Uma planta usada, tradicionalmente, para alimentar o gado está se transformando em uma poderosa aliada na busca por sistemas agroalimentares mais sustentáveis, resilientes e produtivos. Graças aos avanços das tecnologias de aperfeiçoamento de sementes, as forrageiras têm se revelado úteis também para a agricultura. Quando semeadas sem (ou pouco) revolvimento de terra, tornam o plantio mais eficiente, preservam a saúde do solo e, consequentemente, aumentam a rentabilidade das lavouras.
O uso agrícola e o aumento no consumo global de proteína animal, especialmente a bovina, estão impulsionando o mercado mundial de forrageiras. Avaliado em US$ 86 bilhões, em 2022, nos próximos cinco anos, o setor deve chegar a US$ 114,5 bilhões. Nos cálculos da consultoria International Market Analysis Research and Consulting Group (Imarc), a taxa de crescimento anual composta, no período, está prevista em 4,73%.
Um marco importante para a adoção dessas plantas na agricultura foi o cruzamento de espécies, originando sementes híbridas, no início dos anos 2000. Em geral, as novas plantas possuem raízes mais longas. E, ao chegar mais fundo na terra, absorvem uma quantidade maior de água e nutrientes. Com isso, crescem robustas e saudáveis – e mais resistentes a secas, geadas e pragas.
Nesse processo, ganham valor proteico, o que aumenta, no caso da pecuária, a produção de carne e leite, em uma mesma área de pastagem. E, no caso da agricultura, preparam o terreno, para as plantações que virão a seguir.
As forrageiras híbridas são plantadas no período entre a colheita e a semeadura de uma cultura. No caso da soja, por exemplo. Normalmente, os grãos são colhidos entre janeiro e fevereiro. Até outubro e novembro, quando ocorre o novo plantio, pelo método convencional, o solo ficava descoberto, sujeito às intempéries e, portanto, mais empobrecido.
Nesse período, o cultivo de forrageiras protege a terra. No momento de voltar com a soja, basta dessecar a pastagem e lançar as sementes sobre a palha seca. Chamado plantio direto, esse sistema dispensa, por exemplo, o uso de arado.
A importância do grafite
Há oito forrageiras híbridas registradas no Brasil. A braquiária Mavuno, da empresa Wolf Sementes, detém 40% de market share. Em conversa com o NeoFeed, o engenheiro agrônomo Tiago Penha, gestor agrícola da companhia, explica que a braquiária híbrida aumenta a produtividade das lavouras entre quatro e cinco sacas por hectare, o que daria entre 240 a 300 quilos a mais.
Para a safra 2023, a Wolf desenvolveu uma tecnologia inédita, batizada Grafitek. A técnica consiste em tratar com grafite orgamineral as sementes de braquiária Mavuno. Cerca de cinco anos atrás, percebeu-se que misturar grafite às sementes facilitava o plantio.
“A semente é um pouco áspera e, sem tratamento, ela fica presa na máquina, o que atrasa e provoca falhas no plantio”, diz Penha. “Com o grafite, a semente fica mais lisa, facilitando o escoamento e fazendo a máquina andar mais rápido.” Como todas as sementes ficam praticamente do mesmo tamanho e peso, o processo ganha precisão.
Mas havia um problema. A maioria dos tratamento é feita com grafite sintético. “Em contato com água, o produto demora a dissolver e, consequentemente, a planta demora a germinar”, conta o engenheiro agrônomo.
Como o Grafitek é orgânico, o produto se desfaz em menos de 30 segundos. Conforme estudos, as sementes de braquiárias grafitadas proporcionam uma economia de até US$ 300, por hectare, com a redução de insumos e manejo do solo.
Lavoura-pecuária-floresta
Em tempos de crise climática, aumento exponencial da população e escassez de terras agropecuárias, como lembra Penha, é preciso produzir mais alimentos, com menos recursos. Tem mais. As forrageiras híbridas podem ajudar a recuperar o solo estragado pelo mau uso. Dos 163 milhões de hectares de pastagens, espalhados pelo Brasil, 53% são de pastos degradados.
Conforme estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, e publicada na revista científica “Agroforestry Systems”, o Mavuno prospera bem em áreas com até 30% de sombreamento. Isso faz da forrageira da Wolf uma semente adequada à estratégia de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Cada vez mais comum no Brasil, ao combinar em uma mesma área os três sistemas produtivos, pelo cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, o modelo ILPF otimiza o uso da terra, aumenta a rentabilidade, diminui a necessidade de insumos e diversifica a produção.
Brasil produtor, consumidor e exportador
Originárias da África, as primeiras sementes de forrageiras chegaram ao Brasil na década de 1970, importadas da Austrália, conta o engenheiro agrônomo Penha. Depois de quinze dias, no porão de um navio, obviamente chegaram em péssimas condições.
Mas, graças ao trabalho de cientistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), hoje, o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de sementes de forrageiras do mundo, movimentando cerca de R$ 1,4 bilhão anualmente. A maior parte do mercado cabe à braquiária.