Presentear uma criança com dinheiro pode ser uma forma de incentivá-la a poupar desde cedo. Mas é com moedas de ouro que Ray Dalio, um dos maiores investidores de todos os tempos, transmite essa lição a filhos e netos. Não para ostentar ou transferir parte de sua herança bilionária, mas por considerar essa a forma mais eficaz de poupar no longo prazo.
"Eu sempre digo 'Vocês não podem vender essa moeda, apenas passar para a próxima geração. Um dia, quando houver a quebra do sistema monetário, vocês ou seus filhos poderão usá-las''', afirmou Dalio no podcast chinês Prenúncio, publicado na plataforma Xiaoyuzhou FM.
Dalio tem chamado atenção para o nível recorde de endividamento das nações e os impactos desse cenário sobre o valor das moedas fiduciárias.
Para ele, dinheiro e dívida são duas faces da mesma moeda e, quando há emissão em excesso, o resultado inevitável é a perda de poder de compra. Nesse contexto, ativos como ouro ou títulos indexados à inflação ganham importância na proteção do patrimônio. "A longo prazo, o dinheiro é um investimento muito ruim", disse Dalio.
O investidor observou que, na China (assim como no Brasil), grande parte das poupanças está concentrada em dinheiro ou imóveis, o que considera ineficaz frente a um portfólio diversificado.
“Essa é a nossa estratégia central: como alcançar a diversificação, mas sem ficar preso apenas aos ativos tradicionais. Há movimentos táticos e práticos, dependendo das condições do momento, que ajudam a manter esse equilíbrio.”
Portfólios diversificados, com ativos descorrelacionados, foram a base da estratégia que alçou Dalio à condição de lenda no mercado financeiro. À frente da Bridgewater Associates, gestora que fundou e que hoje administra cerca de US$ 92,1bilhões, ele consolidou o modelo do All Weather Portfolio, desenhado para resistir a qualquer cenário econômico.
Com uma fortuna estimada em US$ 14 bilhões pela Forbes, Dalio vendeu sua última participação na Bridgewater em julho deste ano e deixou sua posição no conselho de administração da companhia. Agora, aos 76 anos, o investidor afirmou estar dedicado a transmitir os princípios que contribuíram para o sucesso da gestora.
"A longo prazo, o dinheiro é um investimento muito ruim", diz Ray Dalio
Na entrevista, Dalio também afirmou ter investido em bitcoin nos últimos anos como alternativa à inflação, mas que há desvantagens significativas em relação ao ouro. “Não acho que os bancos centrais vão comprar. Os bancos centrais vão ter ouro. O ouro é a segunda maior moeda de reserva. ”
Segundo ele, diferentemente de títulos ou ações, o ouro é o único ativo que não representa uma promessa de pagamento. “É intrinsecamente dinheiro e pode ser mantido sem esses riscos. Isso é muito importante, particularmente em um ambiente político ou geopolítico desafiador, quando podem ocorrer sanções, como aconteceu com a Rússia.”
Para Dalio, uma alocação entre 5% e 15% de ouro seria adequada para um portfólio balanceado – o que considera a única forma de investir com consistência.
“O market timing é um jogo de soma zero em que somente uma pequena parte vai vencer”, disse, comparando o mercado a um jogo de pôquer.
“A questão é contra quem você está jogando. Colocamos algo em torno de US$ 1 bilhão por ano, tentando jogar bem esse jogo. Mesmo assim, os gestores tiveram resultados muito fracos nos últimos anos, subindo e caindo junto com os mercados”, complementou.
Essa filosofia de Dalio se conecta diretamente à Teoria Moderna dos Portfólios, desenvolvida por Harry Markowitz nos anos 1950, segundo a qual a diversificação entre ativos descorrelacionados permite reduzir riscos sem sacrificar a rentabilidade.
“Se eu conseguir 10 ou 15 ativos descorrelacionados, posso reduzir o risco em 60% a 80%, mantendo o mesmo retorno. Em outras palavras, você pode ter o mesmo retorno esperado ao longo de um período de tempo, mas com apenas um quinto do risco. E esse é o jogo.”