O Grupo Wine está num processo de reconfiguração de seu portfólio. Na prática isso significa investir em vinícolas com marcas reconhecidas e com maior representatividade no mercado externo. Neste movimento, a “maior conquista do ano até agora” são as marcas da vinícola Callia (San Juan) e Portillo (Mendoza), do grupo holandês Salentein, o “sétimo maior exportador de vinhos da Argentina.”
Estes vinhos fizeram parte do catálogo da Zahil por mais de 20 anos,e eram os exemplares de entrada da importadora dedicada, de uma forma geral, a produtos de categorias superiores. “Callia vendia no país em média 14 mil caixas por ano e Portillo 10 mil”, contou ao NeoFeed, German Garfinkel, diretor de Supply e B2B do Grupo Wine.
No grupo Wine, no entanto, a expectativa é de “duplicar o volume em três anos”, trabalhando tanto no B2C quanto no B2B, com um reposicionamento dos rótulos e redução de preços para disputar o que eles chamam de categoria “premium acessível”.
Não por acaso, é essa faixa que mais cresceu em volume de importações, segundo a consultoria Product Audit. Entre fevereiro de 2022 a março de 2023, comparado ao mesmo período do ano anterior, a importação de caixas (9 litros) com preço FOB entre US$ 20 e US$ 34 cresceu 35%. No mesmo intervalo, o segmento popular, com caixas de até US$ 20, teve uma queda de 33%.
Este cenário aponta para algumas vertentes. Uma delas é que varejistas e importadoras estão super estocadas de vinhos populares e reduziram as compras nesta seara, depois do boom no período de isolamento social.
A outra é que parte dos consumidores está buscando vinhos de melhor qualidade no pós-pandemia. A importação de vinhos premium, por exemplo, cresceu 13,6% e super premium 13%, na apuração da consultoria.
“Preço é relevante no Brasil e queremos aproveitar esse momento para dar mais acesso a produtos de melhor qualidade para os consumidores.”
Portillo é vendido hoje em média a R$ 120 e a Wine vai recolocá-lo no mercado ao preço de R$ 74,90. Dessa forma, vai entrar numa disputa agressiva com outros argentinos, como o Alamos, da Catena Zapata, vendido em média a R$ 100.
“O mercado norte-americano reconhece que as duas marcas estão na mesma categoria, tanto que Alamos e Portillo têm o mesmo preço médio por lá. E no Brasil, as duas marcas chegam aqui a US$ 32 a caixa no preço FOB”, diz Garfinkel.
Para tanto, o grupo vai “incomodar” a Mistral, que tem parte significativa de seu resultado com a Catena, cujo fundador Nicolás Catena é um dos responsáveis por projetar o malbec argentino no mundo. Os vinhos da vinícola representaram o maior volume de importação da importadora, com 55 mil caixas, pelo levantamento da Product Audit.
“A Mistral fez um trabalho muito bem feito com Alamos. É um benchmark para nós. Por nossa maturidade comercial, volume e capilaridade de 7 mil pontos de vendas diretos podemos oferecer preços mais competitivos na categoria.”
Com Portillo, a estratégia é trabalhar com o consumidor direto no ecommerce e lojas da Wine e no on/off trade por meio da Bodegas, importadora criada por Garfinkel em 2003 e incorporada pelo grupo em 2018.
Com Callia, que também será reposicionado de R$ 69,90 para R$ 54,90, a comercialização será feita via Cantu, importadora adquirida em 2021 e que se tornou sócia do grupo no ano passado, focando restaurantes, supermercados e atacarejo.
O brinde da Wine com a Salentein
A aproximação com a Salentein, conta ele, se deu por uma parceria “muito boa” no clube de assinatura da Wine, com a marca Killka. O clube, por sinal, tem sido uma forma de atração de vinícolas que não fazem parte do portfólio do ecommerce e que não têm todos seus rótulos em exclusividade com importadoras.
“Fazemos concorrência para os fornecedores para o clube de assinaturas. E muitas vinícolas têm interesse em fazer parte. Chegamos nesse primeiro trimestre a 370 mil assinaturas ativas.”
A Salentein, segundo Garfinkel, também buscava “há muito tempo” um reposicionamento no mercado brasileiro “que está cada vez mais competitivo”.
“Eles queriam ressignificar as marcas dentro do país, um movimento que ocorreu com La Linda, por exemplo”. O rótulo da também argentina Luigi Bosca, uma concorrente portanto, “era vendido a R$ 100 há três anos e hoje está a R$ 70.” La Linda faz parte do acervo da importadora Decanter.
Essa estratégia de reconfiguração do portfólio pela Salentein também seria “reflexo dos investimentos que a companhia está fazendo, plantando 400 hectares, no Valle do Ucco, em Mendoza, para elevar os padrões de qualidade de seus vinhos.”
O Brasil é hoje o vigésimo país no ranking de exportação da Salentein com as duas marcas. “Nossa meta é ficar entre os dez maiores. Sou muito competitivo.”
No primeiro trimestre deste ano, a Wine registrou receita líquida de R$ 144,5 milhões, crescimento de 6,3% em relação ao mesmo período do ano passado.