Ao lado da entrada do hangar número 4 do Catarina Aviation Show, um estande de apenas nove metros quadrados destoava dos espaços gigantescos ocupados por aeronaves, iates e carros ultra-mega-hiper-modernos.

Com 175 centímetros por 75 centímetros de tamanho e preço a partir de R$ 89 mil, o produto exposto ali no chão era certamente o menor e o mais barato do evento encerrado neste sábado, 7 de junho, do qual o NeoFeed é parceiro de mídia.

Apesar da timidez do recinto, aquela prancha, muito semelhante em aparência a uma de bodyboard, representa uma das grandes (e mais divertidas) inovações no universo dos esportes aquáticos dos últimos anos — os eFoils. Imagine surfar acima da água… pois é essa a emoção prometida por essas pranchas voadoras.

Batizado de One, o “brinquedo” levado à feira de aviação executiva foi inteiramente desenvolvido e produzido no Brasil pela Rise, na cidade de Sorocaba, no interior paulista. Fundada em 2020 por Felipe Müller, a empresa lançou suas primeiras pranchas três anos depois. Desde então, como ele contou ao NeoFeed, o negócio movimentou R$ 1,5 milhão.

Os eFoils são equipados com um motor elétrico e um hidrofólio, “asas” que ficam submersas. Quando impulsionadas, elas fazem com que a prancha se levante e flutue sobre a superfície da água. Todos os movimentos são comandados pelo “eSurfista” por intermédio de um controle remoto.

Um dos principais diferenciais da One em relação à maioria dos gadgets disponíveis hoje no mercado é o tamanho de seu hidrofólio — maior, segundo Felipe. E isso facilita o equilíbrio, sobretudo para os iniciantes. “Em 20 minutos, em média, as pessoas aprendem a usar a prancha”, afirma o empresário.

Feita 100% de carbono e com 35 quilos de peso, a One sobe até 60 centímetros e pode atingir uma velocidade de 40 quilômetros por hora, a depender do peso do praticante — a prancha de Sorocaba aguenta praticantes de até 100 quilos.

Mas há modelos mais leves, velozes e que “voam” mais alto. Outros capazes de “voar” até 45 quilômetros por hora. Uma das marcas mais badaladas, a Ultra L, da australiana Flite, por exemplo, pesa apenas 6,3 quilos e se eleva até 70 centímetros, mas o “surfista elétrico” tem de ter, no máximo, 70 quilos.

Não se tem ao certo quem inventou o eFoil. Alguns defendem que foi o fundador da Flite, David Trewen, ex-recordista mundial de kitesurfe e empreendedor em série. A ideia do hidrofólio motorizado teria surgido em um dia de competição sem vento. Outros atribuem ao engenheiro e surfista Nick Leason, dono da Lift, empresa familiar em operação em Porto Rico.

As "pás" da prancha da Rise são maiores do qua maioria dos modelos do mercado, o que facilita o uso do gadget por iniciantes (Foto: Rise)

O adolescente francês Zéphi é o recordista mundial de velocidade de eFoil, título conquistado em 2024 (Foto: YouTube)

Corridas de pranchas elétrica são realizadas em todo o mundo, como na Turquia (Foto: YouTube)

Se foi um ou outro, o fato é que a prancha elétrica surgiu no início da década de 2010, para garantir a diversão naqueles dias em que o mar não está para onda. Hoje, os eFoils circulam sobretudo por lagoas, lagos, rios e represas.

Se bem que, em abril de 2022, os surfistas britânicos Tom Court e Gly Ovens foram os primeiros esportistas do mundo a “voar” sobre as ondas gigantes de Nazaré, com pranchas elétricas.

Atualmente, há até corridas de eFoils e até uma copa do mundo, com etapas disputadas na Itália, França e Emirados Árabes Unidos.

O recorde mundial de velocidade é do adolescente francês Zéphir. No ano passado, ele “voou” sobre o Sena, em Paris, a 66 quilômetros por hora, superando os 58 quilômetros por hora, até então a maior marca atingida no e-surf.

Os campeonatos naturalmente atraem a atenção para os eFoils. De acordo com o último relatório da consultoria Predicta Research Hub, divulgado em abril passado, o mercado global, avaliado em US$ 500 milhões em 2024, deve atingir US$ 1,5 bilhão em 2033.

A uma taxa de crescimento anual composta de 15,5%, é um ritmo de expansão  quase duas vezes maior do que o das pranchas de surfe tradicionais.

Assim, o estande da Rise no Catarina Aviation podia até ser o mais acanhado da feira, mas representava um movimento que, confirmadas as expectativas, tem tudo para se tornar gigante.