O recado ao mercado financeiro dos Estados Unidos foi passado – e não foi como os investidores esperavam. Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, deixou claro nesta sexta-feira, 25 de agosto, que o crescimento sólido da economia americana poderá exigir novos aumentos das taxas de juros.

Seu discurso na conferência anual de banqueiros centrais em Jackson Hole, no estado de Wyoming, era ansiosamente aguardado, pois havia a expectativa de que o presidente do Fed pudesse sinalizar uma pausa na escalada de aumento de juros da autoridade monetária dos EUA, diante da queda consistente da inflação no país.

“Estamos preparados para aumentar ainda mais as taxas, se apropriado, e pretendemos manter a política num nível restritivo até estarmos confiantes de que a inflação irá reduzir de forma sustentável em direção ao nosso objetivo”, disse o presidente do Fed, referindo-se à meta de inflação, de 2%.

Após atingir o pico de 9,1% em junho do ano passado, a inflação nos EUA recuou para 3,2% em julho. O núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis dos alimentos e da energia, manteve-se elevado em julho, em 4,7%, apesar da série de 11 subidas das taxas da Fed a partir de março de 2022.

A taxa básica de juros nos EUA está entre 5,25% e 5,5% ao ano, a maior em 22 anos.

O mercado de trabalho aquecido, com índice de desemprego permanecendo em apenas 3,5% há um ano, e a economia em franca atividade, com previsão de atingir um crescimento de 3% no terceiro trimestre, no entanto, reforçaram os argumentos cautelosos de Powell.

“Evidências adicionais de crescimento persistentemente acima da tendência podem colocar em risco o progresso da inflação e justificar um maior aperto da política monetária”, advertiu o presidente do Fed.

Powell, no entanto, como de praxe, não quis cravar que o Fed está convencido a elevar os juros. Ele observou que os aumentos anteriores dos juros ainda não desaceleraram totalmente a economia.

“Procederemos com cuidado ao decidirmos se vamos apertar ainda mais ou, em vez disso, manter a taxa básica constante e aguardar mais dados”, afirmou.

Mercado frustrado

A mensagem passada por Powell não chegou a surpreender o mercado. A preocupação com o aumento das probabilidades de subida das taxas ajudou a transformar a recuperação do S&P 500 na manhã de quinta-feira numa derrota no final da sessão. Nesta sexta, as ações subiram modestamente, cerca de 0,7%, após a divulgação do discurso de Powell.

Esse sobe-e-desce de expectativas do mercado quanto a eventuais aumentos ou manutenção dos juros vinha sendo ancorado pela última reunião do Fed, em junho, quando os 18 integrantes do órgão previram que poderiam aumentar as taxas apenas mais uma vez este ano.

Com isso, muitos economistas adiaram ou inverteram as suas previsões anteriores de uma recessão nos EUA. O otimismo de que a Fed conseguirá uma difícil “aterrissagem suave” – na qual conseguiria reduzir a inflação para o seu nível-alvo sem causar uma recessão acentuada – aumentou.

Essa expectativa pode ter mudado, no entanto, à luz do discurso de Powell, no qual deixou no ar que até mais de um aumento poderá ocorrer nos próximos meses. O Fed vai atualizar suas projeções de taxas de juros na próxima reunião, de 19 e 20 de setembro.

Mesmo que não imponha novas subidas de juros, o Fed poderá sentir-se obrigado a manter a taxa básica elevada no futuro para tentar conter a inflação.

Isto introduziria uma nova ameaça: manter os juros em níveis elevados indefinidamente correria o risco de enfraquecer a economia a ponto de desencadear uma recessão. A rigor, esse é o temor que ainda permeia o mercado financeiro.