O Tesouro Nacional captou R$ 17,7 bilhões em leilão extraordinário realizado nesta quarta-feira, 3 de setembro. Foram vendidos 1,5 milhão de títulos NTN-B com vencimentos em 2040, 2050 e 2055. Com demanda 50% maior que a oferta, todos os papéis foram absorvidos, com taxas próximas de IPCA + 7,4% ao ano.

Esses títulos são considerados off-the-run, ou seja, não fazem parte das séries de referência mais negociadas (on-the-run). Como têm liquidez menor, costumam ser negociados com prêmio de taxa. Por serem relativamente escassos, o tamanho da oferta surpreendeu o mercado, pressionando os preços dos vencimentos mais longos após o anúncio do leilão, divulgado fora da agenda do BC, depois do fechamento do mercado na sexta-feira, 28 de agosto.

Economistas e gestores consultados pelo NeoFeed avaliaram o resultado do leilão como positivo. “O Tesouro conseguiu colocar um montante grande. O leilão foi bom e gera uma percepção positiva para os próximos”, disse Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura.

O Tesouro já havia sinalizado que poderia realizar leilões extraordinários ao longo do ano para dar liquidez, mas a operação acabou pegando o mercado de surpresa. “O lote ofertado foi expressivo, mas a demanda foi ainda mais surpreendente”, disse Claudio Pires, sócio-diretor da MAG.

Para Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, a decisão por trás do leilão pode estar ligada à necessidade de dar liquidez ao mercado, sendo incomum o volume ofertado nos vértices mais longos. “Deve ter alguma demanda dos dealers, para aliviar o posicionamento técnico, porque estavam mais vendidos”, afirmou.

No jargão do mercado, estar “vendido” significa que os dealers oferecem títulos mesmo sem tê-los em carteira, para atender à demanda de investidores de longo prazo. Para honrar essas vendas, precisam recomprar os papéis no mercado ou recorrer ao aluguel, o que pressiona ainda mais quando há pouca oferta. Nessas situações, um leilão extraordinário ajuda a aliviar o desequilíbrio técnico, injetando novos papéis e reduzindo o risco de falta de liquidez.

“Nos parece que foi uma solicitação de algum participante ou de um grupo de participantes do mercado e o Tesouro entendeu como adequado atender a essa demanda, evitando o risco de o volume causar distorções na curva de juros”, afirmou Pires, da MAG. Segundo ele, os títulos ofertados não vinham sendo colocados há muito tempo e, pelo tamanho do lote, é provável que esse participante tivesse dificuldades para comprar no mercado secundário.

Embora também veja motivações técnicas para a alta demanda, Gabriel Mello, gestor macro da AZ Quest, avalia que o leilão extraordinário mostrou haver procura represada em pontos específicos da curva. “Apesar de ter essa motivação mais técnica, também houve demanda final, dado o volume elevado da emissão.”

Mello destacou que, nas últimas semanas, houve aumento da demanda por papéis longos, o que gerou distorções na curva de juros. “Outros players provavelmente se aproveitaram da oportunidade para alocar em NTN-Bs longas e o Tesouro atendeu à demanda adicional.”

As NTN-Bs têm respondido por cerca de 20% das emissões de títulos públicos nos últimos 12 meses, somando aproximadamente R$ 287 bilhões. A maior parte da colocação tem se concentrado em papéis atrelados à Selic (LFTs), que representaram 45% do total emitido no período. As LTNs, prefixadas, corresponderam a 27%, enquanto as NTN-Fs, prefixadas com pagamento de juros semestrais, ficaram em torno de 8%.