Nos últimos anos, de modo a reduzir o impacto negativo da indústria de alimentos sobre o meio ambiente, inovadores dos ecossistemas agtech e foodtech dedicam-se a criar ferramentas que meçam a pegada de carbono das operações ao longo de toda a cadeia agroalimentar - dentro e fora da porteira.

Sediada em Paris, a Carbon Maps, no entanto, é diferente. Recém-fundada por três veteranos do setor, Patrick Asdaghi, Jérémie Wainstain e Estelle Huyhn, a startup avalia o impacto ambiental dos produtos e não das empresas, o foco da maioria das concorrentes, como a também francesa Greenly, as americanas Persefoni e Watershed ou a inglesa Foodsteps.

A inovação francesa despertou o interesse dos capitalistas de risco e garantiu, no final de fevereiro, poucas semanas depois do lançamento da foodtech, um aporte de US$ 4,3 milhões, em uma rodada seed, capitaneada pelos fundos europeus Breega e Samaipata.

A partir de modelos matemáticos baseados em data science e inteligência artificial, a plataforma da Carbon Maps, batizada GreenTech, coleta e analisa as informações sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE) de um determinado produto alimentício, em todas as etapas de sua produção, dos agricultores aos consumidores.

Dos cálculos, emergem dados não apenas sobre a pegada de carbono, mas também sobre o seu impacto na biodiversidade, no uso da água, na qualidade do solo e no bem-estar animal. Com base nessas informações, todos os envolvidos na cadeia, produtores, cooperativas, marcas e distribuidores, podem definir com mais precisão a estratégia climática de suas operações.

Carbon Maps fundadores
Os fundadores da Carbon Maps Jérémie Wainstain, Estelle Huynh e Patrick Asdaghi (da esq. à dir.)

“A abordagem vertical da Carbon Maps é uma virada de jogo”, define François Paulus, presidente e cofundador da empresa francesa de VC Breega. Como diz Asdaghi, as marcas de alimentos estão sob pressão crescente dos consumidores e reguladores, na construção de um futuro mais limpo e inclusivo.

O cerco regulatório está cada vez mais apertado, sobretudo na Europa. Com algumas das mais avançadas legislações ambientais do mundo, os países europeus avançam rápida e consistentemente na criação de normas para a redução das quantidades de GEE lançadas na atmosfera.

A União Europeia está trabalhando na criação de um padrão que determine a pegada ambiental dos produtos. A partir dessa classificação, cada nação cria seu próprio sistema de pontuação ambiental. Até o final do ano, deve entrar em vigor na França o E-Score, uma nova rotulagem para alimentos, conforme o impacto de cada um deles na natureza.

Cuidado com a pegada

Elaborada pela Agência Francesa de Meio Ambiente e Gestão de Energia e prevista na Lei de Clima e Resiliência, a escala varia da nota A (produto de baixa pegada ecológica) à E (alta pegada ecológica). A ideia é ajudar o consumidor a fazer escolhas mais acertadas, menos prejudiciais ao meio ambiente.

“O elemento-chave na nova pontuação é que ela trará algumas diferenças dentro de uma mesma categoria de produto porque os ingredientes e métodos de cultivo são diferentes”, diz Asdaghi. “Se você olha, por exemplo, para a carne moída, é muito importante saber se os agricultores estão usando soja do Brasil ou capim para alimentar o gado.”

O trabalho ao qual os fundadores da Carbon Maps se autoimpuseram não é fácil. As cadeias de suprimentos e produção de alimentos, em geral, são longas e envolvem vários players. Idealmente, todos os envolvidos em cada uma das etapas deveriam medir sua pegada ambiental. Como, frequentemente, alertam os analistas de mercado, a transparência nos negócios garante a sustentabilidade, a resiliência e a produtividade dos sistemas agroalimentares.