No começo dessa semana, Rogério Xavier, CEO da SPX Capital, que tem R$ 45 bilhões sob gestão alertou sobre suas preocupações com a China. "Vejo que na China começa a ter vários 'vazamentos', em vários setores, que dependem da habilidade do gestor de 'girar pratinhos'", disse ele, na ocasião. "Mas a quantidade de pratinhos para girar é enorme."

Pois os pesadelos de Xavier parecem que estão se tornando reais. As ações de empresas chinesas caíram quase 1% no fechamento desta quarta-feira, 31 de janeiro, aprofundando uma crise de confiança que levou o CSI 300, principal índice de referência das maiores ações chinesas, a acumular 5% de queda neste ano e chegar ao seu menor patamar em cinco anos.

O mercado financeiro não está acreditando que o governo chinês poderá conter a deterioração econômica e a crise imobiliária iminente. Isso reverteu uma recuperação que estava se ensaiando desde o dia 22 de janeiro, quando as autoridades prometeram grandes medidas para apoiar o mercado, havendo a expectativa de um pacote de resgate de 2 biliões de yuans (278 bilhões de dólares) e a decisão do banco central de reduzir as reservas obrigatórias dos bancos.

Dentre as medidas de resgate estaria a mobilização de fundos principalmente das contas offshore de empresas estatais chinesas para comprar ações por meio da bolsa de Hong Kong. O índice Hang Seng China Enterprises, que acompanha as empresas do continente listadas em Hong Kong, saltou 9% em três dias antes, e agora volta a cair.

Piorou a situação a decisão desta semana de um tribunal de Hong Kong de liquidar o grupo chinês Evergrande, levando a uma expectativa para o efeito “bola de neve” com derivativos do mercado imobiliário. Nesta quarta-feira foram também divulgados resultados da atividade industrial chinesa com uma contração pelo quarto mês seguido.

O sentimento em relação a grande potência chinesa é bem pessimista, e os investidores não estão vendo uma prioridade de Pequim para resolver esses problemas. Cerca de US$ 6 trilhões foram eliminados do valor de mercado das ações chinesas e de Hong Kong desde o pico atingido em 2021 e os investidores exigem que as autoridades tomem medidas mais ousadas para travar a recessão.

Há sinais de que alguns fundos estatais estão agindo num esforço para ajudar a apoiar os preços das ações. Diversos  fundos negociados em bolsa chineses, vistos pelos traders como prováveis alvos de compra por veículos estatais, como a Central Huijin Investment Ltd., registraram entradas recordes neste mês. Os seus fluxos combinados foram mais de cinco vezes superiores ao montante agregado registado em julho de 2015.

O brutal início de ano das ações chinesas sendo, pelo menos em parte, atribuído ao impacto de um derivado financeiro relativamente novo conhecido como “bola de neve”. Esses produtos estão vinculados a índices com mecanismos de venda quando eles caem abaixo de um certo nível.

E segundo estimativas do China International Capital Corp de outubro, a maioria desses papeis estariam com o gatilho em 4.865 pontos no Índice CSI 500, nível que já foi há tempo ultrapassado. O índice fechou hoje em 3.215. Não se sabe exatamente o volume desse produto financeiro no mercado.