A vida do canadense Shane Parrish foi uma das que mudou drasticamente com os atentados terroristas de 11 de Setembro. “Comecei a trabalhar em uma agência governamental de inteligência [do Canadá] em agosto de 2001. Passadas algumas semanas, veio o 11 de setembro e o mundo mudou para sempre”, recorda.
De repente, todos os funcionários de sua equipe se viram compelidos a assumir posições e responsabilidades para as quais não estavam preparados. Uma das incumbências de seu trabalho era a permanente necessidade de descobrir como fazer coisas que poucos imaginavam ser possíveis — quais, ele não revela, por se tratar de segredo profissional.
E Parrish não estava seguro de suas ações: “Não me cabia apenas resolver problemas complicados e inéditos: a vida das pessoas estava em jogo. Falhar não era opção”.
Certa noite, ao voltar para casa às três da manhã, depois de uma operação cujo resultado não tinha sido o esperado, ele pensava que dali a algumas horas teria de enfrentar seu superior e explicar o que dera errado, no que pensava quando fez as escolhas que fez.
Os questionamentos o atormentaram: “Havia pensado em tudo com clareza? Será que tinha deixado passar alguma coisa? Como eu poderia saber? Meu raciocínio seria exposto e escancarado para o julgamento e escrutínio de todos”.
No dia seguinte, ao entrar na sala do chefe e explicar o que havia passado pela sua cabeça, admitiu que não estava pronto para aquela função ou para o nível de responsabilidade que o cargo exigia.
O interlocutor pousou a caneta, respirou fundo e disse para Parrish não se preocupar: “Ninguém está pronto para este trabalho, Shane. Mas você e sua equipe são tudo o que nós temos.”
“Saí daquela breve reunião com a cabeça a mil. À noite, comecei a me fazer perguntas que não me abandonariam no decorrer da década seguinte. Como melhorar o processo de raciocínio? Por que tomamos decisões ruins? Por que algumas pessoas obtêm resultados melhores do que outras que dispõem das mesmas informações?”, lembra.
Para responder a tudo isso, duas décadas depois, Parrish escreveu Pensamento Eficaz —Como transformar situações cotidianas em resultados extraordinários.
Sabia que teria público interessado em suas ideias, pois é apresentador do The Knowledge Project Podcast e fundador da newsletter Farnam Street, com cerca de 600 mil assinantes, a maioria empresários, executivos e financistas. Lançado no Brasil pela Editora Objetiva, o livro é best-seller do jornal americano The New York Times.
As pequenas situações cotidianas
Formado em ciência da computação, em 2017, Parrish deixou o trabalho de inteligência e passou a se dedicar integralmente às reflexões de autoaperfeiçoamento, a ensinar as pessoas como pensar de forma mais inteligente. Hoje ele também está à frente da gestora Syrus Partners.
Na parte inicial de Pensamento Eficaz, o autor destaca como pequenas situações cotidianas determinam nosso futuro, mas nem sempre nos damos conta disso, só das grandes decisões que tomamos - na vida pessoal, nos negócios e nos investimentos.
Segundo ele, somos ensinados a nos concentrar na ponta do processo em vez de focar nos momentos em que nem percebemos que estamos fazendo uma escolha. No entanto, essas situações banais são, em geral, mais importantes para o nosso sucesso do que as grandes resoluções.
E ter consciência disso nem sempre é fácil, ressalva: “Julgamos que, acertando no peixe graúdo, tudo fará sentido e se encaixará como num passe de mágica. Se escolhermos nos casar com a pessoa certa, tudo ficará bem. Se optarmos pela carreira certa, seremos felizes. Se selecionarmos o investimento certo, ficaremos ricos. Essa sabedoria é, na melhor das hipóteses, uma meia verdade.”
Como ele diz, “você pode até escolher a melhor carreira, mas se não suar a camisa e trabalhar além da conta, não terá oportunidades. Você pode até encontrar o investimento perfeito, mas se não dispuser de nenhuma reserva para investir, esse achado de nada vale”, defende.
Mesmo quando se acerta nas grandes decisões, nada garante que se obterá os resultados desejados. “Nunca encaramos situações cotidianas como decisões. Quando reagimos ao comentário de um colega de trabalho, ninguém dá um tapinha no nosso ombro para nos dizer que estamos prestes a jogar gasolina na fogueira. É lógico que, se soubéssemos que estávamos prestes a piorar a situação, não faríamos isso”, escreve.
Parrish afirma que ninguém quer correr o risco de sacrificar uma década inteira para obter uma vitória momentânea, mas muitas vezes é assim que as coisas acontecem. “Os inimigos do pensamento eficaz — os nichos mais primitivos de nossa natureza — tornam difícil ver o que está acontecendo, servem apenas para complicar a vida.”
A administração das fraquezas
Por tudo isso, prossegue ele, não é de admirar que tenhamos menos energia, mais estresse e a sensação de que estamos ocupados o tempo todo. No dia a dia, afirma, a situação pensa por nós: “Não percebemos na hora porque o vivido nos parece insignificante. Contudo, à medida que os dias se transformam em semanas e as semanas em meses, o acúmulo desses momentos banais faz com que se torne mais fácil ou mais difícil alcançar nossos objetivos”.
O caminho, portanto, é ficar sempre alerta e ser estratégico o tempo todo. “Cada momento da vida nos deixa numa posição melhor ou pior para lidar com o futuro, e é isso que mais cedo ou mais tarde facilita ou complica as coisas. Quando nosso ego assume as rédeas e mostramos que somos o mandachuva, dificultamos o futuro. Quando somos passivo-agressivos com um colega, nosso relacionamento piora. E ainda que, no calor da hora, esses instantes não pareçam relevantes, eles vão se somando à nossa posição atual”.
Essa postura tem a ver com “pensamento eficaz”, a chave para o posicionamento adequado, o que nos permite dominar as circunstâncias em vez de sermos dominados por elas: “Não vem ao caso em que posição você se encontra agora. O que importa é se você é capaz de melhorar sua posição atual. Cada momento corriqueiro é uma oportunidade de tornar o futuro mais fácil ou mais difícil. Tudo depende de pensar de forma eficaz.”
Na segunda metade do livro, o autor mostra como colocar em prática o pensamento eficaz. Para Parrish, tão logo conseguimos fortalecer nossos pontos fortes e administrar nossas fraquezas, somos capazes de transformar o pensamento eficaz em decisões eficazes.
Ele também compartilha as ferramentas mais práticas que podem ser usadas para resolução de problemas. "Por fim, assim que você tiver dominado as habilidades necessárias para que seus padrões funcionem a seu favor e não contra, e tiver potencializado a ferramenta que é sua mente racional”, volte àquela que talvez seja a questão mais importante de todas: definir, para começo de conversa, quais são seus objetivos”.