Em agosto, a inflação destronou a recessão global do topo dos fatores de risco, turbinou a atuação e o discurso dos principais bancos centrais do mundo, e reorientou as aplicações de algumas das maiores gestoras de investimento do País.

Setembro vai pelo mesmo caminho. Prevalece a preferência por juros em detrimento da renda variável às vésperas do anúncio de índices de inflação nos Estados Unidos, Zona do Euro e Reino Unido – previsto para esta semana – e da decisão sobre juro pelo Federal Reserve (Fed), o BC americano, na quarta-feira da próxima semana, 21 de setembro.

Nas cartas dirigidas a investidores com o balanço das operações em agosto, divulgadas na semana passada, quatro renomadas instituições – Ibiuna Investimentos, SPX Capital, Verde Asset Management e Legacy Capital, com ativos consolidados de cerca de R$ 169 bilhões sob gestão – alertam para o duro posicionamento dos bancos centrais contra a inflação.

A Ibiuna afirma que surpresas inflacionárias altistas em alguns países, núcleos de inflação ainda elevados e a intensificação da crise de energia na Europa embasaram a mudança de percepção que foi também sancionada por uma postura mais dura por parte dos principais bancos centrais do Ocidente.

O portfólio da Ibiuna se beneficiou da volta do foco dos investidores à elevada inflação nos países do G10 em detrimento de preocupações com o impacto do aperto das condições financeiras globais sobre as expectativas de crescimento.

Em junho e julho, diz a gestora, indicadores apontavam desaceleração mais rápida da atividade principalmente nos EUA e Europa, o que levou à reprecificação para baixo dos juros e incentivado uma “prematura discussão sobre cortes de juros em 2023”.

“Esse movimento foi quase integralmente revertido”, pontua a Ibiuna, comandada pelos ex-BCs Mario Torós e Rodrigo Azevedo. A casa tirou “proveito parcial de oportunidades aplicadas em juros nominais no Brasil, onde a Selic deve permanecer elevada por longo período”.

A SPX, sob o comando do gestor Rogério Xavier, destaca em sua carta ao investidor o aperto sincronizado das condições financeiras globais, a persistência inflacionária e os riscos impostos pela bolha imobiliária na China.

A casa avalia que, no Brasil, o BC pode encerrar o aperto monetário com Selic nos atuais 13,75%. E pondera que “os juros reais em níveis altamente restritivos vão contribuir para o processo de desinflação ao longo do tempo, com a atividade se desacelerando mais claramente a partir do quarto trimestre deste ano”.

No “book de juros” no mercado internacional, a SPX continua com posições favoráveis à alta de taxas nos países onde acredita “ainda haver grande desequilíbrio entre as condições econômicas e os preços de mercado, com maior alocação de risco em países emergentes específicos”. No “book de ações”, segue vendida nos EUA, Europa e Brasil.

Em agosto, o fundo Verde, da Verde Asset, sob gestão de Luís Stuhlberger, teve ganhos nas posições de bolsa brasileira e nos mercados de juros desenvolvidos.

A gestora destaca que o mês foi pautado inicialmente pelo rali estendido de junho e, em seguida, “pela reversão dessa dinâmica com o endurecimento do discurso de BCs” durante o seminário de Jackson Hole, quando foram acenados ajustes fortes de juros nas próximas reuniões de política monetária.

O posicionamento mais conservador dos maiores bancos centrais imprimiu novas elevações nas taxas de juros globais. “Frente ao aperto das condições monetárias, os ativos de risco voltaram a cair de maneira importante”, afirma a Verde.

Em sua carta ao investidor, a gestora destaca que o mercado brasileiro deu sequência a uma trajetória de melhora em agosto, com menores prêmios de risco. O fundo Verde reduziu as posições tomadas em juro nos EUA, aumentou a posição em inflação implícita no Brasil e manteve posição em ouro e petróleo.

A Verde também informa que aproveitou o rali do começo de agosto e “reduziu marginalmente a alocação em bolsa global e em ações brasileiras”.

A Legacy Capital, fundada por Felipe Guerra, também destaca a guinada de foco do investidor global do risco de desaquecimento das economias para maior preocupação com a inflação.

A gestora informa que mantém posições vendidas em bolsa internacional, “mirando o aperto de condições financeiras e a perspectiva de recessão no hemisfério norte e posição simultaneamente vendida em bolsa mexicana, à medida em que o Banxico – o BC do México – avança no processo de aperto monetário”.

No Brasil, a Legacy reduziu a posição comprada em inflação e iniciou uma posição aplicada nos juros de prazos mais curtos. A instituição prevê uma fase mais movimentada e volátil para os mercados em setembro e outubro, ante o calendário eleitoral. Contudo, não antecipa, de forma geral, “downside significativo para os ativos brasileiros em função do resultado das eleições”.

A Legacy acredita também que a carteira de empresas estatais possa se beneficiar da perspectiva de que “a eleição brasileira será mais competitiva do que a média das pesquisas de opinião sugere”.