Com 25 anos de atuação no mercado secundário – de revenda de obras de arte –, a galeria paulistana Almeida & Dale está em acelerada expansão, por meio de sociedades e parcerias pontuais.
Cerca de seis meses depois de abrir a Cerrado, sua segunda investida para desbravar o mercado de arte do Centro-Oeste, a casa anuncia seus planos para a abertura de uma galeria no Rio de Janeiro, no início de 2024, e um cronograma de inaugurações internacionais, de 2025 a 2028, em Nova York, Paris e na Ásia, provavelmente na Coreia do Sul.
A galeria já tem outras três sociedades, em que mescla mercados primário e secundário: com a tradicional Millan, em São Paulo (SP); a Marco Zero, em Recife (PE); e a Casa Albuquerque, em Brasília.
Carlos Dale, sócio da Almeida & Dale ao lado de Antonio Almeida, diz que a empreitada é feita com investimentos próprios da galeria, e ainda está nos planos ter um espaço nos mesmos moldes em Minas Gerais.
Além das sociedades, a Almeida & Dale vem ampliando sua participação no mercado nacional por meio de ações pontuais, caso das parcerias com a Paulo Darzé, de Salvador (BA), a carioca Danielian e as paulistanas Mendes Wood DM e Gomide & Co, que atua primordialmente no mercado secundário.
Com essa última, a Almeida & Dale fará sua primeira participação na Art Basel Hong Kong, em março de 2024, representando Chen Kong Fang (1931-2012), artista chinês naturalizado brasileiro.
Em entrevista ao NeoFeed, Dale afirma que a expansão “é uma estratégia muito utilizada por galerias fora do Brasil’, de representar artistas vivos, mas também atuar no mercado secundário com grandes nomes. Durante a ArtBasel Miami Beach, por exemplo, a Almeida & Dale iniciou a representação do espólio do escultor mineiro Amílcar de Castro (1920-2002).
A estratégia de uma presença descentralizada tem grandes exemplos como o da americana Gagosian, que tem seis endereços somente em Nova York, mas também filiais em outras cidades do EUA e também espaços em Londres, Paris e Hong Kong, entre outras cidades. Dale pondera também que o plano ecoa um desejo de descentralização de sua atuação para além do eixo Rio-São Paulo.
“De uns anos para cá, tivemos uma busca pela produção artística genuína brasileira de outros lugares do país. Daí a ideia de termos uma estrutura que servisse de palco para as criações de outras regiões do Brasil e pudesse também conectar o Sudeste a elas”, argumenta o galerista.
Mais do que servir de palco, o plano é impulsionar todo o ecossistema. “A partir do momento em que você leva grandes artistas para expor fora do eixo Rio-São Paulo e promove também a produção local dessas regiões, você desenvolve o sistema de arte, dá mais visibilidade para instituições, curadores, agentes diversos do mercado”, afirma Dale.
Segundo Antonio Almeida, sócio de Dale, a descentralização também reflete uma mudança de perfil do colecionador brasileiro nas últimas décadas. Quando abriram a galeria em São Paulo, diz ele, o público comprador médio do mercado de arte moderna tinha acima de 50 anos de idade e pertencia às famílias tradicionais de São Paulo, do Rio de Janeiro, da Bahia e de Minas Gerais.
“Hoje você uma clientela mais jovem, pessoas acima de 30 anos já começam a comprar e colecionar. Com 45, 50 anos, já formaram grandes coleções, fora desses estados, e não apenas em Goiânia e Brasília, mas também Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Recife”, afirma Almeida. “Nosso intuito é fomentar e nacionalizar o mercado”.
De acordo com Dale, as galerias sócias da Almeida & Dale mantêm “sua própria coluna vertebral, sua própria identidade”. No Rio, a parceira da galeria, que ficará no Leblon, é a art advisor Maria Ferro. Tanto na Casa Albuquerque quanto na Cerrado, o sócio é Lúcio Albuquerque, filho de Celma Albuquerque, colecionadora e marchand de Belo Horizonte (MG).
Albuquerque afirma que o mercado da capital mineira estava saturado quando ele resolveu buscar uma alternativa para crescer. “Pelas particularidades do mercado, eu não podia ir para São Paulo. Os artistas que nós tínhamos em Belo Horizonte já possuíam suas representações na capital paulista. É um acordo de cavalheiros”, diz Albuquerque, que tinha já “uma parceria antiga e sólida” com a Almeida & Dale quando se associaram a eles na Casa Albuquerque e, neste ano, na Cerrado.
“É impressionante o que está acontecendo no mercado de Goiânia. A começar pelos projetos de arquitetos do Brasil inteiro e até de fora. A economia da cidade vai dobrar em dez anos, e isso é muito significativo. E, nesse momento, existe um indício de formação de compradores recorrentes de arte”, avalia Albuquerque, que afirma dividir meio a meio com a Almeida & Dale as despesas e receitas da Cerrado.
Ainda segundo o galerista, passados pouco mais de sete meses da inauguração da Cerrado, já é possível afirmar que a clientela local tem preferência pela segurança dos nomes consagrados, a exemplo do pintor Siron Franco (1947), no mercado primário, e do escultor, pintor e ceramista Antônio Poteiro (1925-2010), no secundário. Albuquerque ressalta que o projeto da galeria foi pensado de modo que não ficasse focada apenas no mercado goiano. “Vamos atuar nos estados vizinhos e em São Paulo também”, afirma.
As parcerias da Almeida & Dale englobam ainda o patrocínio de estandes de galerias menores, a exemplo da paulistana HOA e da maranhense Lima Galeria, em feiras como a SP-Arte Rotas Brasileiras, “um programa para o desenvolvimento da galeria”, segundo Dale.
A galeria já estendeu sua atuação até mesmo à moda, ainda que de maneira indireta. Em agosto, a grife Neriage apresentou, num desfile que aconteceu na Pinacoteca de São Paulo, uma coleção inteiramente inspirada nas obras do artista plástico cearense Leonilson (1957-1993).
Segundo Ana Lenice Dias, a Nicinha, irmã de Leonilson, foi a primeira vez que o Projeto Leonilson, instituição responsável pela pesquisa, preservação e divulgação da obra do artista, permitiu uma iniciativa do gênero. A Almeida & Dale, que entre agosto e outubro apresentou “Corpo Político”, uma exposição que marcou os 30 anos da morte do artista cearense, fez a ponte entre Rafaella Caniello, estilista da Neriage e o Projeto Leonilson.