Em dezembro do ano passado, Howard Marks, uma das principais referências do mercado de investimentos, sugeriu em tom de brincadeira durante uma conferência que os investidores deveriam vender todas as ações e comprar títulos de dívida privada com altos retornos.

Mas passados dez meses desta “piada”, o cofundador Oaktree Capital, gestora americana com cerca de US$ 179 bilhões em ativos sob administração, diz agora que instrumentos de crédito privado deveriam representar uma fatia relevante dos portfólios dos investidores.

Com o fim da era dos juros baixos e da liquidez abundante, Marks diz em sua mais recente carta a investidores, divulgada na quarta-feira, 11 de outubro, que as ações estão perdendo a vantagem sobre os bonds.

“Se isto de fato for uma mudança de maré, no caso, uma mudança fundamental no ambiente de investimentos, você não deveria assumir que as estratégias de investimentos que te serviram bem desde 2009 terão os mesmos efeitos nos próximos anos”, diz um trecho da carta de Marks, segundo o Business Insider.

Quando os juros estavam bem próximos de zero nos Estados Unidos entre 2009 e 2021, não apenas os instrumentos de crédito eram pouco atrativos, os investimentos alavancados foram uma estratégia amplamente utilizada no mercado financeiro, com os investidores conseguindo bons resultados.

Agora, com os juros na casa dos 5%, os ventos contrários sopram cada vez mais forte contra as ações, segundo Marks. Outros fatores negativos para a renda variável incluem a perspectiva de desaceleração da economia, queda das margens das empresas, sinais de aumento da inadimplência e pessimismo entre acionistas.

Marks destaca ainda que enquanto o S&P 500 apresentou um retorno anual de cerca de 10% por quase um século, o índice ICE BofA U.S. High Yield Constrained, composto por títulos corporativos com retorno elevado em dólar, apresenta um retorno de 8,5%, enquanto outro indicador deste mercado, o CS Leveraged Loan Index, registra retorno de quase 10%.

“Em outras palavras, os rendimentos esperados de títulos de dívidas sem grau de investimento, antes da incidência de impostos, se aproximam ou ultrapassaram os retornos históricos com ações”, diz trecho da carta. “E, mais importante, são retornos colocados em contrato.”

Originalmente, a carta foi enviada a clientes da Oaktree em maio. Mas, segundo Marks, os recentes desenvolvimentos no mercado fizeram com que a análise ganhasse força. Um desses desenvolvimentos, talvez o principal, foi o retorno dos Treasuries de longo prazo, que alcançaram patamares não vistos há duas décadas.