Quando surgiu, na década de 1920, seu criador o batizou de “contrologia”. Destinado a melhorar a condição física dos feridos na Primeira Guerra Mundial, o método propunha uma combinação de exercícios de força e flexibilidade, com atenção plena, concentração e controle consciente dos movimentos e da respiração. “A completa coordenação de corpo, mente e espírito”, definia o alemão Joseph Hubertus Pilates (1883-1967).

Pouco mais de um século depois, hoje, para muitos de seus praticantes, o pilates é um estilo de vida. Um modo de trabalhar a autoconsciência e a disciplina cujos impactos reverberam para além da atividade. Da alimentação à moda, a filosofia de Pilates conquista cada vez mais adeptos, viraliza nas redes sociais e movimenta uma indústria bilionária.

“Por ser de baixo impacto, antigamente, o pilates se restringia a idosos, gestantes e pessoas lesionadas”, diz o fisioterapeuta Arthur Murillo Costa, professor da prática no Studio Mormaii, em São Paulo. “Depois da pandemia, com o aumento da busca por hábitos mais saudáveis, ocorreu o boom.”

Para efeito de análise de mercado, as estatísticas referentes ao pilates se somam às da ioga. Globalmente, os estúdios de ambas as modalidades movimentaram, em 2024, US$ 120,9 bilhões e, até 2035, devem chegar a US$ 520,6 bilhões, evoluindo a uma taxa de crescimento anual composta de 14,3%, conforme a consultoria Allied Market Research.

Em números absolutos, os praticantes e centros de ioga são maiores. Mas o ritmo de avanço do pilates é mais acelerado. Os Estados Unidos servem de paradigma para a nova tendência. Entre 2019 e 2024, os adeptos do método alemão cresceram 40%, enquanto os seguidores da disciplina indiana, 23,6%, mostra a Sports & Fitness Industry Association.

O Brasil vive um fenômeno semelhante. De 2020 a 2024, a procura por pilates registrou crescimento de 313%, segundo dados de check-in da plataforma fitness Wellhub. A modalidade é agora a segunda mais procurada, atrás apenas da musculação.

Com o aumento da demanda, a oferta também tem se ajustado de forma acelerada. De acordo com dados da Metalife, uma das maiores fabricantes de equipamentos de pilates do mundo, existem cerca de 60 mil estúdios no país. Aos quais, até o final de 2025, devem ser acrescidas mais 5,5 mil unidades — a maior evolução já registrada pela marca.

Os "novos" pilates

A clientela cresce e se diversifica. A adesão de celebridades ao método, naturalmente, ajuda a impulsionar a tendência. Há gente de todas as idades e perfis: de sedentários a atletas de alta performance, como o jogador português Cristiano Ronaldo.

Alguns seguem o programa clássico, como proposto pelo preparador alemão. Outros, porém, se engajam em novos “tipos” de pilates. Tradicionalmente, as aulas são silenciosas e para poucos alunos: três a quatro, no máximo. As vertentes atuais propõem classes coletivas — mais baratas, democratizam a prática. E oferecem variações ao programa original.

O “mat pilates”, por exemplo, é feito no chão apenas com o peso do corpo. O aéreo, por sua vez, incorpora atividades circenses. Já o “power pilates” se configura uma versão mais intensa, sem descanso entre um exercício e outro. Ou seja, tem pilates para todos gostos.

Antes chamado de One Pilates e voltado para a população mais velha, o Aera Pilates, estúdio do grupo Smart Fit, aposta no “pilates reformer”, realizado 100% em uma espécie de cama de hospital, com uma plataforma deslizante, molas, cordas e alças, que permite a realização de uma vasta gama de exercício — o aparelho é umas 26 invenções patenteadas por Pilates.

“Percebemos que o perfil real das nossas clientes era mais jovem e buscava uma experiência intensa e transformadora, enquanto a comunicação inicial era mais clássica e voltada a um público maduro”, afirma Raíssa Bittar, dos studios Smart Fit. “No processo, partimos de três pilares: força, longevidade e lifestyle, que são colocados em prática nos nossos treinos coletivos de 50 minutos.”

O jogadro Cristiano Ronaldo pratica o pilates para ganhar força e felxibilidade e, assim, evitar lesões (Foto: Reprodução Instagram)

Para a última Berlin Fashion Week, a estilista alemã Clara Colette Miramon criou uma coleção inspirada na filosofia de Joseph Pilates. Alinhados nos dois lados da passarela, os aparelhos reformer decoravam o desfile (Foto: Reprodução)

Nas redes sociais, os vídeos que ensinam o "pilates na parede" fazem um baita sucesso

A executiva conta que, com a mudança, o Aera já é a vertical com a maior ocupação no segmento de estúdios, composto também por Race Bootcamp e Velocity. As aulas de pilates apresentam uma ocupação de 75%. Apenas em 2025, a marca prevê inaugurar 15 novas salas do Aera Pilates.

Esse movimento também é visto em academias “tradicionais”, como a Bio Ritmo. Por lá, a categoria de pilates cresce cerca de 20% ao mês, grande parte das vezes combinada a treinos de musculação e outras modalidades.

“Temos desde alunos que estão começando a se exercitar agora e veem o pilates como uma alternativa à musculação, passando por pessoas que buscam variar o tipo de treino, até quem usa o pilates para potencializar a performance em outras atividades”, afirma Laís Barbelli, da Bio Ritmo.

Assim, o pilates segue conquistando adeptos. Nas redes sociais, hashtags como #pilatesgirl e #pilatesmom ou mesmo #pilatesparatodos alcançam milhares e milhares de citações.

Entre os vídeos mais acessados estão os de “pilates na parede”, um programa a ser seguido em casa, sem a necessidade de aparelhos. Batam apenas um tapete de exercícios, um vídeo explicativo dos movimentos e… uma parede.

Marcas fitness como a canadense Lululemon, a californiana Alo e a brasileira Track & Field lançaram roupas desenhadas exclusivamente para a prática.

Para ter ideia da efervescência em torno da filosofia de Pilates, na Berlin Fashion Week, em julho do ano passado, a estilista alemã Clara Colette Miramon levou para o desfile uma “coreografia” em que as modelos simulavam os movimentos dos exercícios.