“Nós, escritores, pintores, escultores, apaixonados amantes da beleza até então intacta de Paris, protestamos com todas as nossas forças, com toda a nossa indignação, em nome do gosto francês desconsiderado, em nome da arte e da história francesas ameaçadas, contra a construção, em pleno coração de nossa capital, da inútil e monstruosa torre Eiffel…..”

Dá para acreditar? O texto acima é um protesto veemente, publicado no jornal Le Temps, um dos mais respeitados da França no fim do século 19. E era assinado pelos maiores artistas vivos da época, contra a construção da torre na cidade.

Já imaginou se o protesto tivesse dado certo? Apenas alguns pontos.

⁃ Não existiria a torre Eiffel, o monumento que recebeu o maior público pagante do mundo até hoje, com mais de 300 milhões de visitantes desde sua fundação. Nos primeiro seis meses de operação teve 2 milhões de visitantes (mais que a população de Paris na época). Agora em 2024 a expectativa é de mais de 7 milhões de visitas. Estamos falando de quem paga e sobe na torre.

⁃ Durante a Primeira Guerra Mundial, a França não teria uma enorme vantagem estratégica, pois a torre se tornou a mais potente estação telegráfica da época, graças a sua localização e altura.

⁃ A Exposição Mundial de Paris de 1889 não teria sido tão brilhante e não haveria a mais alta construção do mundo, com 300 metros. Somente em 1930 foi suplantada pelo Chrysler Building de Nova York, que alcança 319 metros.

⁃ Não teríamos o monumento mais fotografado do mundo, que vale de imagem cerca de 434 bilhões de euros, segundo uma câmara de comércio italiana.

⁃ Além de muitas outras coisas que poderíamos citar sobre essa maravilha do mundo moderno.

O que parece não estar claro é que este artigo é uma homenagem aos empreendedores, pois se não fosse o sonho e a capacidade de execução de Gustavo Eiffel, nada disso seria viável. Este engenheiro, especialista na construção de pontes metálicas, hábil comunicador e desenvolvedor de relações, foi quem tornou tudo possível.

Poucos sabem, mas a torre é o primeiro exemplo de naming rights da história. Gustave Eiffel a construiu, com recursos próprios e de investidores, em troca de 20 anos de exploração e comercialização da propriedade (ingressos, imagens, souvenires, restaurantes, etc…).

Ele não é o arquiteto ou o designer, como muitos pensam, mas o líder que correu todos os riscos financeiros para viabilizar o empreendimento. Hoje a torre pertence a cidade de Paris, mas para sua construção não houve nenhum recurso público utilizado. E se tornou um projeto de enorme sucesso financeiro, tanto para os investidores quanto para o município.

Os maiores empreendedores do mundo, e são inúmeros exemplos, não precisam de ajuda pública, apenas precisam de caminho livre. Há décadas que sabemos e não aprendemos. É o saber sem valor, aquele que não se realiza. Quantas torres estamos deixando de ter?

Ah, e quanto aos protestos? Ainda bem que não tiveram êxito, mas é importante mencionar que após a construção, quase todos os artistas reconheceram que erraram e passaram a engrandecer a Torre. Que aliás permanece vivíssima em inúmeras obras de arte. Aqui cabe uma frase maravilhosa de Ernest Hemingway: “São necessários dois anos para aprendermos a falar e 60 para aprendermos a calar”.

Quem agradece são os atletas que estão saindo da Olimpíada de Paris com um pedaço da Torre Eiffel em suas medalhas. Estes mesmos atletas que nos dão de presente aulas diárias de garra, resiliência, preparo emocional, paixão pelo que se faz e superação de limites.

E uma fenomenal artista, a Celine Dion, nos deu a mais linda e emocionante demonstração de amor e força, ao subir na Torre Eiffel e encantar o mundo com sua voz na abertura da Olimpíada, superando também seus limites físicos impostos pela doença que a acomete. Fez valer a frase de Oscar Wilde: “a arte é a alma encarnada”.

Empreendedores, atletas e artistas fazem o mundo ser muito melhor. Por mais que ouçam “nãos”, estão sempre com o foco no “como”!

(As informações sobre a Torre Eiffel citadas acima vieram do livro A Torre Eiffel - Verdades & Lendas, de François Vey, L&PM Editores.)

Leonel Andrade é mentor, palestrante e articulista do NeoFeed. Atuou por 40 anos no mundo corporativo, tendo sido por duas décadas CEO de empresas como Losango, Credicard, Smiles e CVC Corp. Foi também conselheiro de Vibra e Redecard, sempre reconhecido pela sua liderança, formação de times e desenvolvimento de executivos.