O ex-presidente de distribuição da Arcelor Mittal para a América Latina Philippe Ormancey diz que é preciso “resiliência de aço para trabalhar com vinhos”.

Fundador da importadora-boutique Chez France, em 2012, fazendo a curadoria pessoalmente de vinhos com pequenos produtores franceses, ele levou oito anos e "toda sua indenização" para entrar no breakeven no auge da pandemia, “quando todo mundo passou a beber em casa”.

Aos 62 anos e recapitalizado, retomou este ano o processo de expansão. Comprou os ativos do “mais antigo clube de assinatura de vinhos no Brasil”, o Sociedade da Mesa, que pertencia ao grupo espanhol Vinoselecctión, agregou cinco mil assinantes ao seu "Le Club" e “triplicou o faturamento”.

“Sinergia é a palavra-chave em M&A, e não tivemos desistência significativa nessa transição dos assinantes para a nossa plataforma”, contou Ormancey, ao NeoFeed.

Em setembro, ele vai estrear a Foire Aux Vins (feira de vinhos) em cinco capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Recife) com o selo oficial Taste France, do governo francês, e com a presença de dez de seus produtores exclusivos, como a Maison Vollereaux, Domaine Couly Dutheil, Vignobles Jade de Bordeaux, entre outros.

Por sinal, Ormancey acaba de fechar o fornecimento do champagne brut e blanc de noirs Vollereaux para a classe executiva da Latam em  voos internacionais partindo de São Paulo. Também estreia no off-trade em restaurantes e, em parceria com a multinacional francesa GL, na área de eventos.

Quando completou 50 anos, depois de quatro anos por aqui num trabalho de integração e expansão da Arcellor Mittal, ele queria ficar no Brasil. A carreira “recheada de M&A” que o obrigara a viajar freneticamente o levaria na próxima etapa para a China.

Alguns rótulos de champagnes da Maison Vollereaux passam a ser oferecidos na executiva da Latam

“Foi o Brasil que me tocou. Aí resolvi ficar e empreender aqui. Abri mão de todas as mordomias que um executivo de multinacional tem.”

Foi logo investir em algo que como expatriado sentia falta no país: vinhos franceses de relação custo-benefício justa. “Ou você tinha produtos ícones ou vinhos ruins de supermercado.”

No seu e-commerce, com 300 itens, o tíquete médio é de R$ 120. No clube, tem quatro modalidades de assinaturas que partem de R$ 159 (por dois vinhos).

“Foi esse recorte que entramos, de vinhos franceses premium. Nos concentramos nos pequenos produtores de qualidade, com garrafas que chegam aqui entre R$ 120 e R$ 150 e que não tinham representantes no país por que não interessam para os grandes negociantes.” Hoje, ele também tem buscado produtores no mesmo perfil na Itália, Portugal, Espanha e Grécia.

Petit Loup Carignam, 2021, do Languedoc: R$ 149,00

Para tanto, ele montou uma estrutura logística nos “moldes do que fazia na Arcellor” para trazer os vinhos a partir do porto de Vitória. “Desde o início, queria que o vinho chegasse rápido na casa do consumidor. Tenho um estoque de cinco meses de produtos. E distribuição em São Paulo de até três dias e nos demais estados em até cinco.”

Natural do vilarejo que leva o nome de sua família, Ormancey, na Borgonha, ele cresceu na região “em que se respirava vinhedos”, apesar de não ter “parentes atuando nesse setor”.

Mas por que mudar do aço para o vinho? “Na Arcellor, eu trabalhava com a transformação das bobinas de aço em peças para o setor automotivo, por exemplo”, explica.

“Com o vinho é a mesma coisa. Trago os contêineres com as caixas. Com o marketing, conto a história de cada vinho e faço a distribuição. No fundo, é o mesmo processo de pegar a matéria bruta e levar o valor agregado ao consumidor final.”

Pelo nicho de atuação, ele se tornou um dos principais fornecedores de companhias francesas no país, como o BNP Paribas, e está em seu terceiro mandato no conselho do Comércio Exterior da França no Brasil para a área de vinhos.

“Somos 40 conselheiros de áreas diferentes, o CEO da Renault, da Sanofi e eu da menor empresa, a Chez France”, brinca.

Domaine La Rouillère Grande Reserve Côtes de Provence 2021: R$ 299

Nesta jornada, por seu perfil executivo, atraiu investidores e parcerias de peso, com empresários que se tornaram produtores. É o caso do family office de Bertrand Letartre, do Domaine de la Rouillére, fundador do laboratório Anios vendido para a americana Ecolab em 2016.

“Sua propriedade na Provence fica ao lado do Chatêau Minuty, que foi adquirido pela LVMH.”

Oliver Ginon, fundador do grupo GL, também o procurou para que representasse no Brasil os vinhos de sua Domaine Panéry, em Pouzilhac, tanto no e-commerce, quanto nos eventos que promovem. Agregou, ainda este ano como sócio, o então cliente e advogado Eduardo Cavalcanti, que fica baseado em Recife.

“Ele nos procurou porque queria fazer parte da Chez France e está ampliando nossa capilaridade no Nordeste.” Foi dele a ideia de fazer a feira itinerante para estreitar a relação com os consumidores. “É um entusiasta e me deu gás nessa nova fase da Chez France.”

Seus domínios também estão se expandindo na própria França, depois que conquistou o título de "Chevalier du Tastevin", honraria da confraria secular da Borgonha. "Vou passar a trazer vinhos de posicionamento superior como os de Gevrey Chambertin."