Você já ouviu falar nos “50 tons de ‘nãos’”? Em "Mestres da Escala – As grandes ideias que transformaram pequenos negócios em sucessos globais", o autor Reid Hoffman, um dos fundadores do LinkedIn, conta a história do empresário John Foley.
Aos 40 anos, Foley fundou a startup Peloton, empresa de equipamentos e mídias para fazer exercícios físicos em casa, e colecionou uma quantidade impressionante de negativas antes de ver tudo dar certo. A começar pela sua idade, fora da realidade aceitável do Vale do Silício.
Eram “nãos” desestimuladores. Alguns exemplos: “Você está muito velho.” (“Não.”); “Hardware é difícil e exige muito capital.” (“Não.”); “Fitness é uma categoria besta, sem capital e sem software, tampouco mídia e inovação.” (Ao que John respondia: “Exatamente! Vamos inovar totalmente a tecnologia do setor.”). Mas ainda assim: “Não.”
Alguns dos “nãos” que Hoffman chama de preguiçosos deviam-se a questões geográficas: “Ah, você tem uma empresa em Nova York. Prometi à minha família que só vou participar de conselhos na Califórnia.” (“Não.”)
Muitos profissionais do Vale do Silício não compreendiam as aulas de ciclismo especializado e focado em fitness, porque eram, em grande parte, um fenômeno da Costa Leste americana. “Aqui existem dois tipos de ciclismo: de montanha e de estrada.” (“Não.”).
Todas essas situações tão comuns em quem tenta emplacar uma startup, defende Hoffman, são apenas um exemplo do que inovadores bem-sucedidos enfrentaram, não importa o gigantismo em que seu negócio se transformou.
Na verdade, seu livro – que chega às livrarias brasileiras na próxima semana pela Sextante – é a versão impressa e editada de 70 dos 80 episódios de um dos podcast mais famosos entre empreendedores ao redor: o "Masters of Escale", que ele produz, escreve e apresenta, juntamente com June Cohen e Deron Triff – com quem assina a obra.
A atração é um sucesso planetário, com fãs em mais de 200 países e o listen through rate (LTR, métrica de desempenho importante para anunciantes) de 75%, o que aponta que seu público é um dos mais engajados do mundo entre os ouvintes de podcasts.
Hoffman entrevistou empreendedores para mostrar o que levou cada um a criar suas empresas, onde erraram e qual foi o ponto da virada. Desse modo, aponta princípios que recomenda cultivar para fazer um negócio dar certo e crescer e que podem parecer óbvios.
A ideia é responder perguntas como ter uma ideia vencedora e depois fazê-la ganhar escala? Que mensagens se escondem atrás de um “não”? Qual é a hora certa de parar de ouvir os clientes?
Tudo isso é respondido por quem construiu casos espetaculares de sucesso, como ele os define. Todos eles são ligados, de alguma forma, ao ramo de tecnologia. Eram startups condenadas a não ter futuro ou desafiadoras demais, mas que resultaram em marcas como Apple, Spotify, Nike, Google, ou em negócios disruptivos como Airbnb, Xapo, Twitter.
Eles tinham uma motivação em comum: sonhavam alto o bastante para querer mudar o mundo, fazer algo que ninguém conseguiu até aquele momento. Ou seja, sonhavam em ganhar “escala”. Mas “escalar não é apenas uma ciência, mas também um mindset: uma jornada que exige fé e disposição para fracassar em igual medida”, conclui.
O autor explica que quem está na posição de fundador compreende o que está em jogo cada vez que alguém lança uma nova iniciativa de negócio – sobretudo em tempos de incerteza, quando não dá mais para se orientar pelo pensamento tradicional.
O caminho para o êxito como empreendedor, defende Hoffman, costuma ser árduo, uma aventura arriscada, repleta de contradições e reviravoltas inesperadas. “Mas acreditamos que cada um de nós tem dentro de si a capacidade de cultivar uma mentalidade empreendedora, que nos levará ao sucesso... e à escala”.
Ao trocar ideias com pessoas que “escalaram” seu negócio – e ele teve conversas longas e profundas com muitas delas –, descobre-se algumas verdades pouco intuitivas sobre a “escalabilidade”.
O fundador do LinkedIn afirma que, em geral, as melhores e mais escaláveis ideia em um negócio são as que parecem menos plausíveis. “Encontrar resistência no começo da jornada é algo positivo”.
Outra dica é ficar atento para ter certeza de que recebe feedback honesto das pessoas certas no começo da jornada. Isso vai ajudar o empreendedor de modo inimaginável e aperfeiçoar sua ideia. “Fazer coisas que não são escaláveis (sobretudo nos estágios iniciais) pode preparar você para um processo acentuado de escala mais à frente”.
Mesmo que tenha achado que sabia muito mais do que sabia de fato, escreve ele, ainda é possível alcançar seus objetivos – desde que aceite a realidade e corrija o rumo. As pessoas que Hoffman chama de extraordinárias cujas histórias estão no livro aprenderam essas lições da maneira mais difícil. “São empreendedores emblemáticos por trás de empresas inovadoras que moldaram o nosso cenário cultural”.
Entre eles, estão Bill Gates; Mark Cuban; Howard Schultz, da Starbucks; Reed Hastings, da Netflix; Angela Ahrendts, da Apple; Eric Schmidt, do Google; Marissa Mayer, do Yahoo; Brian Chesky, do Airbnb; Susan Wojcicki, do YouTube; Daniel Ek, do Spotify; Melanie Perkins, do Canva; Wences Casares, da Xapo etc.
Não há uma única experiência que não impressione pelo impacto que causou. E o melhor: o leitor sabe antecipadamente que todas tiveram final feliz.
SERVIÇO:
Mestres da escala
As grandes ideias que transformaram pequenos negócios em sucessos globais
Reid Hoffman, June Cohen e Deron Triff
Editora Sextante
304 Páginas
Preço R$ 59,90