A expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) consiga controlar a inflação sem jogar o país numa recessão, ou elevar significativamente o desemprego, vem ganhando força entre alguns economistas, mas nem todo mundo está convencido do sucesso do chamado “pouso suave”.

Entre os céticos está Larry Summers. Em entrevista à Bloomberg na quarta-feira, 13 de setembro, o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos durante a presidência de Bill Clinton disse que a economia americana está numa “situação difícil de gerir” e que não há nenhum sinal, até o momento, de que o Fed vai conseguir trazer a inflação de volta à meta de 2%.

Segundo ele, a chance de os Estados Unidos caminharem para um soft landing é a mesma que o país possui de ver a inflação ser trazida para baixo ao custo de uma recessão e de os preços continuarem subindo (com a inflação nunca ficando abaixo de 3%).

“Creio que a janela para se conseguir esse soft landing é muito estreita, então eu estimaria uma chance em três para cada uma dessas possibilidades”, disse Summers. “Todos nós esperamos pelo melhor, mas não há uma garantia de que isso possa ser alcançado.”

O ex-secretário do Tesouro entende que o Fed foi capaz de corrigir o rumo da política monetária e que agora está na trajetória certa. Mesmo assim, segundo ele, “o avião ainda está voando muito acima do ponto de aterrissagem e ainda está indo muito rápido”.

A fala de Summers veio no mesmo dia em que o Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,6% em agosto, uma aceleração ante a alta de 0,2% de julho. No acumulado de 12 meses, a inflação americana alcançou 3,7%.

Os dados ficaram dentro do estimado pela média das projeções dos economistas, mas o núcleo do CPI, que desconsidera itens mais voláteis como alimentos e energia, subiu 0,3% no mês, acima do esperado.

A evolução do núcleo tem sido acompanhada de perto pelo mercado, considerando que é a principal métrica que o Fed tem olhado para definir o rumo da política monetária. Em agosto, durante o simpósio de Jackson Hole, em Wyoming, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que a autoridade monetária está preparada para aumentar ainda mais as taxas de juros se necessário.

Enquanto economistas se dividem sobre o que vai acontecer nas reuniões do Fomc, o comitê que determina o rumo da política monetária americana, marcadas para os dias 19 e 20 de setembro, se os juros sobem ou ficam estável, Summers avaliou que será preciso realizar ainda mais apertos e que os investidores estão “descontando excessivamente essa possibilidade”.

Inclusive, ele fez um alerta sobre as consequências de novas altas dos juros nos mercados, especialmente em renda variável, sujeito à volatilidade caso o cenário de soft landing não se concretize. “É uma situação muito difícil e as pessoas precisam ter bastante cuidado em declarar vitória, precisando ter muito cuidado com alguns ativos, especialmente o mercado de ações”, afirmou.