O bilionário americano Bill Ackman, fundador e CEO do fundo hedge Pershing Square, resolveu dar uma de cupido. Em post recente no X, para ajudar os rapazes com dificuldades para conhecer moças em ambientes públicos, ele decidiu compartilhar conselhos amorosos.

E, aos 59 anos, lembrou de seus tempos de galanteios como estudante na Universidade Harvard. Um flerte bem-sucedido, tuitou ele, começa com a pergunta: “Posso te conhecer?”

“Quase nunca recebia um ‘não’. Isso inevitavelmente abria a oportunidade para uma conversa mais longa. Conheci muitas pessoas interessantes dessa forma”, contou. “Acho que a combinação de gramática correta e educação era a chave para a eficácia dessa estratégia.”

Como matchmaker, um dos mais polêmicos e agressivos investidores de Wall Street agitou a internet. Em poucos dias, sua postagem no X ultrapassou 38 milhões de visualizações, promoveu quase 5 mil comentários e rendeu muitos memes (veja alguns na galeria de imagens abaixo).

Alguns usuários seguiram a orientação de Ackman e funcionou. Outros não tiveram a mesma sorte. “Tentei isso na cafeteria. Perguntei para uma garota bonita sentada ao meu lado: ‘Posso te conhecer?’ Ela disse não. Fim”, reclamou @Mr_Derivatives.

Empenhado em combater a cultura online, que, em sua opinião, destruiu os encontros espontâneos, o financista incentivou o rapaz a tentar de novo e não ter medo de ser rejeitado — “Não é a garota certa para você. Quem está perdendo é ela.”

Muitos argumentaram que a estratégia só deu certo por causa da conta bancária de Ackman — US$ 9,2 bilhões, em setembro. “Eu não tinha nem dois centavos naquela época”, rebateu o investidor. E houve quem achasse a estratégia “desatualizada”: “Cara, isso não é o Reino Unido de 1850 😂😂😂”, zombou @uponlytech.

Já o autointitulado coach de performance Michael Sartain procurou ser mais didático: “Bill, tenho muito respeito por você, mas tenho percebido que as pessoas casadas há muito tempo não têm noção de como o cenário dos relacionamentos mudou por causa dos aplicativos de namoro e das redes sociais. Aprecio suas sugestões em teoria, mas elas não são práticas em 2025”.

Ackman está no segundo casamento. O primeiro, com Karen Ann Herskovitz, durou de 1997 a 2017 e o casal teve três filhas — Eliza, Lacie e Blaise, todas já adultas. Desde 2019, ele está com a designer Neri Oxman, a celebrada ex-professora do Massachusetts Institute of Technology (MIT), com quem tem Aléa, de seis anos.

Dizendo-se “felizmente casado”, o gestor conheceu a artista por intermédio de um antigo professor dele. “A descrição era muito convincente e ele [o professor] me convidou para jantar em sua casa com ela [Neri] e o namorado dela na época. Mas eu recusei o convite. Seis meses depois…”, contou ele a um assinante do X.

Menos gente no mundo

Orgulhoso de no passado já ter sido responsável pelo enlace de quatro casais amigos, Ackman terminou sua “aula” explicando estar preocupado com a felicidade da próxima geração e com a queda nas taxas de natalidade.

Esta, aliás, é uma apreensão cada vez maior entre os conservadores de Wall Street e do Vale do Silício. Para eles, um mundo com pouca gente é uma ameaça ao capitalismo.

Ackman nunca se declarou um pró-natalista como Elon Musk ou Peter Thiel, mas, nos últimos anos, vem dando sinais de alinhamento às teorias de incentivo à procriação — o que ficou evidente na última frase de seu tuíte sobre como ser bem-sucedido na paquera.

Um estudo publicado em março de 2024 na revista científica The Lancet projeta: até 2100, cerca de 97% dos países terão taxas de fertilidade abaixo do limite de reposição — menos de 2,1 filhos por mulher.

Ou seja, ao longo do século é bem provável que o mundo entre em declínio populacional, conforme dados do centro independente de pesquisa Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, sediado na Universidade de Washington. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de fertilidade é de 1,6. Na China, de apenas um, e, na Alemanha, de 1,3.

Para pensadores como o americano Peter Zeihan, analista geopolítico e especialista em relações internacionais, o declínio populacional levará a crises econômicas e ao colapso do sistema capitalista tal qual o conhecemos hoje — desfazendo uma ordem mundial estabelecida depois da Segunda Guerra Mundial.

A queda da natalidade e o envelhecimento da população quebram o modelo econômico dominante construído sobre a premissa de crescimento contínuo — mais produção, mais mão de obra, mais consumo.

Menos jovens resulta em escassez de trabalhadores, encarecendo os salários, aumentando os custos trabalhistas e pressionando as empresas. Paralelamente, a demanda por bens e serviços diminui, já que eles são os maiores consumidores. Além disso, são os economicamente ativos que geram poupança e investimento, impulsionando o setor privado. Uma população envelhecida acumula menos capital.

Mas, para boa parte dos economistas, analistas políticos,  cientistas sociais e ecologistas, a solução para o momento de inflexão no qual o mundo se encontra hoje passa ao largo das teorias pró-natalistas. O tão temido “colapso populacional” é, na opinião deles, puro alarmismo — que ignora a capacidade de adaptação das economias.

Uma das demógrafas mais influentes do mundo, a britânica Sarah Harper argumenta que o declínio da fertilidade não é uma crise, mas uma transição demográfica positiva — marcada por mais educação, maior autonomia feminina e sociedades mais saudáveis.

Para a professora da Universidade de Oxford, a resposta ao envelhecimento populacional não é aumentar os nascimentos, mas adaptar os sistemas econômicos, investir em longevidade, repensar o trabalho à luz das novas tecnologias e apoiar a imigração.

Incentivar a procriação é ainda uma temeridade em um planeta à beira do colapso climático, defendem os antinatalistas. Além disso, políticas pró-natalistas têm se revelado ineficazes.

Veja o caso da Coreia do Sul. Desde o início dos anos 2000, o país vem tentando atacar o problema demográfico com incentivos diretos às famílias com bebês.

Conforme a agência de notícias Reuters, em 2025, devem ser investidos cerca de US$ 13,5 bilhões nos programas pró-natalidade.

Mas, conforme dados da agência sul-coreana de estatísticas, a taxa de fertilidade entre 2023 e 2024 subiu de 0,72 para 0,75 — muito aquém para a população começar a ser reposta.

Os conselhos de Ackman como incentivo para reverter o declínio populacional, como se vê, são duvidosos. Mas, antiquados ou desajeitados, como instrumento de paquera têm lá seu valor. Com a vida confinada nas telas, os mais jovens não desenvolveram os traquejos da conquista romântica.

Diversos estudos já estabeleceram uma correlação negativa entre o tempo passado nas redes e as habilidades sociais afetivas — sobretudo entre os meninos, de quem ainda (por influência do patriarcado) são esperadas as iniciativas. No romance, eles nunca foram tão tímidos e estiveram tão intimidados como agora.