A ilha de Fernando de Noronha assumiu o compromisso de neutralizar as emissões de carbono até 2050. Neste ano, a Pousada Maria Flor, dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, recebeu o selo BMV Global de sustentabilidade e se tornou a primeira hospedagem do arquipélago a zerar o impacto ambiental.
Assim como o empreendimento de Gagliasso e Ewbank, mais de 450 empresas, como a rede de cafés Starbucks ou a empresa de navegação marítima Sapura, adquirem Unidades de Crédito de Sustentabilidade (UCSs), uma commodity ambiental ESG registrada na B3 como CPR Verde que têm valor de safra, como arroz e trigo, por exemplo. Atualmente, existem 75,5 milhões de UCSs registradas na bolsa, cotadas em R$ 11 bilhões.
Emitidos de acordo com o projeto, sempre com valor acima de R$ 1 milhão, esses títulos verdes estavam restritos a empresas e investidores qualificados. Agora, a BMV Global lança uma plataforma digital para vender esses ativos de forma fracionada para pessoas físicas.
“Com a nova plataforma, a acessibilidade é para todo tipo de público, que pode comprar o token e ficar com a certificação ou esperar a valorização com o tempo”, diz Maria Tereza Umbelino, presidente e fundadora da BMV Global, em conversa com o NeoFeed.
Neste início, serão disponibilizados 1 milhão de títulos com um valor de mercado de R$ 150 milhões. Gagliasso, que começou a relação como cliente da BMV via B2B, entra como parceiro do novo negócio. Ele será também o influenciador que vai explicar o mercado de créditos da biodiversidade para o B2C.
“Sou um entusiasta convicto da temática e decidi me juntar à BMV para fazer algo que vai impactar a vida do máximo de pessoas. Um dos pontos que mais chamou a atenção é que a plataforma vem para democratizar o acesso às UCSs também para o consumidor final”, diz Gagliasso ao NeoFeed.
Para viabilizar a UCS para o público geral, com valores a partir de R$ 1, a BMV criou uma nova empresa, a startup Mundi, que será responsável pela tokenização dos ativos gerados pela conservação da biodiversidade.
“Simplificar a aquisição na plataforma aproxima a UCS de uma característica comum aos ativos digitais tokenizados”, diz Alessandra Umbelino Brandão, cofundadora da BMV Global e agora CEO da Mundi.
No mercado, outras startups fazem algo semelhante, mas concentradas no mercado de crédito de carbono. Dois exemplos são climatech Moss, que também tokenizou o ativo para o consumidor final, e a Carbonext, que desenvolve projetos na Amazônia Legal e vende os créditos gerados pela proteção de áreas que seriam devastadas para empresas ou pessoas física.
A diferença entre elas e a BMV é que o carbono é um dos elementos dentro de um "pacote" que leva em conta a conservação da biodiversidade e a preservação da fauna e flora nativas.
Tecnologia para fazer da floresta um ativo
A certificação criada pela BMV, acrônimo da greentech Brasil Mata Viva, é uma tecnologia proprietária criada por Maria Tereza. Economista de formação, ela desenvolveu a metodologia de mensuração da biodiversidade de uma floresta.
O projeto foi lançado na COP 16, que ocorreu em 2010 em Cancun, no México. Na 26ª edição da COP, em 2021, a UCS foi considerada a melhor tecnologia de preservação de mata nativa para apoiar o equilíbrio climático.
O processo todo da UCS começa com os produtores rurais. Como eles são obrigados a manter e custear áreas de preservação ambiental em propriedades privadas, Maria Tereza enxergou um potencial de preservar a floresta.
“Como o custo de preservar a floresta é alto, nossa ideia foi remunerá-los como se essa floresta tivesse valor de safra”, afirma ela.
Atualmente, mais de um milhão de hectares de mata nativa estão preservados, em sete núcleos do BMV: Xingu, Teles Pires, Madeira, Arinos, Amapá, Roosevelt e Guariba, nos estados do Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. E mais de 230 produtores rurais fazem parte do programa.
Dentro de cada UCS, que utiliza a tecnologia blockchain para garantir a rastreabilidade do título emitido, há 27 itens relacionados à biodiversidade. Para ser uma unidade de monetização, é realizado um processo por equipes que visitam o local e checam as informações via satélite garantindo o inventário e a valoração das áreas.
Pela modelagem desenvolvida pela agtech, o Brasil necessitaria de R$ 14 bilhões para fazer a equivalência de preservação, mas só há R$ 8 bilhões disponíveis em vegetação no País em condições de atender esse mercado.
O cálculo é que cada indivíduo precisaria adquirir 3 UCSs por ano para fazer a sua equivalência da pegada ambiental. “Há um estoque limitado e isso significa que o Brasil nem poderia exportar”, diz a CEO da BMV Global. E para o comprador, tudo que pode ser escasso tem um potencial de valorização.