A inflação dá sinais de desaceleração nos Estados Unidos, mas ainda está altíssima e tem um longo caminho a percorrer até chegar à meta de 2% como deseja o Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA.
Não à toa, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), sinalizou em seu tão aguardado discurso no simpósio anual de Jackson Hole, nesta sexta-feira, 26 de agosto, que o juro não cai tão cedo.
Powell sustentou um discurso duro – inclinado a mais aperto monetário – e flertou com a recessão ao reconhecer que “há custos ruins de reduzir a inflação, mas não restaurar a credibilidade de preços significaria uma dor muito maior”.
O presidente do Fed foi além e enfatizou que “restaurar a estabilidade de preços provavelmente exigirá manter uma política monetária restritiva por algum tempo.” Segundo Powell, “o aumento [do juro] precisa continuar até que o trabalho [reduzir a inflação] seja feito”.
Os mercados reagiram rapidamente ao discurso de Powell e os principais índices acionários americanos passaram a operar em forte baixa. O “benchmark” do mercado americano, o S&P 500, perdia 2,33% no início da tarde; o Dow Jones, 2%; e o Nasdaq, 2,9%.
No mercado futuro de títulos do Tesouro dos EUA, as projeções para a alta da taxa básica do Fed – no encontro de 21 de setembro – já estão concentradas em 0,75 ponto. Durante a manhã, a aposta era de aumento de 0,50 ponto.
No discurso, Powell, no entanto, não sinalizou que o próximo passo será de alta de juro em mais 0,75 ponto percentual ou um arrefecimento para 0,50 ponto. Em junho e julho, o Fed aumentou sua taxa em 0,75 ponto, para 2,25% a 2,50%.
“O discurso de Powell foi duro. Indicou que a política monetária será mais restritiva por mais tempo e isso só muda quando o Fed ganhar a briga contra a inflação”, afirma Andrew Reider, CIO da Wealth High Governance (WHG).
Em entrevista ao NeoFeed, Reider disse que o pronunciamento muito curto e a comunicação foram muito relevantes. “Powell deixou claro que pretendia ser curto e direto para mostrar seu compromisso de combater a inflação. E ele não poderia ter sido mais claro”.
O CIO da WHG prevê uma desaceleração forte da inflação americana, indo de 7,2% em 2022 para 2,7% em 2023. “Grande parte dessa desaceleração, no entanto, vai acontecer devido a preços de commodities mais baixos e à normalização dos choques de oferta e cadeias de suprimento que ocorreram com a pandemia.”
Para o núcleo da inflação americana, mais ligado às condições de demanda e mais sensível à política monetária, a WHG espera uma desaceleração mais suave, indo de 5,8% em 2022 para 3,2% em 2023 - ainda bastante acima da meta do Fed.
Reider avalia que o aperto das condições financeiras que o Fed provocou ao longo deste ano com certeza contribuiu para que o núcleo da inflação – que exclui preços mais voláteis como alimentos e energia – desacelere.
“Mas esperamos que a inflação permaneça acima da meta [2%] em 2023 porque existem componentes da inflação americana que são mais inerciais (como aluguel e serviços intensos em mão de obra) e que estão sendo reajustados às taxas altas da inflação de 2022”, completa.