Da maneira mais trágica, nas últimas semanas, os brasileiros se veem obrigados a rever seus hábitos etílicos. Em um misto de estupefação e pânico, o país acompanha o desenrolar do crime dos destilados adulterados com metanol. Pelo menos por enquanto, a abstemia não é uma escolha. Uma dose pode ser fatal.

Paralelamente, em um movimento global, cresce o número de adeptos da filosofia sober curious. Pessoas que, depois de avaliar por que e como bebem, decidem reduzir ou até mesmo abolir o consumo. Seja pelo terror imposto por falsificadores; seja em nome da saúde, nunca como antes procurou-se tanto por alternativas ao álcool.

A busca por produtos capazes de proporcionar as sensações agradáveis de uma taça de vinho, uma dose de uísque ou um dry martini, mas sem os efeitos colaterais mais perigosos e inconvenientes de suas contrapartes originais agita o ecossistema de inovação.

Uma saída por estar no reino Funghi, mais especificamente nos cogumelos funcionais — celebrados por seus altos teores de vitaminas, minerais, proteínas e fibras.

Graças aos avanços da ciência de alimentos, hoje é possível isolar seus bioativos, potencializá-los e transformá-los em ingredientes para uma vasta gama de produtos. Bebidas, sorvetes, chocolates, barrinhas proteicas, cereais matinais... com poderes antioxidantes e anti-inflamatórios; capazes de regular a saúde intestinal e imunológica.

Quando combinados com determinados compostos botânicos, eles ganham ação psicoativa. E é aí que, segundo seus criadores, os fungos poderiam fazer as vezes de um drinque.

A americana Alice Mushrooms acaba de lançar o chocolate Party Trick. A partir de uma mistura do cogumelo cordyceps com extratos vegetais, o doce ativaria os circuitos cerebrais associados às sensações de felicidade, prazer e relaxamento.

Um quadradinho apenas da guloseima seria o bastante para destravar… os mais travados, como o álcool costuma fazer. "Vá para a pista de dança, converse com estranhos ou relaxe com os amigos", sugere a empresa na descrição do produto.

Além do Party Trick, a startup de Los Angeles possui quitutes que prometem melhorar o sono, aumentar o foco e despertar a libido.

Há cerca de duas semanas, a Alice levantou US$ 8 milhões em uma rodada liderada pelo fundo NewBound Venture Capital, com participação da Unilever Ventures e do DJ e produtor musical Tiësto.

O aporte acontece quase um ano depois de a startup ter sido investida pela L Catterton e pelos atores Zac Efron, Pedro Pascal e Kevin Hart. O valor da rodada não foi revelado.

Marina Camargo lançou o primeiro produto da Mushin, o Coffee Mushroom, em 2023 (Foto: Mushin)

O portfólio da Mushin inclui café, chai, barrinhas proteicas e aveia (Foto: Mushin)

A americana Alice Mushrooms acaba de lançar um chocolate vegano à base de cogumelos funcionais que promete aumentar a sociabilidade (Foto: alicemushrooms.com)

A brasileira Mushin trabalha com o extrato de champignon. Também chamada de cogumelo Paris e conhecida cientificamente como Agaricus bisporus, é a única espécie aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária como suplemento alimentar.

Fundada pela psicóloga Marina Camargo, a empresa planeja lançar em 2026 um produto em pó, à base do extrato do fungo com magnésio, vitamina B12 e alguns compostos botânicos, como camomila, lavanda e melissa.

A receita promoveria uma “sensação instantânea” de bem-estar, explica a empresária, em entrevista ao NeoFeed.

“Um modo de a pessoa sentir que está socializando, mas de forma mais saudável”, diz. “Será como beber um drinque gaseificado, refrescante, bonito e gostoso, semelhante a um gim-tônica, mas sem álcool.”

Marina se encantou pelos cogumelos quando, aos 18 anos, em 2016, foi para os Estados Unidos estudar psicologia. “Lá, eu entrei em contato com os psicodélicos em uma jornada pessoal de desenvolvimento”, lembra. “E isso teve um impacto enorme na minha vida; mudou a relação que tinha com o mundo e comigo mesma.”

Ao se aprofundar no estudo das terapias psicodélicas, ela teve a oportunidade de investigar os fungos mais detidamente e decidiu trabalhar com os funcionais.

De volta ao Brasil, quatro anos depois, Marina estava determinada a lançar um produto à base de Agaricus bisporus. Enquanto decidia o que fazer, acabou criando uma comunidade digital em torno da cultura do bem-estar, na qual os cogumelos ocupam lugar de destaque.

Aí veio a notícia do O.K. da Anvisa. Pronto, estava decidido: a Mushin seria uma foodtech de alimentos enriquecidos com extrato de champignon.

E, hoje, menos de dois anos depois, e com investimentos próprios, a psicóloga de 29 anos virou empresária e garantiu seu espaço como a pioneira no Brasil do uso do cogumelo Paris como suplemento alimentar.

Seu portfólio inclui café, chai, barrinhas proteicas e aveia. Até agora, o crescimento da Mushin foi muito orgânico, em grande parte impulsionado pelas comunidades mantidas por Marina nas redes sociais. O modelo de negócios começou no B2C, por meio do e-commerce da marca. Hoje, porém, 40% de sua receita vem do B2B.

Os produtos da Mushin são encontrados em supermercados premium, como os paulistanos Casa Santa Luzia e Quitanda. E, graças à parceria com as cafeterias da Track&Field, a Mushin chega ao resto do Brasil.