CANNES - Ainda faltam duas semanas para o início do festival de cinema de Cannes, no sul da França, mas a agitação no hotel Le Majestic já é grande. A pouquíssimos metros do Palais des Festivals, onde ocorre o evento, o cinco estrelas do grupo Barrière está com lotação esgotada há muito tempo.
Nos 12 dias de festa (16 a 27 de maio), o Le Majestic recebe a nata do cinema e da moda internacional. Em um passeio pelo hotel, em cada canto, tem foto de alguma celebridade. Cerca de 2,5 mil imagens revelam quem já passou pelo edifício com fachada Art Déco, de frente para a praia, na famosa avenida La Croisette.
Com diárias entre 15 e 42 mil euros, as suítes mais sofisticadas são alugadas por marcas de luxo. Chanel, Dior, Saint Laurent, Louis Vuitton, Prada, Gucci, Boucheron, e Pomellato, entre outras, montam showrooms, onde seus convidados se arrumam para cruzar o tapete vermelho do Grand Palais.
Toda pompa e circunstância fazem do Le Majestic um flagship do Barrière. Assim como o Le Normandy, em Deauville, no noroeste francês, onde o negócio familiar nasceu, 111 anos atrás. O grupo compreende 19 hotéis de luxo, cerca de 140 restaurantes e bares e 33 cassinos, além de empreendimentos no setor do entretenimento, com espetáculos de teatro, cabaré e ballet. Em 2022, o Barrière faturou 1,29 bilhão de euros.
Nos últimos anos, a companhia iniciou o processo de internacionalização da marca. Três hotéis estão fora da França. Um deles, o Fouquet’s Barrière, foi aberto em Nova York, no final do ano passado. Recentemente, foi inaugurado um restaurante Fouquet’s em Dubai, nos Emirados Árabes.
Em quase cem anos de história, o grupo teve apenas quatro CEOs. Recentemente, anunciou uma mudança no comando, realizada de maneira conturbada, segundo a imprensa francesa. Alexandre, 36 anos, filho do CEO, Dominique Dessaigne, que dirige a empresa desde 1995, vai assumir a presidência da holding.
Foi Alexandre quem acelerou a estratégia de internacionalização do Barrière. Sua irmã, Joy, 32 anos, também assumirá novas funções na companhia. Ela deve ser nomeada presidente do conselho da divisão do grupo que inclui o Le Majestic e outros negócios.
As operações internacionais já representam 11% da receita do Barrière. E o "Brasil pode vir a fazer parte da estratégia de expansão do grupo", diz ao NeoFeed, Charles Richez, diretor-geral do Le Majestic Cannes e dos hotéis do grupo em Courchevel, nos Alpes franceses, e na ilha caribenha de Saint Barth.
As operações internacionais já representam 11% da receita do Barrière. E o Brasil pode vir a fazer parte da estratégia de expansão do grupo
O número dos hóspedes brasileiros no Le Majestic, conta Richez, nos últimos anos, está em ascensão e já representa 10% do faturamento na temporada de verão, entre junho e setembro, e de 4% a 5%, ao longo de todo o ano –o que é considerado “significativo”, explica o executivo.
Dior no Le Majestic
Nada se compara, no entanto, aos gastos das marcas de luxo no Le Majestic, durante o festival de cinema. Uma suíte de 450 m² e diárias de 38 mil euros, foi batizada de Dior, em homenagem à grife francesa, que aluga o “apartamento” há 30 anos. E que foi ocupada várias vezes por Christian Dior. Ela é redecorada anualmente em parceria com a grife, mantendo sempre um estilo parisiense.
A suíte mais cara do Le Majestic, a “penthouse” com 650 m² e piscina privativa, que custa a bagatela de 42 mil euros a noite, vai ser ocupada no período do festival pelo grupo francês de luxo Kering, dono de grifes como Gucci e Saint Laurent.
“As marcas de luxo representam 70% do faturamento durante o festival de cinema de Cannes”, conta Richez. Além da produção visual das celebridades que participam da competição, muitas empresas também organizam festas e outros eventos no Majestic, inclusive no restaurante da praia privativa do hotel, para criar uma badalação nesse momento de efervescência na estação balneária.
Fundado em 1926, o hotel tem a particularidade de ter 70% de seus 350 quartos e suítes com vista para o mar. Algumas, com balcões privilegiados, funcionam como uma espécie de camarote para o tapete vermelho do Palais do festival que fica bem ao lado.
O luxo e conforto se vê até no cardápio de travesseiros, como o de “sono de beleza e antirrugas” com bolinhas de poliéster e superfície lisa como seda que evitariam marcas na pele do rosto após uma noite de sono em uma cama king size.
Mas os serviços do Le Majestic, tão acostumado a receber estrelas, vão além: o concierge costuma conseguir para os clientes que não circulam pelo mundo do cinema os disputados convites para as sessões de gala de filmes do festival, com a presença de artistas.
O hotel é, aliás, parceiro do evento. As camareiras também sabem atender rapidamente pedidos insólitos, como arrumar 200 pares de sapatos para alguém que iria passar só três noites. Ou ainda dispor 150 pares de óculos, de modo a que o hóspede pudesse ter uma visão completa dos modelos, ao abrir o armário. Durante o festival, o número de empregados quase dobra, passando de 370 para 700.
As camareiras também sabem atender rapidamente pedidos insólitos, como arrumar 200 pares de sapatos para alguém que iria passar só três noites
O Le Majestic possui três restaurantes. Um deles é o Le Fouquet’s Cannes, o mesmo nome do famoso estabelecimento da avenida Champs-Elysées, em Paris, marca que pertence ao grupo, com cardápio elaborado pelo renomado chefe Pierre Gagnaire, três estrelas no guia Michelin.
Na praia privativa do hotel há o BFire do chefe argentino Mauro Colagreco, que possui três estrelas Michelin com seu restaurante Le Mirazur, em Menton, eleito melhor do mundo em 2019. Um ponto de encontro dos mais cintilantes para os participantes do festival, presidido neste ano pelo diretor sueco Ruben Östlund, do filme "Triângulo da Tristeza", palma de ouro da última competição.