Nas redes sociais, vídeos e fotos exaltam a experiência super-hiper-mega realista: a um leve toque do talher, a película se rompe e a gema escorre – densa e sedosa. A clara é firme, no ponto perfeito. Todos comemoram.
Por que tanto auê? Com um pouco de prática, qualquer um pode aprender como cozinhar um ovo pochê. A questão aqui não é o preparo do prato, mas o ovo. Esse não veio de uma galinha e, sim, de uma mistura de grão de bico e proteína de soja, com óleo de girassol e fécula de batata, entre os principais ingredientes.
Com os avanços tecnológicos, a indústria plant-based até desenvolveu produtos de valores nutricionais semelhantes às suas contrapartes animais. As alternativas, porém, são sob a forma de pó e líquido, indicadas apenas para o preparo de omeletes e bolos, por exemplo.
Por isso, o auê com o Yo Egg. É o primeiro "ovo verde" com características, aparência, textura, aroma e gosto de ovo de verdade a ganhar escala no mercado. Seus criadores, Eran Groner, administrador de empresas, e o casal Yosefa e Nisim Ben Cohen, ela chef e ele designer gráfico, querem revolucionar o mercado de ovos. Querem tirar as galinhas da equação. “Não precisamos desse intermediário”, diz Groner, também CEO, ao site Food Dive.
Fundada em 2019, em Haifa, Israel, a foodtech vem registrando conquistas importantes nos últimos dois anos. A startup acaba de fechar parceria com a WebstaruranteStore, uma das maiores distribuidoras de produtos alimentícios e equipamentos para restaurantes, dos Estados Unidos. Desde fevereiro, alguns chefs de Los Angeles já ofereciam pratos com o Yo Egg em seus cardápios.
Em abril de 2022, a foodtech levantou US$ 5 milhões, em uma rodada seed, liderada pelos fundos Stray Dog Capital e NFX. A empresa tem duas fábricas para a produção do ovo verde – uma em Israel e outra nos Estados Unidos.
Brunch hardcore
Naquela ocasião, Groner e o casal Cohen fizeram o primeiro lançamento do Yo Egg em alguns dos melhores serviços de brunch de Israel. Priorizaram os restaurantes fossem daqueles que servem ovos e bacon de verdade – “os mais hardcore”, como definiu Groner, ao site TechCrunch, a época. “Poderíamos ter escolhido uma lanchonete vegana e jogado pelo seguro”, disse ele. “Mas escolhemos o mais difícil.”
Logo em seguida, a foodtech passou a entregar seus produtos para as cozinhas corporativas dos escritórios do Google e do Facebook no país bem como alguns em alguns hotéis.
Groner é um veterano da indústria avícola. Especializado em tecnologia de alimentos, foram quase duas décadas a serviço de grandes empresas.
Com o tempo, porém, ele se deu conta de que, tradicionalmente, a criação e a produção de carne e ovos tem um impacto negativo no planeta. O executivo começou então a estudar como tornar a avicultura mais sustentável.
Groner ouviu falar em uma chef vegana que estava criando, na cozinha de casa, ovos vegetais com as características sensoriais dos de verdade. Inclusive, a visual. Os dois se acertaram, convidaram Nisim para a parceria e os três fundaram a Yo Egg.
O ovo israelense pode ter a aparência dos pochês e dos fritos. Em ambos os casos, só precisam ser fervidos. Os pesquisadores da foodtech estão trabalhando na criação da versão cozida, com a gema e clara mais duras. Investigam ainda como usar o ovo de plantas para criar réplicas perfeitas de ovos mexidos e omeletes.
Para a Yo Egg entregar de fato a “experiência de um ovo inteiro”, como prometem Groner e os Cohen, falta a casca.