Com o recrudescimento da crise climática, frente à degradação acelerada do planeta, os modelos tradicionais de análise de risco de desastres naturais estão se tornando obsoletos. No final de 2022, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), da ONU, soou o alarme.
Aquele fora o décimo ano consecutivo em que o calor global ficou, pelo menos, 1ºC acima dos patamares pré-industriais. Para 2023, a previsão é a de que as temperaturas subam entre 1,08ºC e 1,32ºC. Por causa do aquecimento da Terra, os eventos extremos tornam-se mais frequentes. E as ferramentas tradicionais se tornaram incapazes de prever o futuro.
Uma das startups do ecossistema climatech mais celebradas por pesquisadores, ambientalistas e capitalistas de risco é a espanhola Mitiga. Fundada em 2018, em Barcelona, a empresa acaba de levantar € 13,25 milhões, em uma rodada de série A. Com o aporte, o total financiado chega a € 17,5 milhões, nos cálculos da plataforma Crunchbase.
O investimento foi liderado pela Kibo Ventures, com participação do Microsoft Climate Innovation Fund, Nationwide Ventures, Faber Ventures e CREAS Impacto.
A Mitiga desenvolveu um sistema, baseado nas ciências físicas, inteligência artificial e computação de alto desempenho, para fazer a simulação matemática de risco para uma série de perigos climáticos.
Batizada AI Climate Equity, a tecnologia trabalha com diversas escala de tempo – do que acontece no momento da análise a previsões de curto prazo e anuais. A modelagem da climatech usa também dados sobre vegetação, dinâmica do clima e topografia locais. Do cruzamento dessas informações, nasce a avaliação de risco, o climate score.
Vantagem competitiva
A Mitiga opera no modelo business-to-business (B2B) e conta com cerca de 20 clientes em seu portifólio. São empresas com necessidades de gestão de ativos, como produtoras de energia, ou de serviços financeiros, como seguradoras, fundos de hedge, instituições imobiliárias e consultorias. A lista conta ainda com algumas entidades humanitárias, como a Cruz Vermelha.
Os fundadores da climatech Mauricio Hanzich e Alejandro Martí, atual CEO, trabalham com soluções ambientais há cerca de 20 anos. Eles eram pesquisadores do National Supercomputing Center, de Barcelona. A startup, aliás, nasceu de um spin-off do centro catalão.
Com vários prêmios internacionais, em 2020, a Mitiga foi convidada a participar do Startup Program da gigante de tecnologia. No ano seguinte, continuou com os programas Founder’s e Fast-Track. Até que, mais recentemente, em 2022, se tornou fornecedora de software independente para a Microsoft.
A experiência da equipe da Mitiga, segundo os analistas de mercado, é o que dá vantagem competitiva à empresa. Dos trinta integrantes, 40% têm, no mínimo, um doutorado.
O próprio Martí, formado em engenheira ambiental pela Fairleigh Dickinson University, nos Estados Unidos, tem um PhD em ciências e outro em matemática aplicada e, por dez anos, trabalhou para o governo americano, na elaboração da agenda climática.
“Temos a missão de evitar que as ameaças naturais se transformem em desastres e expandir os limites de como os riscos são gerenciados e mitigados”, disse o CEO, em comunicado. “Queremos tornar o mundo um lugar mais resiliente e seguro. E, para isso, chega de olhar para o futuro pelo espelho retrovisor.”
Crise climática, humanitária e econômica
No último levantamento sobre a emergência climática, divulgado no início do ano, Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, insiste com veemência na importância de se investir no monitoramento do clima e nos sistemas de alerta precoce para ajudar a mitigar os impactos do aquecimento global.
Secas, inundações, tempestades, furacões, incêndios florestais, ondas severas de calor, derretimento das geleiras, aumento do nível do mar são uma ameaça real à população e à economia mundiais.
Nos cálculos mais recentes da S&P Global, empresa americana de classificação de risco, até 2050, a crise climática pode causar uma perda de 4% da produção econômica global – US$ 100 trilhões, no ano passado.
Sofremos todos, em especial os mais pobres. Nos países de renda média e baixa, a queda no PIB será quase quatro vezes maior do que nas nações mais ricas.