Eles são responsáveis pela marca de vinho verde português mais vendido no Brasil, o Casal Garcia, com 1,9 milhão de garrafas ao ano. Mas está na outra parcela do total enviado anualmente ao país, as maiores perspectivas da Aveleda ampliar e qualificar o mercado por aqui.
Essa pequena e quase desconhecida fatia do portfólio, formada por vinhos de alta gama que fogem do padrão dos vinhos verdes que fez fama à vinícola, deverá não só crescer no volume de rótulos quanto em qualidade nos próximos três meses.
Com foco em um público mais exigente e de maior poder aquisitivo, a expectativa é passar dos 7% em volume de vendas de exemplares de alta gama no Brasil para 9% até 2025. Com isso, o faturamento dessa categoria no país que hoje está em 11% passará a 14% do total.
“Agora que já explicamos ao consumidor o que é o vinho verde típico podemos avançar para os vinhos brancos de castas, de parcelas e outros ainda mais complexos. É importante nos desenvolvermos passo a passo”, afirma ao NeoFeed Gustavo Monteiro, diretor comercial do grupo Aveleda.
Por vinhos verdes típicos entenda-se os produzidos na região portuguesa demarcada como tal em 1908, entre os rios Douro e Minho, que apresentam alta acidez, leveza, refrescância, notas frutadas e de baixo teor alcoólico, e são feitos a partir do blend de uvas (especialmente a trajadura, avesso e arinto).
Enquanto os de alta gama, mais estruturados, com maior teor alcoólico e capacidade de envelhecimento (até mesmo em barricas de carvalho), são elaborados principalmente como monovarietais das castas alvarinho e loureiro.
“A alvarinho é a estrela do vinho verde de alta gama. Dá vinhos incrivelmente bons. A região merece mais atenção do que recebe ainda hoje”, garante Arthur de Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-SP), destacando as marcas ícones do segmento nesta categoria, Soalheiro e Ancelmo Mendes.
Assim, aos três vinhos de alta gama da linha Aveleda já vendidos no Brasil pela Interfood – feitos com as castas loureiro e alvarinho, e vendidos entre R$ 85 e 115 –, se unirão o Alvarinho Solos de Xisto (R$ 190), Alvarinho Solos de Granito (R$ 190), Alvarinho Parcela do Roseiral (R$ 350) e Loureiro Parcela do Convento (R$ 350), mais encorpados, gastronômicos, e com menor teor de fruta e acidez.
Além disso, chega o vinho comemorativo Manoel Pedro Guedes, lançado em 2019 em homenagem ao fundador da empresa de 150 anos, “feito apenas com as melhores uvas loureiro e alvarinho das melhores parcelas da Quinta da Aveleda” e que sairá apenas nas melhores safras. Das 1.500 garrafas expedidas na primeira edição, no máximo 20 deverão chegar ao Brasil por R$ 1.850.
“São grandes vinhos brancos feitos na região do vinho verde que o consumidor ainda não conhece. É preciso um trabalho grande de divulgação para mostrar que um não substitui o outro”, aponta Martim Guedes, co-CEO do grupo, ao lado do primo António Guedes.
Iniciado em 2015, o projeto de expansão da vinícola no segmento premium teve início na própria zona do vinho verde, com a compra de novas terras para produção própria, passando de 150 hectares, para 450 hectares de vinhedos.
Em seguida veio o avanço em novas regiões, começando pelo Douro, onde à aquisição da Quinta Vale do Sabor em 2016 se seguiu a da premiada Quinta Vale Dona Maria, de Cristiano Van Zeller.
No total são 80 hectares na região vinícola mais famosa de Portugal, mas que não respondem por 5% da produção total do grupo Aveleda, apesar de ser a grande aposta no Brasil por se tratar de uma marca já bem estabelecida.
“Foi todo um novo segmento que nasceu porque há maior interesse por vinhos de alta gama em todo o mundo”, diz Guedes, que agora tem como metas não só um ambicioso objetivo comercial como a consolidação do grupo no topo da pirâmide. “Queremos ter todos os estilos de vinhos de Portugal”, completa ele, que é membro da quinta geração da família à frente da Aveleda.
Recentemente, a empresa também comprou propriedades no Algarve (Villa Alvor) e na Bairrada (Quinta d’Aguieira), onde têm parcelas menores, de 80 e 18 hectares respectivamente. Juntas, as produções ainda não respondem a 1,5% do volume total.
Dos 22 rótulos existentes no portfólio do grupo em 2013, quando ele assumiu a direção, hoje são 81, sendo 62% de vinhos premium. Segmento que responde por 10% do faturamento total da empresa, com potencial de chegar a 20% até 2030.
Em 2022, a empresa apresentou faturamento recorde de 46 milhões de euros, com produção de 22 milhões de garrafas, majoritariamente de Casal Garcia, carro-chefe do grupo. A perspectiva é chegar a 53 milhões de euros em 2025, com 7% disso referente aos vinhos de alta gama.
Em 10 anos as vendas globais aumentaram 80%, mas não necessariamente na linha de alta gama “porque são parcelas muito pequenas”, principalmente se comparadas a um Casal Garcia Verde, que sozinho vende 15 milhões de garrafas ao ano. E, apesar do prestígio que trazem, não querem mudar essa equação.
“O que quero é que a empresa cresça como um todo. Se conseguir conciliar esse lado tradicional e familiar com inovação, dinamismo e crescimento de olho no que o consumidor deseja estamos bem”, afirma o CEO.
Atualmente, 70% da produção do grupo é exportada – com expectativa de que passe a 75% até 2030. Desde 2019 o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking, antecedido apenas pelos Estados Unidos.
“O Brasil tem 80 milhões de consumidores de vinho que falam português, então temos um potencial muito grande aqui. Acho mesmo que vocês vão passar os EUA, ainda mais com o crescente interesse pelo vinho branco”, diz Guedes.