Na atual realidade baseada nas mídias digitais e no compartilhamento de dados, é difícil encontrar alguém que não tenha sido vítima de golpes ou violências digitais. Seja roubo de senhas, falsificação de identidade, mensagens falsas ou ofensas, é grande o número de pessoas que sofreram com os males da nova era.
Levantamento realizado ano passado pelo Instituto Datafolha apontou que sete em cada dez brasileiros (73%) já sofreram algum tipo de ameaça digital. Desde o início da pandemia, quando foi necessário aumentar as interações on-line, cresceram os tipos de crimes cometidos e as estratégias utilizadas para alcançar determinados públicos-alvo.
Como no caso das crianças e adolescentes, que ficaram muito mais expostos a ameaças e ataques virtuais, já que suas rotinas de aulas e socialização ficou concentrada em aplicativos como Zoom, WhatsApp, Google Classroom, Roblox ou Minecraft.
Entre as consequências desse uso crescente das telas pelo público infanto-juvenil, a mais preocupante é o alto risco de sofrerem assédio ou perseguição, cyberbullying, grooming (abordagem que tenta ganhar a confiança de um menor com o propósito de abusar ou explorar sexualmente), sexting e sextorção, a publicação de informações privadas, entre outros crimes.
Como muitas crianças e jovens não possuem o conhecimento necessário para diferenciar o que pode ser ou não ameaça, e muitos conteúdos apresentam uma linguagem e apresentação atrativas para eles, é preciso investir em iniciativas que estimulem a cultura de proteção de dados voltada para os menores de idade.
Ações práticas como campanhas de conscientização, tal como o Dia Mundial da Internet Segura, são bons exemplos de iniciativas que podem contribuir para termos um ambiente digital mais seguro.
Com o mote de criar uma internet mais positiva, diversas organizações de mais de 200 países apoiam e contribuem com conteúdos e atividades para promover o uso seguro, ético e responsável das TICs nas escolas, universidades, ONGs e na própria rede.
O Safer Internet Day, este ano celebrado no dia 8 de fevereiro, é um marco para chamar a atenção de pais, educadores e responsáveis sobre o papel de cada um de dialogar, orientar e supervisionar os menores no espaço online.
A participação da família nessa rotina é fator determinante para evitar as armadilhas digitais. Os parentes podem combinar um revezamento na sondagem e verificação da segurança online. Precisa ser um trabalho colaborativo entre os responsáveis.
O jovem da era digital tem se mostrado extremamente hábil no manejo da tecnologia, mas, por outro lado, é muito inocente frente a situações em que deveria enxergar risco e ter comportamento mais cauteloso.
Uma das ferramentas disponíveis para auxiliar os pais na desafiadora tarefa de mitigar os riscos que os menores estão expostos na gigantesca rua da internet é o uso de algum tipo de software ou aplicativo de controle parental.
A funcionalidade disponível em diversos sistemas abrange diferentes opções programáveis como filtro de conteúdo web, bloqueio de download de aplicativo, registro de atividades, controle de tempo e de acesso a determinados conteúdos.
Os pais devem ter a preocupação de ao permitir o acesso à internet, enfatizar que o envio de uma foto, a curtida de uma mensagem ou o compartilhamento de um post podem surtir efeitos irreversíveis que precisam ser administrados.
É importante ficar atento aos sinais de que os pequenos podem estar em situação de risco digital. Como virar ou mudar a tela quando você estiver perto, conduta agressiva, ríspida ou fechada, e o uso de palavras diferentes das que se usam no convívio familiar. Vale investigar.
Liberdade traz responsabilidade. Por isso que o Instituto iStart promove desde 2010 ações educativas de Ética, Cidadania e Segurança Digital junto a Instituições de Ensino para levar materiais didáticos gratuitos, palestras e apoiar na formação de voluntários que possam disseminar a cultura do uso ético, seguro, saudável e sustentável das novas tecnologias pelos jovens e por toda a comunidade (www.campanhacidadaniadigital.com.br) .
Precisamos formar indivíduos e cidadãos que conheçam valores, ética e tenham a ciência de que seus atos têm consequências, cujos impactos podem ser individuais ou coletivos. Algumas dicas podem ajudar nesse desafio de orientar e conscientizar sobre a segurança no ambiente online:
1 - Lembre que estar na Internet é o mesmo de estar na Rua Digital e por isso todo cuidado é necessário neste espaço de convivência pública;
2 - Defina limites e horário de uso das ferramentas digitais;
3 - Deixe claro que os pais têm o dever de vigilância para evitar riscos para os filhos, o que significa acompanhar de perto o uso e ter acesso aos recursos;
4 - Leia as regras dos Termos de Uso dos serviços digitais que o seu filho mais curte;
5 - É muito importante seguir as idades mínimas recomendadas pelas plataformas e aplicações;
6 - Ensine sobre como fazer uma senha segura e a importância de proteger a Identidade Digital, que não deve ser emprestada nem compartilhada com terceiros;
7 - Seja presente na vida digital de seu filho e o acompanhe no uso da tecnologia;
8 - Jogue com o seu filho e entenda seu universo, procure saber e conhecer quem são os amigos digitais que ele mais se relaciona;
9 - Lembre a importância de intervalos de descanso, estimule o uso saudável da tecnologia;
10 - Dê o exemplo, previna o vício tecnológico propondo momentos com atividades ao ar livre e “desconectados do celular e da internet”;
11 - Alerte sobre os riscos ao fornecer senhas para outras pessoas e ao falar com estranhos inclusive através de Mídias Sociais, Jogos Online ou Aplicativos;
12 - Ensine os filhos os cuidados com a proteção da intimidade, principalmente envolvendo compartilhamento de fotos ou vídeos de menores de idade;
13 - Estimule a liberdade responsável e enfatize que é melhor pensar duas vezes antes de postar, pois o conteúdo digital não tem devolução;
14 - Importante orientar que nem sempre sabemos quem está do outro lado da tela, por isso devemos ter discrição, evitar postagem em excesso sobre rotinas, horários e trajetos, informações sobre bens da família, viagens, padrão de vida e/ou patrimônio que possam ser atrativos para assalto, sequestro ou outras práticas criminosas ou contrárias a vontade do titular;
15 - Lembre a importância de ser honesto, ético, sincero e de pedir desculpas e se retratar imediatamente se cometer alguma gafe digital;
16 - Ajude seu filho a expressar opiniões sem ofender e combata o cyberbullying;
17 - Por último, não se esqueça que uma criança navegando sozinha na internet é um menor abandonado digital.
Patricia Peck é sócia do Peck Advogados e Conselheira Titular do Conselho Nacional de Proteção de Dados (CNPD)