Ele consegue trabalhar com 72 opções de ingredientes e os porciona à precisão milimétrica. Opera ainda até 24 variedades diferentes de toppings; de sementes e especiarias a molhos mais sofisticados. Ágil, é capaz de preparar oito refeições distintas ao mesmo tempo. Se deixar, serve 150 pratos por hora; 3 mil por dia.

Do prosaico ovo mexido ao elaborado frango ao curry, cozinha com maestria. Nada fica aquém ou além do ponto. Sobremesa? Pode escolher o doce. Enquanto os comensais terminam o último prato do menu, ele lava a louça. Outro grupo de convidados? Pode vir, ele aguenta. Recentemente, os clientes do aplicativo Lieferando elegeram seu restaurante como um dos melhores do delivery na Alemanha, seu país natal.

- Siga o canal do NeoFeed no WhatsApp

Se alguém quiser cumprimentar o chef pelo ágape recém-servido, três engenheiros virão receber os “parabéns”. “Ele”, na realidade, é um robô, fruto da criação de Hendrik Susemihl, Kevin Deutmarg e Philipp von Stürmer, fundadores da foodtech GoodBytz.

Fundada em 2021, em Hamburgo, cidade localizada no norte alemão, a empresa acaba de levantar € 12 milhões, em uma rodada de série A, liderada pelo fundo Oyster Bay Venture Capital, com participação de Capital Block Group. Com o recente aporte, o total financiado sobe para € 14,5 milhões.

O interesse dos capitalistas de risco pelo Robotic Kitchen Assistant, como o robô foi batizado, reflete a presença cada vez maior da robótica no preparo dos alimentos. Avaliado em US$ 1,7 bilhão, em 2020, o mercado global deve atingir US$ 4,4 bilhões, em 2028, evoluindo até lá a uma taxa anual composta de quase 13%, aponta a consultoria Verified Market Research.

Os robôs cozinheiros estão, por enquanto, concentrado nas cozinhas profissionais – cerca de 60% estão no ecossistema foodservice. Combinando inteligência artificial e internet das coisas (IoT), entre outras ferramentas emergentes, ajudam no combate ao desperdício e à contaminação dos alimentos. Ágeis, permitem aos restaurantes trabalhar com produtos frescos. E, com isso tudo junto, reduzem custos, enquanto aumentam a produtividade.

Extremamente precisas, as máquinas levam à padronização não só do sabor, aroma e textura dos pratos como também garantem o tempo de preparo dos alimentos – dois aspectos essenciais para garantir a boa experiência do cliente. Na Rob’s, primeira hamburgueria automatizada do Brasil, com sede em Curitiba, o robô leva 30 segundos, cronometrados, para montar um sanduíche. Nem mais nem menos.

A GoodBytz foi fundada pelos engenheiros Deutmarg, von Stürmer e Susemihl (da esquerda para a direita)
A GoodBytz foi fundada pelos engenheiros Deutmarg, von Stürmer e Susemihl (da esquerda para a direita)

Além disso, as máquinas vêm suprindo ainda a falta de mão de obra nos serviços de alimentação. Agravada na pandemia, a crise até deu uma arrefecida, mas nunca voltou aos níveis pré-coronavírus. Em alguns centros mais do que em outros, o problema tende a ser comum às grandes cidades, no mundo todo.

Em entrevista ao jornal de negócios alemão Handelsblatt, o CEO Susemihl diz que o Robotic Kitchen Assistant economiza até 80% dos custos com pessoal, sobretudo nos postos de tarefas repetitivas. Conforme os criadores da GoodBytz, os funcionários, antes lotados nessas funções, podem ser aproveitados em outras áreas, nas quais a presença humana é imprescindível.

Como podem trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semanas, os robôs podem funcionar como assistentes bastantes úteis, assumindo também a carga de trabalho extra. Mas a alimentação é um daqueles setores no qual o componente humano conta muito.

A comida não é apenas um amontoado de nutrientes, combustível para o bom funcionamento do organismo. Comida é história, cultura, memória e afeto.

Por trás de todo robô há sempre um chef de verdade, alimentando o sistema com suas criações culinárias. Alguns sistemas são capazes até de sugerir um menu, a partir de uma lista de ingredientes, mas as receitas, por enquanto, são bastantes básicas. As inovações mais surpreendentes continuam sendo obra do ser humano.

As máquinas mais avançadas impõem poucas restrições ao poder criativo dos chef humanos. O GoodBytz, por exemplo, cozinha sopas, mingaus, arrozes, carnes, massas, saladas, tortas salgadas e doces... Ele só não corta – por enquanto, dizem os fundadores da foodtech.

Outro diferencial do Robotic Kitchen Assistant é a facilidade e a rapidez com as quais os cozinheiros podem personalizar ou alterar uma receita. O CEO Susemihl, o COO Deutmarg e o CTO von Stürmer pretendem encerrar 2023 com 60 funcionários – são 35, atualmente. Para 2024, planejam aumentar esse número para 90.