NOVA YORK - O que acontece no Carlyle fica no Carlyle. É com a frase mais associada à cidade de Las Vegas, sugerindo que os segredos dos seus visitantes estão bem guardados, que a diretora-geral Marlene Poynder explica por que o hotel nova-iorquino serve de refúgio para presidentes, membros da realeza e astros de cinema que mais prezam por sua privacidade.
Nem os tempos atuais, com a exposição exacerbada nas redes sociais, conseguiram quebrar o protocolo de confidencialidade, do qual o hotel fundado em 1930 tanto se orgulha. “Não é o tipo de hotel para pessoas que querem ver e ser vistas”, diz Poynder, em entrevista ao NeoFeed.
Para começar, a atmosfera no lobby do Carlyle é mais parecida com a de um prédio residencial, fazendo com que o hóspede se sinta num local singular no Upper East Side de Manhattan. Não há placas de orientação, e são poucos os sofás disponíveis no saguão – justamente para evitar aquele burburinho típico de hotel.
Para se tornar sinônimo de elegância e discrição ao longo das décadas, o Carlyle sempre se esmerou em não deixar que as histórias dos seus hóspedes ilustres saíssem de suas instalações, com 192 luxuosos quartos. A não ser que os próprios clientes (ou membros de sua entourage) facilitem o vazamento.
Com diárias a partir de US$ 750 (na baixa estação), o hotel jamais divulga quem está hospedado lá – o que muitas vezes não impede que o público fique sabendo.
Principalmente na ocasião do Met Gala, no mês de maio, já que o Carlyle é um dos preferidos pelos convidados, por estar localizado a poucas quadras do The Metropolitan Museum of Art.
Já é uma tradição o plantão de fotógrafos na entrada do hotel, prontos para clicarem as celebridades em trajes de baile. Como foi o caso da cantora Anitta este ano.
O mais importante para o staff é que “as paredes do Carlyle não falem”. É isso que atrai a clientela fiel de famosos, incluindo George Clooney, Sofia Coppola, Harrison Ford, Lenny Kravitz, Naomi Campbell, Anjelica Huston, Wes Anderson e Vera Wang, além do príncipe William e de Kate Middleton.
No passado, o Carlyle também era o preferido da princesa Diana, que costumava ocupar a Royal Suite de 167 metros quadrados no 22º andar, com diária de US$ 8.000. John F. Kennedy até manteve um apartamento no 34º andar do edifício, conhecido na época como a “Casa Branca de Nova York”. Era lá que ele supostamente se encontrava com Marilyn Monroe.
Parte do sigilo é garantido porque o hotel dá prioridade aos funcionários de longa data, acostumados à ética de trabalho e de lealdade do Carlyle. Apesar da grandiosidade, distribuída em 35 andares, a mentalidade da casa é “quase familiar”. E isso não mudou com a aquisição do hotel pela rede Rosewood Hotels & Resorts, uma das mais luxuosas do mundo, em 2001.
“Muito do nosso staff está aqui há 20, 30 ou 40 anos, fazendo com que eles saibam muito bem como proteger o anonimato dos hóspedes. Do contrário, eles perderiam o emprego’’, afirma Poynder. “São os mais antigos que passam todo o conhecimento aos funcionários novos, treinados aqui.”
É o caso de Hector Ruiz, de 75 anos, há 35 no Carlyle. Depois de passar por inúmeras funções na casa, hoje seu cargo é o “embaixador” do hotel, cuidando dos clientes mais importantes. Como Ruiz tem os telefones pessoais dos hóspedes, sem precisar passar pelos seus representantes, é ele quem liga antes do check in para saber se o famoso vai precisar de algo especial.
“É quase uma amizade com os clientes”, conta Ruiz, determinado em respeitar as regras e não dar o nome dos seus hóspedes, aceitando apenas compartilhar algumas histórias. Mas ao citar um casal de poderosos que deixa os filhos aos seus cuidados, durante a estadia, Ruiz confirma se tratar de George Clooney e de Amal Alamuddin, quando os nomes são mencionados pela reportagem.
“Enquanto o casal foi à sede da UN (Organização das Nações Unidas), eu levei os seus filhos ao parque, para aproveitar um dia ensolarado”, afirma Ruiz, referindo-se aos gêmeos Alexander e Ella, de seis anos. Na ocasião, Amal, que é advogada de direitos humanos, discursaria na ONU. “Clooney agradeceu a minha ideia de passear com as crianças ao ar livre, já que ele não pode fazer isso.”
Para reforçar o espírito de confidencialidade, são poucos os espaços públicos no hotel. E os que existem são áreas mais intimistas, muito bem “controladas”. O restaurante The Gallery, por exemplo, têm apenas nove mesas. O Café Carlyle, famoso pelas apresentações de jazz (inclusive da banda de Woody Allen) comporta 80 pessoas sentadas.
“Todo o nosso pessoal é muito bem treinado em antecipar quando alguém está pronto a ultrapassar algum limite”, conta Poynder, explicando por que os hóspedes celebridades não costumam ser importunados por fãs nas dependências do Carlyle. “Também temos muitos seguranças no hotel que não aparentam o que são, por não se vestirem como tal.”
Isso deixa as personalidades mais à vontade, muitas vezes até para se divertirem no Bemelmans piano bar – a ponto de cantarem em suas mesas. E por mais instagramável que seja esse ambiente de Art Deco, com murais da personagem Madeline (da série homônima de literatura infantil escritos pelo austríaco Ludwig Bemelmans), essas imagens não costumam parar nas redes sociais.
“O fato de controlarmos o que colocamos no nosso Instagram, sendo cuidadosos com o conteúdo, ajuda a educar as novas gerações sobre o que o Carlyle significa”, comenta Poynder, lembrando se tratar de um glamour à moda antiga.
Os preços, obviamente, ajudam a selecionar a clientela dos bares e restaurantes – caso algum engraçadinho vá até lá só para tentar sair com a imagem de algum famoso no celular. No Bemelmans, por exemplo, o martini chamado Always at the Carlyle (com tequila premium mexicana, mais vermute e licor italianos) sai por US$ 65.