou um acordo secreto com Japão e Holanda para criar barreiras visando reduzir a capacidade da China de importar desses dois países equipamentos usados para produzir os tipos mais avançados de semicondutores.
O argumento americano é que a China usa semicondutores para construir mísseis e outros equipamentos militares. Além da Japão e Holanda, Taiwan e Coreia do Sul abrigam as maiores indústrias que alimentam a cadeia de suprimentos dos semicondutores.
Em fevereiro, Biden deu início a um programa previsto na Lei dos Chips, aprovada no ano passado, que prevê um investimento público de US$ 39 bilhões em incentivos para instalação de fábricas de chips, além de materiais e equipamentos da cadeia.
Como contrapartida para os incentivos, as empresas de semicondutores não poderão vender sua produção para a China.
A Samsung está construindo uma fábrica avançada de fabricação de chips de US$ 17 bilhões em Taylor, Texas, e no ano passado apresentou planos de potencialmente investir até US$ 200 bilhões em fábricas de chips no Texas.
A TSMC, a maior fabricante de semicondutores do mundo, sediada em Taiwan, anunciou projeto de US$ 40 bilhões para construir um complexo de chips avançados no Arizona.
Essas empresas enfrentam uma decisão difícil: aceitar a ajuda do governo americano para se expandir nos EUA ou preservar sua capacidade de exportar para a China.