Enchentes com mortes sempre existiram e os arquivos de jornais mostram isso. Até há pouco tempo, porém, contava-se nos dedos essas tragédias de grandes proporções ao longo de décadas. Algo de estranho, portanto, está acontecendo porque tempestades com deslizamentos e números alarmantes de mortos estão cada vez mais corriqueiras, assim como incêndios florestais sem controle.

Embora teimem em não atribuir essas catástrofes aos problemas climáticos por causa aquecimento crescente do planeta provocado pelo consumo de combustíveis fósseis, desmatamentos e queimadas, esses negacionistas são em número cada vez menor.

Nos últimos anos, com o avanço das mudanças climáticas e seus impactos econômicos e sociais, a bandeira ESG se tornou critério fundamental para orientar os investimentos estratégicos nas companhias.

Não é precisamente disso que trata o novo livro do jornalista e ambientalista norte-americano Matthew Shirts, Emergência climática: O aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor (Coleção Tirando de Letra), da Editora Claro Enigma. Mas tem tudo a ver e leva o leitor a uma compreensão didática da questão ambiental.

O autor vive no Brasil desde 1976 e sua obra foi escrita em parceria com o Greenpeace Brasil. Em linguagem direta e descomplicada, ele explica dois assuntos de alta relevância em qualquer discussão sobre meio ambiente: o aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas.

Em linguagem direta e descomplicada, o autor explica dois assuntos de alta relevância em qualquer discussão sobre meio ambiente: o aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas

Shirts parte do que se pergunta há décadas: se hoje sabemos que o aquecimento global é um fato e que uma mudança climática de grandes proporções está em curso, é preciso agir rápido para evitar que o pior ocorra.

Ele recupera, em primeiro lugar, a longa história protagonizada por cientistas e ativistas até eles fazerem o alerta e o que têm feito desde então para provar aos governos das grandes potências, principalmente, e à população em geral, que a Terra está esquentando por ações do homem – único ser com o poder de mudar o curso dos acontecimentos.

Com detalhes, gráficos e fotografias, o jornalista também dedica capítulos sobre os mais relevantes temas ligados ao assunto: como sabemos que o mundo está esquentando, os cientistas e os desafios de um acordo climático com os países mais ricos – alguns ainda resistentes –, o Brasil como potência ambiental em todo o mundo, para onde caminha a humanidade no atual estado das coisas e pergunta se é preciso transformar a Amazônia para salvá-la do acelerado processo de desmatamento que tem passado nos últimos três anos.

“Precisamos ter certeza de que a temperatura está subindo e, se estiver, em quantos graus, para definir quais providências devem ser tomadas”. Pois é, informação, nesse caso, faz toda a diferença. Shirts explica que o cálculo do aumento da temperatura global é feito por meio de uma média da temperatura checada ao longo dos anos — ou seja, “chega-se a um número que fica entre as maiores e menores medições”. Isso é uma preocupação tão antiga que tem sido feito desde 1850.

O cálculo do aumento da temperatura global é feito por meio de uma média da temperatura checada ao longo dos anos. Isso é uma preocupação tão antiga que tem sido feito desde 1850

As mudanças climáticas são o resultado do aquecimento global, portanto. Como secas mais prolongadas, ondas de calor mais frequentes e mortíferas, as chuvas mais intensas, os furacões de maior desenvoltura e mais lentos, entre outros fenômenos extremos. Até algumas ondas de frio, dentro e fora do Brasil. “Isso acontece por causa de uma quantidade maior de energia solar capturada por gases de efeito estufa no globo terrestre” – que ele explica como isso funciona em detalhes.

A pandemia não poderia ser melhor comparativo para se entender a questão climática. “Pare um instante e imagine se você soubesse de antemão tudo o que aconteceria em 2020: a pandemia de covid-19, a crise econômica, as mortes e os hospitais abarrotados, o distanciamento social, o sofrimento obsceno dos doentes. Digamos que um ano, dois, ou, quem sabe, até mesmo dez. O que você faria com o tempo anterior à crise? Como agiria diante da certeza de que, mais cedo ou mais tarde, chegaria o dia que transformaria tudo?”

Compraria, pergunta o autor, um estoque de álcool gel e máscaras? Avisaria os parentes, os amigos e a sociedade, mesmo correndo o risco de ouvir risadas em resposta? “Pois é exatamente essa a situação dos cientistas do clima”, afirma Shirts. Ele se refere aos que dedicam a vida para entender o que acontece com o sistema climático do planeta Terra.

“Assim como os médicos, os cientistas e os estudiosos de pandemias, os climatologistas sabem que nossa vida vai mudar”. E têm conhecimento disso há décadas, embora não tenham certeza de quando exatamente a parte mais terrível vai acontecer.

“Assim como os médicos, os cientistas e os estudiosos de pandemias, os climatologistas sabem que nossa vida vai mudar”. E têm conhecimento disso há décadas, embora não tenham certeza de quando exatamente a parte mais terrível vai acontecer

Os primeiros sintomas, no entanto, estão aí. Os anos de 2015 a 2019, cita o autor, foram os mais quentes da história. “Isso é perigoso? Sim, e muito, porque é cumulativo. E só vai piorar”. A má notícia, escreve ele, é que os estudiosos do clima já chegaram à conclusão de que não é mais possível evitar os impactos de uma grande crise no mundo inteiro: “os furacões serão cada vez mais fortes e perigosos; as chuvas e as secas, mais intensas”.

Sabe aquela história de filme-catástrofe de que o nível do mar vai subir e começar a invadir cidades ao redor do planeta, como Nova York, Recife, Rio de Janeiro, Miami e Santos? Está a caminho.

No estado da Flórida, cita ele, algumas cidades já são inundadas regularmente. “A temperatura média da Terra continuará a aumentar e não deve parar tão cedo — talvez nunca pare, aliás, se nós, a humanidade, não tomarmos providências”. Nesse sentido, Shirts tem boas notícias: cientistas, engenheiros e ativistas do mundo todo já têm muitas soluções e ideias para evitar o pior.

Muitos daqueles que já anteviam esse futuro preocupante, escreve ele, vêm se dedicando, ao longo das últimas décadas, a montar planos para enfrentá-lo. “O primeiro passo que deve ser dado em escala global e, de longe, o mais urgente, é parar o quanto antes a queima dos chamados combustíveis fósseis”.

Carvão mineral, petróleo, gasolina, gás natural (fóssil) e óleo diesel são os principais responsáveis pelos gases de efeito estufa que estão aquecendo o ar, os mares e todo o sistema climático do nosso planeta. Comer menos carne ajudaria também, bem como plantar mais árvores.

“No Brasil, o mais importante é preservar a floresta Amazônica. Nós fomos avisados! E por diversas frentes. Essa crise é cantada em verso e prosa nos filmes e na mídia há décadas”.

O problema é que os governantes que são capazes de tomar medidas contra a crise do clima não quiseram — e, às vezes, ainda não querem — ouvir ou fizeram pouco-caso do anúncio.

O problema é que os governantes que são capazes de tomar medidas contra a crise do clima não quiseram — e, às vezes, ainda não querem — ouvir ou fizeram pouco-caso do anúncio

“Muitos políticos, como por exemplo o ex-presidente americano Donald Trump, que retirou os EUA do tratado de Paris contra o aquecimento global, e o presidente Jair Bolsonaro, do Brasil, tentam ainda hoje negar a existência da crise climática, da mesma maneira que fizeram quando a covid-19 se manifestou. Acabaram conhecidos como ‘negacionistas’”.

Como diz Carolina Pasquali, Diretora Executiva do Greenpeace Brasil, na apresentação do livro, um dos desafios é explicar às pessoas o que está acontecendo de um jeito simples, mas fiel aos dados apresentados pela ciência. E convencê-las de que, “sim, temos um problemão” a ser enfrentado ainda por essa geração.

“Como fazer isso sem causar paralisia ou desalento, nadando contra a maré de fake news que invade as redes sociais, o YouTube, o WhatsApp e até mesmo nossas interações ao vivo?” O caminho passa, também, por abrir espaço para os jovens liderarem a conversa sobre que mundo é esse em que eles querem viver.

Serviço:
Emergência climática – O aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor
Coleção Tirando de Letra
Editora Claro Enigma
112 páginas
R$ 49,90