Nove das dez plantas mais importantes para a alimentação humana dependem das abelhas. Exímias polinizadoras, são imprescindíveis para o equilíbrio ecológico em, pelo menos, 80% das lavouras globais. Sozinhas, porém, sem a ajuda das ferramentas 4.0, elas dificilmente conseguirão cumprir seu papel no futuro da alimentação.

Não há abelha suficiente para suprir as necessidades de uma população em crescimento exponencial e um mundo à beira do colapso ambiental. Nos últimos 62 anos, as lavouras dependentes do inseto expandiram 600% e as colmeias domesticadas, apenas 83%, indicam os especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Se a questão estivesse restrita ao desequilíbrio entre oferta e demanda, o problema já seria grande, mas contornável. Há, no entanto, outro agravante. Por causa dos eventos climáticos extremos e da agricultura intensiva, as abelhas estão sob ameaça. Desde 2006, a população mingua 30% a cada ano.

Dada à importância das polinizadoras na busca por sistemas agroalimentares mais sustentáveis, resilientes e produtivos, os empreendedores do ecossistema agrifoodtech vêm criando uma série de tecnologias para aliviar a pressão sobre as abelhas.

De mel “bee-free” a apiários ultratecnológicos, as invenções vão até onde a criatividade dos inovadores alcança.

Fundadores da BloomX, os israelenses Thai Elgrabili, Elad Hever, Avi Keren e Ido Senesh buscaram inspiração nas abelhas selvagens para desenvolver dois sistemas sofisticadíssimos de polinização artificial.

O robô Robee destina-se às plantas, cuja germinação se dá por meio da autopolinização. E o disposto Crossbee, para aquelas que só florescem via polinização cruzada.

Veículo elétrico, com braços mecânicos, o Robee circula pela lavoura, chacoalhando os pés das culturas, para liberar os grãos de pólen. Depois de anos de pesquisas e testes, eles conseguiram determinar a força de pressão e a velocidade exatas, com as quais a máquina deve agarrar os caules de cada cultivar, sem o risco de machucá-lo.

Dispositivo de energia eletrostática, o Crossbee coleta o pólen de uma planta e o transfere para outra. Os movimentos do aparelho são delicados como os de uma abelha. Ambas as tecnologias são controladas por um algoritmo preditivo de inteligência artificial (IA).

Em tempo real, a partir da análise de uma série de parâmetros, a plataforma indica aos agricultores o momento mais adequado de fazer a polinização. Quais plantas estão abertas e a que hora do dia? Machos ou fêmeas? Quais são a condições de temperatura, umidade e luz?

Por enquanto, a BloomX está focada nas plantações de mirtilo, com o Robee, e nas de abacate, com o Crossbee - duas espécies de germinação mais complicada. Mesmo assim, as inovações proporcionam um aumento de produtividade de, em média, 30%, informa a empresa.

Até o momento, a agtech já aplicou seus programas em 52 mil abacateiros e 1,75 milhão de pés de blueberry, espalhados por Israel, Estados Unidos, África do Sul, México, Peru e Colômbia.

Tráfego de abelhas

Fundada em 2019, na vila agrícola de Rishpon, a BloomX levantou US$ 8 milhões, em uma rodada de investimentos liderada pela AhernAgribusiness, empresa americana de distribuição de sementes de hortaliças. Com o dinheiro, o quarteto de sócios pretende levar o Robee e o Crossbee para as lavouras de mangas, maçãs e tomates.

Ainda que as abelhas selvagens sejam superiores às domesticadas, os produtores costumam usar os insetos de espécies comuns, em especial a Appis mellifera, mais fáceis de transportar e manejar. Essa estratégia, porém, não é adequada.

A introdução das comuns desequilibra o ecossistema. As selvagens são obrigadas a competir por comida e ficam expostas a doenças e pragas. Normalmente, uma população de abelhas é transportada inúmeras vezes, de um lavoura em lavoura.

O que acontece na Califórnia é exemplar da intensidade desse “tráfego de abelhas”. Todos os anos, cerca de 50 bilhões de abelhas são enviadas de todos os Estado Unidos para as plantações de amêndoa. Em fevereiro, 90% de todas as abelhas domesticadas americanas estão polinizando as amendoeiras californianas.

Terminando o trabalho, a maioria é transferida para as pradarias das Grande Planícies, uma faixa de terra, a leste das Montanhas Rochosas, e centro nacional da produção de mel. Os animais sobreviventes são levados então para polinizar as plantações de maçãs no estado de Washington.

Nesse périplo pelo país, os insetos ficam debilitados. Obviamente, não pulverizam com a mesma maestria daqueles criados na natureza. Tecnologias como as da BloomX, bem como as de outras agtechs, vêm para dar um pouco de sossego às abelhas.