Em outubro de 2007, quando o Brasil foi anunciado como o país anfitrião da Copa do Mundo de 2014, Mark Zammit morava há menos de dois anos no País. Nascido em Malta, o então diretor de marketing da L'Oréal Brasil não deu muita bola para a notícia.
De julho de 2011 até o momento em que a Alemanha sagrou-se tetracampeã, no entanto, Zammit não pensou em outra coisa. Isso porque ele deu adeus à gigante dos cosméticos para comandar uma empresa criada com o intuito de tocar as operações de alimentos e bebidas em arenas esportivas.
Trata-se da Infront Hospitality Management Ltda, embrião da Gourmet Sports Hospitality (GSH), fundada pelo maltês em março de 2013. No mesmo ano, ele deu início a uma parceria que dura até hoje com o Allianz Parque e que faz de Zammit o maior anfitrião do estádio do Palmeiras.
Na arena do time verde, a GSH responde por absolutamente todas as bebidas e comidas — da cerveja vendida em qualquer show às iguarias servidas nos camarotes em dias de jogos.
A empresa também administra os dois restaurantes em operação, o Nagairô Sushi, inaugurado em 2017, e o Braza, que abriu as portas em maio deste ano. O terceiro estabelecimento do grupo no Allianz, o La Coppa, entrará em operação no dia 7 de julho. Colado ao Braza, focará na culinária italiana tradicional.
Os três estabelecimentos — todos no terceiro andar, com mesas voltadas para o gramado — funcionam como um restaurante normal. Quando há jogo ou show, trabalham com pacotes especiais. Em outras palavras, são convertidos em ótimos camarotes. Colados um ao outro, o Braza e o La Coppa descortinam uma vista privilegiada da área na qual os palcos costumam ser montados. No Nagairô, a visão dos shows não é das melhores.
O Braza foi decorado com cipós, bambus e avencas naturais, ganhou móveis rústicos, teto espelhado e um balanço “instagramável”. A cozinha está a cargo do chef Giovanni Renê, vencedor da última edição do reality show “Top Chef Brasil”, da Record. O tartar de peixe com focaccia tostada, finalizado com purê de manga e lardo, e o galeto preparado com molho ponzu dão uma ideia do cardápio.
Do balcão de granito, com iluminação interna, saem drinques como o Açaí Sour. Junta vodca infusionada com cumaru, açaí, suco de limão-siciliano, xarope de açúcar e albumina. “Queremos elevar o padrão do que é servido nos estádios”, afirma Zammit, que investiu R$ 6 milhões no Braza e no La Coppa.
Inicialmente, quando começou a apostar no segmento, o maltês era sócio do Kofler, grupo alemão que é referência no ramo de alimentos e bebidas em estádios e foi escalado para as Copas da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010.
O pontapé inicial da GSH no segmento foi a Copa das Confederações de 2013, no Brasil. Com um serviço de catering que atendeu 35 mil pessoas, a companhia marcou presença nos seis estádios incluídos na competição.
Na Copa do Mundo no Brasil, a empresa se ateve aos estádios que concentraram a maioria das partidas — Mineirão (Belo Horizonte), Maracanã (Rio de Janeiro), Itaquerão (São Paulo) e Mané Garrincha (Brasília).
Ao longo da competição, a GSH serviu mais de 220 toneladas para cerca de 250 mil pessoas. Na final, na qual a Alemanha derrotou a Argentina por 1 a 0, a GSH driblou a fome de mais de 20 mil torcedores.
Desde o início, porém, Zammit também estava de olho nos 12 novos estádios construídos ou reformados para as duas competições. “Eles trouxeram novas oportunidades para o setor de alimentos e bebidas que resolvi aproveitar”, resume
ele.
No mesmo ano em que deu início à parceria com o Allianz, a GSH assinou contrato com o Mineirão para assumir todas as operações gastronômicas da arena por cinco anos. A GSH também faturou com as Olimpíadas do Rio, em 2016, e com a Copa da Rússia, em 2018, na qual atuou em dois estádios.
“Geralmente, os estádios contratam uma empresa para cuidar dos bares, outra para montar os bufês e por aí vai”, explica o empresário, de 46 anos. “A minha se encarrega de tudo, o que facilita a vida dos administradores e padroniza a qualidade do que é servido para todos os públicos.”
Ele defende que comida e bebida em estádios não são um mero detalhe. “O que move o público são os artistas que sobem no palco e os times que entram em campo, mas ninguém quer pegar fila para comprar comida ou encarar cerveja quente”, argumenta. “São contratempos que interferem bastante na experiência.”
Ele não revela quanto a GSH fatura, mas a empresa do empresário maltês já saciou a fome e a sede do público de quase 400 partidas de futebol e de mais de 150 shows de nomes nacionais e internacionais — de Paul McCartney a Gusttavo Lima. E ainda prestou serviços para mais de 550 eventos corporativos. De acordo com a Associação Brasileira de Eventos, a Abrafesta, o segmento fatura cerca de R$ 300 bilhões por ano.
Por atuar em diversas frentes, a GSH tem concorrentes dos mais variados tipos e portes. É o caso do bufê do restaurante da chef Morena Leite, o Capim Santo. O foco desse negócio é alimentar multidões em áreas VIPs de eventos como os festivais Lollapalooza e Rock in Rio.
No Estádio do Morumbi, um concorrente conhecido é o restaurante By Koji, que funciona no local desde 2013. Globalmente, a GSH disputa concorrências de grandes arenas com o grupo Kofler.
Determinado a expandir a empresa, Zammit está de olho em outros estádios que topem firmar o mesmo tipo de contrato estabelecido com o Allianz Parque — o empresário diz estar em conversas avançadas com mais uma arena brasileira.
Desde janeiro, abriu uma nova frente assumindo a operação de alimentos e bebidas da Qualistage (ex-Metropolitan), no Rio de Janeiro. Por isso, está prospectando outras casas semelhantes, além de eventos corporativos em centros de convenções.