No Brasil, os investimentos em renda fixa cresceram 18% ao longo de 2024 e passaram a representar 59,2% do total aportado por investidores pessoa física, segundo a Anbima. O movimento acompanha o avanço da incerteza econômica e o persistente aumento das taxas de juros no País, que reduzem o apetite da por investimentos mais arriscados.
No mercado da arte, essa tendência não parece ser diferente. Após o setor movimentar R$ 2,9 bilhões em 2023 no Brasil, um crescimento de 21% na comparação com o ano anterior, o investimento na compra e venda de obras de arte não tem se mostrado tão atrativo. Isso porque os consumidores estão cada vez menos propícios a gastar grandes quantias sem saber o retorno daquele ativo.
A Hurst Capital, plataforma de investimentos alternativos, percebeu esse movimento no segundo semestre de 2024 e decidiu sair de seu modelo tradicional — baseado em sistema próprio de avaliação e precificação das obras com maior potencial de valorização. E criou uma espécie de "renda fixa de arte".
Braço da companhia focado no mercado de arte, a Artk desenvolveu uma tese que busca beneficiar tanto os artistas e as galerias quanto os investidores da plataforma.
Na prática, a empresa comercializa certificados de recebíveis a seus clientes e investidores, com o intuito de arrecadar o valor necessário para levar as galerias parceiras às grandes feiras internacionais de arte — onde a grande maioria dos negócios ocorre.
E custa caro participar de eventos como a Art Basel e Frieze Art Fair, que costumam cobrar cada uma, em média, US$ 100 mil por expositor. Em geral, as as galerias brasileiras participam de quatro feiras por ano. Esses valores chegam a representar cerca de 25% das despesas anuais.
Assim, só as grandes galerias têm cacife para marcar presença nas feiras. Uma delas é a Galeria Mapa, que já recebeu o crédito da Hurst.
Nessa "parceria", a Artk também auxilia na seleção dos melhores quadros para levar a essas feiras. Boa parte deles é sigilosa, já que, segundo Ana Maria Lima de Carvalho, head de investimento em obras de arte da empresa, esse mercado é muito concorrido. Porém, para a próxima rodada de crédito, como ela antecipou ao NeoFeed, nomes como Jandyra Waters e o Firmino Saldanha devem fazer parte do portfólio.
Para Ana Maria, as oportunidades no exterior são grandes. Com o crescimento da procura por obras brasileiras nos últimos anos e com o aumento do câmbio, um quadro que seria vendido no Brasil por R$ 50 mil pode ser comercializado por algo como US$ 50 mil nos Estados Unidos, o que traz segurança para a tese da Hurst.

Quanto maior a valorização das obras, maior o retorno para os investidores. Na última operação feita pela companhia, esse montante chegou a 35% ao ano.
Por outro lado, caso a feira seja um fracasso e as vendas não atinjam o esperado, a Artk seleciona, como garantia, alguns quadros da galeria que passaram a ser seus. Assim, com a venda dessas obras, os investidores não ficam no prejuízo. “Até agora, nós só registramos ganhos e não precisamos usar essa opção", explica a executiva.
Até o momento, a fórmula do sucesso, na visão da empresa, tem sido a escolha de artistas blue chip — os mais valorizadas no mercado, que representam um investimento “seguro”.
Porém, pintores brasileiros “esquecidos”, que voltaram a fazer sucesso nos últimos anos, como Chico da Silva, Miguel dos Santos e Lorenzato. Entre os jovens com projeção no mercado internacional, está, indiscutivelmente, Lucas Arruda, e Victor Fidelis e Rayana Rayo, entre outros.
“A teoria é que, ao procurar por obras de artistas consagrados e, na maior parte das vezes, já mortos, essa peça só irá valorizar, já que ela é única”, explica a especialista. “Porém, temos percebido que os novos artistas têm um limite de produção de cerca de 10 obras muito boas por ano, o que também os torna únicos, de certa forma. E o mercado está percebendo isso”.
Atualmente, o principal mercado para as obras brasileiras está nos Estados Unidos, com 56% das exportações totais.