Os Estados Unidos deverão enfrentar em 2023 uma recessão “superficial” ou “leve”, marcada por aumento da taxa de desemprego, elevação da taxa de juros no primeiro trimestre visando conter a inflação, com redução da demanda e da concessão de crédito bancário.

O cenário desenhado acima é resultado de um levantamento do The Wall Street Journal, divulgado na segunda-feira, 2 de janeiro, com economistas de 23 grandes instituições financeiras que lidam diretamente com o Federal Reserve, o banco central dos EUA.

Dois terços dos economistas consultados reforçaram sua expectativa de uma contração na economia americana este ano, sendo que dois deles previram que a recessão deve avançar também em 2024.

O diagnóstico foi feito com base no acompanhamento da inflação e da taxa de juros, entre outros indicadores, como o enfraquecimento da demanda para níveis próximos aos normalmente associados a recessões, retração do mercado imobiliário e aumento do desemprego.

Além desses fatores, os títulos do governo dos EUA com vencimento entre três meses e dois anos têm rendimentos mais altos do que os títulos com vencimento em 10, 20 ou 30 anos. Esse comportamento, conhecido como curva de rendimento invertida, é um sinal de alerta que ocorreu antes de cada recessão nos EUA desde a Segunda Guerra.

Inflação e juros

A inflação, no entanto, continua sendo o grande indutor da recessão americana prevista pelos economistas. Embora tenha diminuído para 7,1% ao ano em novembro (contra 9,1% em junho), ainda está muito acima da meta de 2% ao ano desejada pelo Fed.

Para segurar o aumento inflacionário, o BC americano elevou sete vezes a taxa de juros no ano passado, saindo de uma faixa próxima de zero para a média atual entre 4,25% e 4,50%. A expectativa é que os juros sigam em alta em 2023, num patamar entre 5% e 5,5%.

A maioria dos economistas consultados prevê que o Fed aumentará a taxa de juros no primeiro trimestre, fará uma pausa no segundo e começará a cortar a taxa no terceiro ou quarto trimestre.

A taxa de desemprego no país, outro indicador acompanhado de perto, deve seguir a tendência de elevação vista em países entrando em recessão. O mercado de trabalho dos EUA continua aquecido, com apenas 3,7% de desemprego, mas a expectativa é que a taxa de desemprego fique acima de 5% em 2023.

As previsões para outros ativos, como o mercado de ações e de títulos, de certa forma corroboram a expectativa de uma recessão mais branda.

Os economistas esperam que o mercado de ações dos EUA se recupere no final de 2023, em grande parte com a possibilidade de o Fed começar a cortar as taxas de juros ao longo do ano.

Se isso for confirmado, os títulos devem proporcionar fortes retornos em 2023, com as ações terminando o ano ligeiramente em alta. Os economistas trabalham com o índice do S&P 500 no final de 2023 com 5% acima de seu nível atual.

Recessão global

Em entrevista à rede americana CBS, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, advertiu nesta segunda-feira que um terço da economia global estará em recessão este ano.

De acordo com Georgieva, 2023 será "mais difícil" do que no ano passado, já que as economias de EUA, União Europeia e China estão desacelerando.

“A guerra na Ucrânia, o aumento dos preços, as taxas de juros mais altas e a disseminação da Covid na China pesam na economia global”, afirmou a economista búlgara que lidera o FMI.

Em outubro, o FMI revisou para baixo sua perspectiva de crescimento econômico global para 2023, de 2,9% para 2,7%. "Mesmo nos países que não estão em recessão, uma contração da economia será sentida por centenas de milhares de pessoas", acrescentou.