A produtora American Zoetrope, de Francis Ford Coppola, se prepara para incorporar a tecnologia blockchain na indústria do entretenimento. Uma plataforma que permite registrar dados de forma segura e autônoma (sem a intervenção de um administrador) será lançada até o final do ano para democratizar o financiamento de filmes.
Por trás da empreitada está uma subsidiária da American Zoetrope, a Decentralized Pictures (DCP), onde o projeto é desenvolvido há quatro anos. “Certas ferramentas podem ser usadas de um jeito inovador. Nosso novo empreendimento foi criado com esse espírito”, disse Roman Coppola, no início de sua apresentação sobre a plataforma.
O filho do diretor responsável pela trilogia de “O Poderoso Chefão” anunciou o projeto na 74ª edição do Festival de Cannes, que teve cobertura do NeoFeed. Coppola, que é presidente da American Zoetrope, sediada em San Francisco, fez sua apresentação no Marché du Film, o braço de business do evento francês.
Atualmente em fase de testes, a plataforma permitirá que o público escolha os projetos que ganharão financiamento com recursos da empresa. A iniciativa é vista como uma democratização do processo, já que uma comunidade online de amantes do cinema terá a chance de opinar na seleção de filmes de diretores independentes.
Qualquer cineasta poderá cadastrar propostas de filmes que serão agrupadas em categorias e posteriormente votadas. Assim, o dinheiro cairá nas mãos de quem mais o merece, de acordo com a preferência de um grupo de artistas, cineastas, profissionais da indústria e cinéfilos.
“Já estamos convidando as escolas de cinema para participar também. Eventualmente, a votação será aberta ao público em geral”, disse Coppola, que conta com a irmã, a cineasta Sofia Coppola, na diretoria da empresa. A sobrinha Gia Coppola, outra diretora do clã, também participa da iniciativa.
“A ideia é reconhecer a criatividade, o que a nossa família já faz desde que meu pai fundou a American Zoetrope, em 1969”, afirmou Coppola, de 56 anos. Vamos começar com prêmios pequenos em dinheiro, como US$ 25 mil para a finalização de um curta-metragem. E, com o tempo, teremos valores mais significativos”, completou ele.
A tecnologia blockchain foi a escolhida para estruturar a iniciativa por proporcionar uma “curadoria transparente e um sistema de recompensas autônomo”, eliminando os intermediários. Como o próprio nome da Decentralized Pictures já adianta, a proposta é descentralizar as decisões sobre quais filmes financiar, o que tradicionalmente é resolvido na indústria cinematográfica por uma diretoria de executivos.
A grande vantagem apresentada pelo blockchain é o engajamento do público, por atuar como uma rede aberta de registros. Tanto proponentes de projetos quanto avaliadores terão uma conta na plataforma, e todos os membros da comunidade receberão, em tempo real, todas as informações processadas.
Os participantes poderão avaliar os roteiros inscritos, votando em quesitos como criatividade, impacto social, personagens e enredo, entre outros. Assim, o algoritmo da plataforma terá mais critérios para computar as avaliações, indo além de um simples “gostei” ou “não gostei” de determinado projeto.
Outra característica importante do blockchain, que foi determinante na escolha da tecnologia por Coppola, é a segurança dos dados. Como o próprio nome já adianta, blockchain significa, em inglês, corrente ou cadeia de blocos.
Isso quer dizer que a validação é feita por blocos criptográficos e não por um banco de dados centralizado, que requer a certificação de um administrador. Para cada nova informação, é gerado um bloco, atrelado ao anterior, formando a tal corrente. Assim, o banco de dados fica praticamente imune a fraudes, por não existir um administrador capaz de alterar ou deletar algum dado. Cada participante é responsável por seus registros na rede.
“Como empresa, nós não temos interesse em projetos medianos. Queremos encontrar material surpreendente”, contou Coppola, mais conhecido como diretor de videoclipes e como roteirista de filmes. O último que ele escreveu foi “A Crônica Francesa”, que estreia no Brasil no dia 18, em parceria com Wes Anderson.
Seu trabalho como cineasta é inexpressivo. Um exemplo é “CQ” (2001), uma comédia sobre os infortúnios de um diretor americano radicado em Paris nos anos 60, da qual ninguém se lembra.
“Quando estudantes de cinema e jovens cineastas me abordam, o que eles mais querem saber é como ingressar na indústria, como fazer para que seus roteiros sejam lidos”, disse Coppola. Sua intenção é ajudar cineastas independentes que, de outra forma, não encontrariam apoio financeiro.
Coppola recordou o caso de um amigo de sua irmã, Sofia, que também precisou de um empurrãozinho inicial, por não ter dinheiro ou contatos profissionais em Hollywood. “Era um cara que trabalhava em uma locadora de vídeo e escrevia muitos roteiros, sem que ninguém os lesse”, disse. O nome dele? Quentin Tarantino.