Das capinhas de plástico para título de eleitor, vendidas nas ruas do Rio de Janeiro, na década de 1940, ao Grupo Silvio Santos (GSS), conglomerado com cerca de 30 empresas, Silvio Santos enfrentou momentos dramáticos em sua trajetória como homem de negócios. O mais duro deles aconteceu em 2010, com a revelação de fraudes no banco PanAmericano, até então líder de faturamento do GSS. Foi o maior escândalo financeiro naquele começo de década.

Desde 2006, carteiras de créditos vendidas a outras instituições continuaram registradas nos livros da instituição financeira, fazendo parte do ativo. Em outubro, o Banco Central (BC) revelou o tamanho do rombo: R$ 4,3 bilhões. Investigações do Ministério Público Federal identificaram saques em espécie de cerca de R$ 16 milhões, em benefício de diretores do banco.

Silvio entrou em pânico. “Nós estamos prestes a perder tuto. Tudo”, teria dito.

Pela lei, ele teria dois meses para apresentar um plano de recuperação ao BC, mas, em três semanas, ele trouxe a solução. Em uma atitude raramente vista entre empresários, Silvio ofereceu todo seu patrimônio como garantia por R$ 2,5 bilhões, do Fundo Garantidor de Empréstimo (FGC).

Em 2011, o controle do PanAmericano foi vendido para o BTG Pactual, por R$ 270 milhões, segundo o jornal Folha de S. Paulo.

 

Apontada como sucessora do pai no comando do GSS, a caçula Renata é a mais discreta das seis filhas (Reprodução Instagram @silviosantostv)

Pouco depois do escândalo, Silvio cogitou vender tudo e se mudar para os Estados Unidos. Mas, o apresentador recebeu uma oferta de R$ 1 bilhão da Coty pela Jequiti, a empresa de cosméticos do GSS, responsável à época por cerca de 0,5% das vendas da holding.

Silvio percebeu o potencial da marca, fundada em 2006, desistiu da venda e, pelos dois anos seguintes, ainda conforme a Folha de S. Paulo, investiu R$ 350 milhões, na companhia. Quitou financiamentos, aumentou a produção e ampliou a rede de distribuição.

Com 500 produtos em seu portifólio, aproximadamente, e 260 mil consultoras em todo o Brasil, hoje os cosméticos e perfumes representam 20% do faturamento do GSS. Com receitas em torno de R$ 450 milhões, a Jequiti representa o segundo maior patrimônio do grupo, depois do SBT, com R$ 1 bilhão, em 2019. Em terceiro lugar, vem a Liderança Capitalização, ultrapassada pela marca de beleza, em 2014.

Desde junho, o GSS negocia a venda da Jequiti para o laboratório Cimed. A aquisição só não foi fechada porque, de um lado, a Cimed quer controle total sobre a sobre a companhia. De outro, as herdeiras de Silvio (a mulher Iris e as seis filhas) querem mais do que os R$ 450 milhões oferecidos.

O comando da Jequiti é hoje de Renata Abravanel, de 36 anos, a caçula de Silvio. A mais discreta das seis filhas, toma conta também da emissora e afiliadas, do hotel Jequitimar, no Guarujá, da Liderança Capitalização, da Sisan Empreendimentos e da SS Participações.

Como se diz no mercado, ela vem sendo preparada para presidir o GSS desde 2010. Quando o PanAmericano, Silvio passou o controle da holding para o sobrinho Guilherme Stoliar, mas as filhas, sobretudo Renata, participavam das decisões. A última palavra, no entanto, sempre cabia ao apresentador. Com a saída de Stoliar, em 2020, a caçula assumiu o posto.

Formada em administração pela Liberty University, no estado americano da Virginia, nas raras entrevistas, Renata sempre exalta a importância do pai como seu mentor.