Com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevando os juros aos maiores patamares em 22 anos, numa tentativa de conter a escalada da inflação, Howard Marks vê os empresários dos Estados Unidos sentindo muitas dificuldades. Qualquer semelhança com o que passam os empreendedores do Brasil, país dos juros exorbitantes, não é mera coincidência.
Cofundador da Oaktree Capital, gestora americana com US$ 179 bilhões em ativos sob gestão, e considerado um dos principais nomes do mundo dos investimentos, com Warren Buffett já tendo confessado ser fã do seu trabalho, Marks alertou que as companhias dos Estados Unidos vão começar a sentir as consequências do aperto monetário praticado pelo Fed.
Em entrevista a agência de notícias Bloomberg, ele disse que um número cada vez maior de empresas devem dar calote em suas dívidas, uma vez que os juros altos dificultam e tornam custoso o processo de rolagem e refinanciamento de dívidas.
“Quando você passa por um período em que é super fácil arrecadar dinheiro para qualquer propósito, ou até sem propósito, e você entra em um período em que é difícil levantar recursos, mesmo para um bom propósito, claramente muito mais empresas irão falir”, disse ele.
Esse movimento alertado por Marks já começou. Em agosto, o número de empresas nos Estados Unidos que pediram falência subiu 17% entre julho e agosto, segundo dados da consultoria Ep iq Bankruptcy. Foi a 13ª alta mensal seguida na quantidade de requisições, com muitos economistas atribuindo a alta ao duro aperto monetário sendo praticado pelo Fed.
Entre março de 2022 e julho de 2023, os juros nos Estados Unidos saíram de praticamente zero para cerca de 5,5%. O remédio amargo tem começado a fazer efeito nos preços, ajudando a embicar a inflação para baixo, depois de ela alcançar patamares não vistos há quase quatro décadas. Mas teve como efeito colateral provocar uma quebradeira de uma série de empresas.
Se os Estados Unidos não veem um cenário desse tipo há tempos, o Brasil tem experiência em conviver com os efeitos perversos da combinação de inflação e juros altos. A situação por aqui ficou particularmente complicada em 2022, quando o Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) a 13,75% ao ano para conter o surto inflacionário pós-pandemia.
O resultado, assim como nos Estados Unidos, foi a quebradeira de uma série de empresas. Dados da Serasa Experian apontam que os pedidos de recuperação judicial cresceram 52,1% no primeiro semestre, comparado com o mesmo período de 2022. Foi o pior resultado dos últimos três anos, fruto da alta da inadimplência das empresas, que alcançou 6,48 milhões de companhias em maio, segundo análise publicada pelo economista da Serasa, Luiz Rabi.
Ainda que o Fed consiga trazer a inflação de volta à meta de 2%, Marks afirmou que não se deve esperar o retorno dos tempos de “dinheiro fácil”, em referência ao período entre 2009 e 2021, quando os juros nos Estados Unidos estavam próximos de zero.
A expectativa dele é que o Fed atinja uma posição neutra assim que a inflação estiver sob controle, com juros entre 2% e 4% ao ano. “Não dá para viver de injeções de adrenalina todas as manhã por 13 anos”, afirmou Marks.