As primeiras cenas de “The Idol” já entregam do que a entourage de uma pop star é capaz para garantir uma sessão de fotos quase explícita. O empresário da cantora tranca no banheiro o profissional criado na indústria do entretenimento após o Me Too, o “coordenador de intimidade (para evitar abusos), assim que ele reclama dos mamilos da estrela à mostra.
Na série que fez barulho em sua première mundial no 76º Festival de Cannes, ao trazer cenas de nudez e sexo, a própria pop star parece cada vez mais disposta a ultrapassar todos os limites em nome da fama.
Tudo para vencer no showbiz, após uma crise nervosa na última turnê, conquistando o posto de cantora não apenas sexy, mas como a mais devassa do planeta. Com estreia neste domingo na HBO Max e na HBO, a estrela é encarnada por Lily-Rose Depp, de 23 anos.
A filha de Johnny Depp e de Vanessa Paradis aparece praticamente sem roupa na maioria de suas cenas. Isso para ilustrar como Jocelyn, sua personagem, é uma mercadoria, o que a cantora aceita como regra do jogo.
Jocelyn nem se incomoda com o vazamento de uma foto íntima, com sêmen no seu rosto, explicada como um ato de vingança de um ex. Desde que o escândalo a ajude a chegar ao topo musical, tudo bem carregar ainda mais na energia sexual que ela está acostumada a projetar. Como deixa claro a executiva da sua gravadora: “o que vendemos é sexo”.
O maior problema da cantora, rodeada de manipuladores e bajuladores, é nunca saber quem diz a verdade. Afinal, ela representa muito dinheiro para o empresário, para a gravadora, para a assessoria de imprensa, para o produtor musical e todos os demais à sua volta.
“Jocelyn, minha personagem, sempre se pergunta se aqueles que estão mais próximos realmente têm as melhores intenções. Ela não sabe o que eles querem dela e até que ponto eles pensam apenas em si mesmos”, contou Lily-Rose Depp, no encontro com a imprensa no festival de Cannes, que teve cobertura do NeoFeed.
A série foi criada pelo cineasta Samuel Levinson, pelo roteirista Reza Fahim e por Abel Makkonen Tesfaye, o cantor canadense lançado com o nome artístico The Weeknd. Deste último vieram os principais insights para a criação da trama, que mostra as maquinações da entourage para tirar vantagem da pop star.
“Quis fazer uma fantasia sombria e distorcida sobre a indústria da música. Usei tudo o que sei sobre esse meio, intensificando um pouco”, disse The Weeknd, que também promoveu a série em Cannes. “Muito da história de Jocelyn é a inspirado nas minhas experiências e nas situações que testemunhei com artistas homens e mulheres”, completou o cantor.
Há até uma referência a Britney Spears no roteiro, ainda que a produção negue que ela tenha sido a inspiração para Jocelyn. “Não é a história de uma pop star em particular. Estamos analisando a percepção que o mundo tem delas e a pressão que isso exerce sobre cada uma”, comentou Levinson.
The Weeknd define Jocelyn como uma espécie de realidade alternativa. “Caso eu tivesse feito as escolhas erradas”, afirmou o cantor, que também atua na série. Ele representa justamente o pior a cruzar o caminho da pop star – como se Jocelyn já não tivesse interesseiros suficientes por perto.
The Weeknd encarna Tedros, o líder de uma seita que vira o guru e o namorado da cantora. Com ele, Jocelyn embarca em fantasias sexuais mais perversas, envolvendo asfixia e bondage. É assim que ela se torna uma marionete nas mãos de Tedros, que tem ambições próprias na indústria.
Parte da crítica acusa “The Idol” de ir longe demais. Como se, no lugar de denunciar a exploração do corpo da pop star, a série ajudasse a perpetuar o abuso, reforçando o olhar misógino e objetificando Lily-Rose.
Ao longo da produção, houve até alegações de toxicidade no local de trabalho, embora a atriz defenda a nudez e, consequentemente, a visão dos criadores. “A maneira como Jocelyn se veste está tentando dizer algo o tempo todo. A nudez ocasional da personagem reflete fisicamente a nudez que conseguimos ver emocionalmente”, disse Lily-Rose.
Para Levinson, “The Idol” reflete o mundo “sexualizado’’ em que vivemos. “Principalmente nos EUA, a influência da pornografia é muito forte na psique dos jovens. E vemos isso na música pop. É o que seduz e atrai o público, instigando a imaginação”, disse ele, reforçando ser o que quase todas as pop stars fazem hoje em dia.