O bilionário Ray Dalio é um dos investidores mais influentes do mundo. Após deixar a gestora Bridgewater Associates, que detém com US$ 92 bilhões em ativos sob gestão, ele está protagonizando uma iniciativa inédita: treinar um clone de inteligência artificial (IA) com base em perguntas reais feitas por usuários nas redes sociais.
Aos 76 anos, Dalio publicou mensagens no LinkedIn e no X (antigo Twitter) na quarta-feira, 15 de outubro, convidando o público a enviar dúvidas sobre investimentos em ouro. O objetivo é alimentar sua IA com conteúdo autêntico, transformando-a em uma espécie de “coaching virtual” capaz de replicar seu raciocínio e aconselhamento financeiro.
“Estou usando as perguntas que recebo e minhas respostas para educar meu clone de IA, então é útil saber quais perguntas as pessoas têm”, escreveu Dalio.
A proposta é ambiciosa: tornar seu conhecimento acessível a milhões de pessoas, mesmo após sua aposentadoria. O projeto começou em 2024 e visa democratizar o acesso ao seu estilo de coaching, que por décadas foi reservado a grandes investidores institucionais.
A publicação de Dalio no X recebeu mais de 200 respostas já na primeira hora, ultrapassando 750 interações ao longo da quinta, 16. No LinkedIn, os comentários também se multiplicaram, com perguntas como “Qual é a melhor forma de investir em ouro e quais são as plataformas recomendadas?” e “É seguro comprar um ETF lastreado em ouro? Devo investir em ouro físico?”. Dalio não chegou a responder diretamente às questões, nem indicou quantas pretende abordar.
Essa iniciativa marca a primeira vez que um investidor de renome global utiliza inteligência artificial como ferramenta de coaching financeiro, com o objetivo de perpetuar sua filosofia de investimentos. Embora outras figuras do mercado já tenham explorado IA para análise de dados ou automação de portfólios, nenhum havia se proposto a criar um clone pessoal para aconselhamento estratégico.
Dalio é conhecido por sua visão de longo prazo e por defender o ouro como ativo essencial em tempos de instabilidade. No Fórum Econômico de Greenwich, realizado neste mês, ele recomendou alocar cerca de 15% da carteira no metal precioso.
“O ouro é um excelente diversificador de portfólio”, afirmou. “Se você analisar apenas da perspectiva da alocação estratégica de ativos, provavelmente teria algo em torno de 15% do seu portfólio em ouro... porque é um ativo que se sai muito bem quando as partes típicas do portfólio caem.”
O mercado de ouro vive um momento histórico. O metal ultrapassou os US$ 4.226,20 por onça troy, atingindo seu maior valor já registrado. Essa valorização reflete uma crescente desconfiança nas moedas tradicionais - o dólar, em especial - e no risco soberano de grandes economias, como a dos Estados Unidos.
Dalio comparou o cenário atual ao início dos anos 1970, quando os EUA abandonaram o padrão-ouro e o metal disparou como reserva de valor. “É muito parecido com o início dos anos 70, e então surge a pergunta: onde você coloca seu dinheiro?”, disse.
Além disso, Dalio alertou para o aumento da dívida global — especialmente a de US$ 37,8 trilhões dos EUA — e para o movimento de “desdolarização” promovido por bancos centrais que têm aumentado suas reservas de ouro. “O ouro é o mais fundamental dessas alternativas”, afirmou. “É o único ativo que alguém pode possuir sem depender de outra pessoa para lhe pagar por ele.”
Com uma fortuna estimada em US$ 19,2 bilhões, Dalio fundou a Bridgewater Associates em 1975. Sua abordagem baseada em princípios, cenários macroeconômicos e diversificação estratégica influenciou gerações de gestores e investidores.
Agora, com o uso da IA, Dalio parece determinado a deixar um legado que transcende sua presença física. Seu clone digital pode se tornar uma referência para investidores do futuro — e inaugurar uma nova era em que o conhecimento de grandes mentes financeiras seja preservado e compartilhado por meio da tecnologia.