Criada em 2015, para resgatar a receita e sabor original do brasileiríssimo pão de queijo, feito apenas com polvilho, leite, ovos e muito queijo mineiro, a startup de alimentos NUU viu em seu principal insumo, a mandioca (de onde sai o polvilho) a porta para trazer soluções inéditas ao mercado de ultracongelados.

Apontada pela ONU como alimento do século 21, a raiz ganhou ainda mais vantagem competitiva no início do ano com a alta histórica de 53% do trigo desde o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, países que concentram 29% das exportações mundiais.

Isso, aliado ao fato de ter como propósito ser uma empresa regenerativa, fez com que a NUU entrasse na lista das 50 empresas do mundo a receber o prêmio de “Best Small Business: Good For All”, das Nações Unidas em 2021. Mesmo ano em que inaugurou fábrica própria, em Patos de Minas (MG), que permitirá reduzir em até 15% a pegada de carbono, mesmo com o aumento da produção.

Equipada com 210 placas de energia fotovoltaica, reservatório para 10 mil litros de água de chuva, tratamento de afluente, telhas termoacústicas e composteira para resíduos orgânicos, a fábrica que demandou investimento de R$ 5 milhões permite que o uso de fécula de mandioca chegue a 438 toneladas por ano para produzir de 30 toneladas a 35 toneladas de ultracongelados por mês. Mas pode alcançar 200 toneladas/mês com o processo de expansão.

Hoje tem três linhas de produtos pão de queijo, palitos de tapioca e a recém-lançada pizza de pão de queijo, que foi inspirada na categoria de pizza sem glúten, com a Caulipower como benchmark ( fatura US$ 100 milhões por ano). No fim do ano, a NUU lançará mais dois produtos à base de mandioca (um deles de fermentação natural) e se prepara para entrar em duas novas categorias de ultracongelados no próximo ano.

Gontijo, fundadora da NUU: mandioca na lasanha e no bolo

“Queremos entrar com alternativas saborosas e práticas em segmentos já bem estabelecidos”, conta Rafaela Gontijo, fundadora da NUU, exemplificando com categorias como bolos, lasanhas e refeições prontas a base de trigo já existentes nas gôndolas.

O objetivo é garfar de 3% a 5% de share nos saborosos mercados brasileiros de pães e pizzas congelados (estimados em R$ 1,3 bilhão e R$ 2,8 bilhões, respectivamente, segundo dados da consultoria Euromonitor). E começar a tatear no mar de R$ 3,5 bilhões dos pratos prontos ultracongelados.

Sua distribuição é feita em grandes redes de supermercados como Pão de Açúcar e Carrefour. O canal responde por 60% das vendas, enquanto 18% vem do food service, 16% de pequenos varejos e 7% do online, incluindo lojas em aplicativos de alimentação abastecidos por quatro dark stores estrategicamente posicionadas e o ecommerce próprio, lançado há apenas quatro meses.

“Esse e os mercados são os canais que vemos maior possibilidade de crescimento”, aponta Rafaela. Atualmente a NUU conta com cerca de 700 pontos de venda concentrados principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis, onde acaba de ser montado um time de vendas para cuidar da expansão na região Sul.

Mas a expectativa é chegar a 6 mil pontos de venda no Brasil nos próximos dois anos alavancada pela primeira rodada de captação série A aberta na última semana. O objetivo é atrair R$ 20 milhões para incrementar as áreas de vendas e marketing, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento de produtos, e processos regenerativos ligados a toda a cadeia de fornecimento.

“Nosso foco são fundos de impacto que entendam que uma indústria de alimentos pode crescer a nível global com economia regenerativa, de baixo carbono”, diz ela, que já iniciou conversas com investidores nacionais e estrangeiros.

A internacionalização da marca, a partir dos Estados Unidos será o próximo passo. “Já temos mapeados fornecedores de todos os insumos para fabricar localmente. A ideia é importar apenas a mandioca para reduzir a pegada de carbono ao máximo”, aponta a executiva.

As embalagens também entram na conta da neutralidade de carbono

Para ajudar a manter o comprometimento com o baixo impacto para o meio ambiente, mais do que atuar dentro de casa e compensar as emissões de carbono – no ano passado foram comprados créditos para neutralizar 585 toneladas de CO2 –, a empresa vem se envolvendo em uma série de projetos e estudos junto a Embrapa para tornar toda a cadeia mais sustentável, com a adoção de modelos agroflorestais e de manejo pecuário regenerativo.

“Hoje, meu controle começa na fábrica. Mas 70% das nossas emissões de gases de efeito estufa estão ligadas à cadeia produtiva”, conta Rafaela.